Yellowjackets - 1ª Temporada
Original:Yellowjackets - First Season
Ano:2021•País:EUA Direção:Karyn Kusama, Deepa Mehta,Jamie Travis,Jamie Travis,Ariel Kleiman,Eduardo Sánchez,Daisy von Scherler Mayer Roteiro:Ashley Lyle, Bart Nickerson, Katherine Kearns, Liz Phang, Liz Phang, Sarah L. Thompson, Chantelle Wells, Cameron Brent Johnson Produção:Ashley Lyle, Bart Nickerson, Jonathan Lisco, Drew Comins Elenco:Melanie Lynskey, Tawny Cypress, Christina Ricci, Juliette Lewis, Warren Kole,Sophie Thatcher, Sophie Nélisse,Ella Purnell |
Em meio a uma enxurrada de novos produtos audiovisuais lançados quase que semanalmente por diferentes serviços de streaming, não é difícil que alguns deles passem despercebidos pelo olhar do grande público, ainda mais quando chegam sem muita divulgação. É o caso de Yellowjackets, nova série da ShowTime, exibida aqui no Brasil pelo serviço de streaming Paramount+. E mesmo que a série tenha chegado de fininho, podemos dizer que ela é sem dúvidas uma das grandes surpresas de 2021.
Com um mistura de terror psicológico, sobrevivência e referências que vão desde Senhor das Moscas à até mesmo Lost, Yellowjackets sabe conduzir seus mistérios como poucas obras dos últimos anos e ganha forças por apresentar personagens únicas, cheias de personalidade e que nos motivam a mergulhar cada vez mais nas tramas dessa história.
Em Yellowjackets somos apresentados a duas linhas temporais distintas, mas com as mesmas personagens: a primeira delas em 1996 apresenta o grupo de futebol feminino do ensino médio em seu auge. Talentosas e confiantes, o time das garotas garante uma vaga para o campeonato nacional mas tem seu sonho interrompido por um grave acidente de avião que resulta com que elas fiquem presas e isoladas na floresta. Então, somos levados até 2021 onde encontramos quatro dessas garotas – agora adultas – lidando com diferentes traumas.
Shawna (Melanie Lynskey) tem um casamento pra lá de conturbado com Jeff (Waren Kole) e uma relação não muito amistosa com sua filha adolescente. Taissa (Tawny Cypress) tem que lidar com seus traumas de infância e adolescência enquanto tenta concorrer para o cargo de senadora, Misty (Christina Ricci) é um cuidadora de idosos com uma necessidade de controlar tudo ao seu redor e Natalie (Juliette Lewis) está saindo da reabilitação e tentando exorcizar seus demônios pela última vez.
Apesar de intercalar bastante entre as duas linhas do tempo, Yellowjackets sabe manter o seu ritmo sem se perder e principalmente sabendo equilibrar bem seus dois períodos. Entender o que aconteceu com essas garotas no passado se torna uma parte essencial para compreender o que as leva a tomar determinadas atitudes no presente, conseguindo trazer um andamento bastante consistente para a série.
É justamente essa vontade de entender os eventos como um todo que motivam o espectador a seguir em frente em Yellowjackets ansioso pelo o que o próximo episódio pode revelar. E é aqui que a série tem seu ponto mais forte: existe uma inteligência por parte do excelente texto de Ashley Lyle e Bart Nickerson, que sabem mexer com a nossa expectativa como telespectador, fazendo com que muitas vezes a construção dessas personagens tenha um valor maior do que a própria resolução e resposta desses mistérios, tornando a “jornada” de Yellowjackets uma experiência única.
E mesmo que acompanhemos apenas quatro dessas garotas no presente, a série chama atenção pela sua ótima construção de personagens. Todo time de futebol feminino tem uma importância muito grande para a trama, fazendo com que suas coadjuvantes sejam tão fortes quanto suas personagens principais. É interessante observar também o amadurecimento das garotas em meio a desvantagem da natureza, existindo um cuidado por parte do roteiro para exaltar a força delas, jamais as tratando como frágeis ou sensíveis, mas sim como decididas e certas de suas atitudes, mesmo quando elas parecem tão absurdas.
Apesar de se tratar de uma série bastante focada na sobrevivência e traumas psicológicos, Yellowjackets ainda consegue deixar espaço aberto para o sobrenatural – ainda que não explique muito sobre – mas existe uma presença pairando pelo ar por quase toda série, o que consegue tornar as coisas ainda melhores.
A série mantém um bom ritmo em boa parte de seus episódios, mas peca por algumas resoluções um tanto quanto simples para mistérios que pareciam mais interessantes de início. Fica a impressão de que a série levantou tanto pontos que se tornou impossível fechar todos eles de maneira coesa, o que pode decepcionar um pouco aqueles que estavam mais intrigados com alguns elementos centrais da trama – principalmente aqueles que se passam no presente. Mas não é nada que chegue a prejudicar a obra como um todo.
Yellowjackets é sem dúvida uma surpresa bastante agradável para o fã do gênero. Existe algo ali para todo mundo, desde quem busca uma dose de nostalgia pela década de 90 até o fã que estava órfão de uma série semanal que o fizesse passar a semana ansioso pelo próximo episódio. O que nos resta agora é esperar pela segunda temporada (já confirmada pelo ShowTime e com previsão de estreia para o final deste ano) e torcer para que Yellowjackets possa continuar a seguir seu bom ritmo e criar cada vez mais espaço no coração do fã de horror.