Dark Ark – Volume 1 (2018)

4.5
(2)
Dark Ark - Volume 1
Original:
Ano:2018•País:EUA
Páginas:120• Autor:Cullen Bunn, Juan Doe•Editora: AfterShock Comics

“O Senhor ordenou a Noé que construísse uma arca na qual sua família e ‘tudo o que vive, de toda a carne’ fossem salvos do Dilúvio. As águas do Dilúvio destruíram os iníquos e todas as criaturas que viviam na terra, exceto as que estavam na arca. ” (Gênesis 6:19)

O Mito bíblico de Noé é uma das histórias mais conhecidas da humanidade por suas inúmeras representações artísticas ou aparições em diferentes mídias, e, por tal razão, se torna um já bem fundamentado campo de referências, provendo assim a base para propor contos complementares ou ainda alternativos. Fazer disso algo interessante ou ainda palatável é “outros quinhentos”.

Cullen Bunn decidiu fazê-lo com apoio da editora AfterShock em uma aposta corajosa por onde uma outra arca navegava o mesmo dilúvio que o de Noé, porém infestada de uma sorte de bestas advindas dos mais variados pesadelos humanos: vampiros, gárgulas, manticoras, lobisomens, demônios dentre outros. Tudo isso sob as ordens de Satã.

Dezra, gárgula, cruza os ares trazendo a informações da outra arca: poderia ser saqueada e seus membros servirem como estoque vivo para os exilados da arca de Shrae, o feiticeiro e seu atual capitão. O lamento de Dezra não encontra aprovação em Shrae mesmo que pareça sintetizar o sentimento de desespero e uma crescente ameaça de estiagem e fome para as criaturas no porão.

Logo nos primeiros diálogos como a de Maldroom ao casal de unicórnios(?!) sobre demonstrar fraqueza mediante situação tão lamentável já se dá a ideia da natureza cruel e bestial sem espaço para compaixão e essa tônica pontua a pressão desesperadora que se encontram todos que ocupam espaço nesta arca.

O roteiro desenha as linhas das tensões e costura algumas narrativas que podem ser traçado um paralelo, hora acompanha Janris e o lamento dos “sobreviventes” humanos, até a da própria família de Shrae que pouco sabe sobre os escusos negócios, e ao que tudo indica providenciaram a oportunidade de sobreviver ao dilúvio na arca, pelo menos até agora.

Cullen descreve uma angustiante viagem – ninguém, absolutamente ninguém – está confortável com a situação, momentos como um simples passeio a proa da Arca exibe um claustrofóbico céu, enquanto no restante dos quadros há uma hostilidade constante. Mesmo Shrae, o nosso link mais humano, não nos deixa esquecer que há algo além do que sabemos justificando toda aquela dor.

Ainda sobre o diálogo as criaturas são seres de uma inteligência plausível e sustentam embates de poder equilibrando argumentos entre a lei natural e a posição social. Aqui e ali resultando doses cavalares de sangue e estranhas – fazendo jus a certas narrações de onde essa história alternativa surgiu.

Obviamente grande mérito dessa sensação vem do traço de Juan que fez das criaturas borrões de sombras e maldade, o design das raças que empenham papéis mais protagonistas são mais plausíveis do que a grande “maçaroca” monocromática das demais. Por outro lado, ele usa bem as cores para demarcar os limites do divino e profano, vulgar e mágico.

São esses os elementos que destacam Dark Ark um pouco acima de obras similares: é a capacidade de dialogar com o leitor mais maduro sustentando o fantástico como meio e não fim; reviravoltas interessantes não tão óbvias e pouco forçadas. Um verdadeiro alívio uma vez que, como descrito pelo autor na introdução desta edição, sua intenção inicial fosse um sketch de comédia o mesmo tenha mudado de ideia à medida que desenvolvia a história.

A edição da qual estou baseando o texto é a Forty Nights Volume 1, compreendo 5 números lançados pela AfterShock no período entre setembro de 2017 e janeiro de 2018. Contando como conteúdo extra as capas alternativas de cada uma dos números publicados anteriormente.

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Ed "Toy" Facundo

Cearense nascido e criado na capital, apaixonado pela ideia de dar vidas aos seus brinquedos ou resolver intrigantes configurações do lamento - talvez esteja em um copo de cerveja - e vocalista da banda de death/thrash metal Human Heritage. Veio à Newcastle (Upon Tyne) em busca daquilo que traumatizou Constantine e sobrando tempo para exercer sua profissão de desenvolvedor de jogos.

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