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Livros de Sangue - Volume 2
Original:Books of Blood – Volume 2
Ano:2021•País:EUA
Autor:Clive Barker •Editora: Darkside Books

Inusitado, desconfortável, grotesco, instigante, repulsivo e impressionante. Esses são alguns adjetivos que melhor descrevem as obras de Clive Barker e, em especial, a coletânea Livros de Sangue.

No Volume 1 fomos introduzidos a esse mundo de horrores inimagináveis contados através de carne e sangue, fomos apresentados a narrativas perversas, histórias perturbadoras, imagens chocantes demais para serem processadas pelo cérebro humano, coisas tão horripilantes que acabam sendo fascinantes.

Mas essa macabra viagem não para por aí. Graças à parceria da Darkside Books com a Macabra TV, ainda temos uma longa jornada explorando os contos concebidos pela mente brilhante e absurda de Barker.

No segundo volume de Livros de Sangue – dessa vez composto por cinco contos e com tradução de Paulo Ravieri e introdução de Bruno Ribeiro – novamente a primeira história nos mostra o caminho que será seguido ao longo de todo o livro. Aqui, abriremos as portas do mais profundo pavor intrincado em cada ser. O pavor que enlouquece, transforma e, por que não, até mesmo mata.

Não é à toa que o nome do primeiro conto é simplesmente Pavor. Nele, conhecemos Quaid, um rapaz obcecado pelo medo, e Stephen, um jovem universitário comum que acabou virando amigo de Quaid por acaso do destino. Suas conversas giravam em volta de filosofias, com um humor peculiar e inteligência aguçada, o jovem universitário foi fisgado por aquele misterioso cidadão.

Clive Barker explora a sensação de mais puro pavor de forma claustrofóbica e agoniante. Acompanhamos pessoas perdendo pouco a pouco sua humanidade em um experimento à primeira vista inocente, mas que acaba se tornando monstruoso. Você conseguiria enfrentar seu medo mais brutal e sair são desse confronto? Seu medo pode te transformar a ponto de você virar o medo de alguém?  Barker nos dá um pequeno vislumbre do que pode acontecer quanto nossos limites são testados e ultrapassados de forma chocante.

Em 2009 o conto ganhou uma adaptação cinematográfica chamada Lentes do Mal.

Já em Corrida do Inferno temos algo um pouco mais clássico: demônios tentando invadir e conquistar a Terra, só que de uma forma um pouco diferente. Uma corrida aparentemente beneficente pode decidir o futuro da humanidade. Enquanto os atletas correm, os bastidores demoníacos estão em polvorosa mexendo os pauzinhos para enfim acabar com o mundo.

É um conto onde os horrores acontecem por baixo dos panos e vai crescendo à medida que a chegada se aproxima, até que visões perturbadoras tomam conta, fazendo com que o medo (olha só ele aí de novo) tome conta dos presentes de forma assustadora e irreversível.

O Testamento de Jaqueline Ess é uma história muitíssimo interessante que desafia os padrões vigentes se levado em conta a época na qual foi escrita. Que mulher nunca quis calar seus abusadores ou homens que a subestimam a troco de nada? Pois bem, aqui, temos isso levado a outro nível, até mesmo ao pé da letra, com o selo Clive Barker de horror de qualidade.

A protagonista é uma mulher cansada de não ser ouvida, frustrada, cansada de sua vida. Até que decide encerrá-la.

Não só sua tentativa de suicídio deu errado, como teve que lidar com um médico prepotente que disfarçava sua condescendência com simpatia e compaixão forçadas, alegando que era normal “mulheres daquela idade” terem tais rompantes e tratando-a como se fosse apenas um objeto quebrado. Aquilo irritou Jaqueline de tal forma que foi como se uma chave tivesse virado dentro de si. Ela começou a imaginar o detestável médico como uma mulher, só assim ele entenderia o que se passa na cabeça dela, não é mesmo? Focada, imaginou a carne se rompendo e se transformando, até que de repente se deparou com sangue por todo o canto, entranhas pelo chão, o corpo do médico deformado. Ali, Jaqueline descobriu que era especial, e nunca mais ficaria presa ou homem algum a rebaixaria novamente sem ter o que merece.

As cenas descritas são extremamente visuais nos mínimos detalhes. Até mesmo imaginar um ser humano sendo dobrado até ficar do tamanho de uma maleta é completamente plausível graças à habilidosa escrita de Barker e seu dom para descrever vísceras emaranhadas. Todos os personagens que cruzarem o caminho de Jaqueline conhecerão a obsessão e o medo desmedidos.

Enquanto nos contos anteriores os horrores foram cometidos por humanos (exceto em Corrida do Inferno), aqui em A Pele dos Pais temos a presença das insanas criações de Barker, tão repugnantes e esplêndidas que poderiam ter saído de algum conto de horror cósmico.

Aqui, tais criaturas parecem não se importar com a insignificância humana, e sim festejar e buscar sua cria deixada para crescer com uma amorosa mãe e um abusivo pai. É claro que o avistamento de tais monstros deixa a pequena cidade apreensiva, com medo do desconhecido, de serem mortos, do fim do mundo. Seus habitantes resolvem partir para a violência, e nem é preciso dizer que essa é uma péssima ideia. O desfecho é estranhamente satisfatório.

O último conto é uma homenagem a Edgar Allan Poe, grande influência do autor. Novos Assassinatos da Rua Morgue é quase uma continuação do clássico Assassinatos na Rua Morgue, com uma pitada a mais de sangue, horrores e depravação que deixaria Poe emocionado.

O protagonista afirma ser neto de Auguste Dupin, detetive do conto original, e conta para todos sobre as aventuras de seu avô, afirmando que todas são verdadeiras. De fato, tão verdadeiras que ele vai desejar nunca ter feito tal afirmação e, quem sabe, ser poupado do que o espera.

Barker fecha o segundo volume de Livros de Sangue nos deixando com um sentimento de choque e incredulidade. Tanto pelas histórias sangrentas e aterrorizantes quanto pela capacidade de sua incrível mente criativa de produzir narrativas tão intensas e viscerais.

Se o Volume 1 de Livros de Sangue é imperdível, esse é absolutamente necessário.

A estrada dessa viagem ainda é longa, e estamos prontos para a próxima exorbitante parada.

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