Outer Range – 1ª Temporada (2022)

4.4
(5)

Outer Range - 1ª Temporada
Original:Outer Range - First Season
Ano:2022•País:EUA
Direção:Jennifer Getzinger, Alonso Ruizpalacios, Amy Seimetz, Lawrence Trilling
Roteiro:Brian Watkins, Zev Borow, Dominic Orlando, Lucy Thurber, Naledi Jackson
Produção:Trevor Baker, Andrew Balek, Naledi Jackson, Lucy Thurber
Elenco:Josh Brolin, Imogen Poots, Lili Taylor, Tom Pelphrey, Tamara Podemski, Noah Reid, Lewis Pullman, Shaun Sipos, Olive Abercrombie, Will Patton

Outer Range, série cuja primeira temporada já está integralmente disponível na Amazon Prime, não vem causando o frisson que poderia ou mereceria. Trata-se de uma mistura de drama familiar, ficção científica, thriller de suspense e reflexões filosóficas embaladas num tipo de western contemporâneo que, à primeira vista, pode parecer indigesta mas que foi feita de forma tão competente que o produto final é ótimo.

A trama foca na família Abbott, cujo pai, Royal (Josh Brolin), homem rude do campo de poucas palavras e que guarda um segredo do passado, encontra no pasto de sua fazenda um buraco, que pode inicialmente ser uma conexão com outras linhas do tempo ou dimensões paralelas. Faz parte desse clã a esposa (Lili Taylor, ótima no papel), que é o pilar de sustentação e do delicado entrosamento da família, o filho mais velho Perry (Tom Pelphrey), cuja esposa desapareceu misteriosamente deixando a filha para trás, e o mais jovem Rhett (Lewis Pullman), às voltas com uma competição de rodeio e a decisão de deixar a pequena cidade onde vivem.

Além do mencionado buraco, os atritos com a abastada família vizinha (participação pequena de Will Patton, mas que rouba a cena toda a vez que aparece como o patriarca Wayne Tillerson), a disputa de uma faixa de terra e a chegada de uma visitante meio hippie (Imogen Poots) irão desencadear situações bizarras cheias de tensão, mas também outras mais reflexivas sobre família, perda e, principalmente, sobre a vida.

Essa vertente existencial ressoa sobre toda a série, desde o desenvolvimento dos personagens até nas situações propostas. A questão do propósito da existência humana, das escolhas que fazemos e da responsabilidade sobre os atos praticados são importantes para entender a motivação desses núcleos familiares.  Em determinado ponto Royal se abre numa prece antes da refeição à mesa do jantar, num momento avassalador que coloca em cheque as crenças aceitas e a própria existência de um sentido para a vida.

Diante desse quadro é preciso ter personagens bem desenvolvidos, coisa que o roteiro consegue fazer com maestria. Desde os núcleos familiares até a xerife lésbica indígena às voltas com todo tipo de preconceito, todos merecem e têm atenção ao longo da história.

Aliás, todo o elenco está muito bem, com destaque para Josh Brolin, que, além de protagonista, é o produtor da série junto com Brad Pitt. Revelado em Os Goonies (1985), o ator construiu uma carreira sólida no cinema americano, trabalhando com grandes diretores como Joel e Ethan Coen (Onde Os Fracos Não Tèm Vez – 2007), Denis Villeneuve (Sicário – 2015) e Ridley Scott (O Gângster – 2007), somente para citar alguns. A atuação do ator é um show à parte na série, já que faz um trabalho minimalista, discreto e, apesar de algumas atitudes reprováveis de seu personagem, torcemos por ele e entendemos suas motivações, em grande parte pelo carisma e competência do ator.

Alguns pontos negativos: são muitas as pontas soltas deixadas ao final da temporada, o que pode aborrecer quem gostaria de um fechamento quadradinho para a história (ganchos para uma eventual segunda temporada) e um clima fatalista por vezes exagerado. Há um tantinho de um humor esquisito, mas nada que impeça o prazer de assistir e de se envolver completamente (depois do segundo episódio o leitor certamente já estará fisgado).

Outer Range não é um entretenimento leve (ao contrário), talvez ainda precise mostrar claramente a que veio, mas tem um baita potencial para se tornar um clássico do gênero. É instigante e original, o que hoje em dia é admirável no meio de tanta produção derivativa sem qualquer coragem em ousar.

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Ricardo Gazolla

Formado em Direito e trabalhando no setor privado, apaixonado por cinema desde a infância quando assistiu Os Goonies (1985) na tela grande. Sua predileção pelo horror começou um pouco depois ao conhecer em VHS A Hora do Pesadelo (1984), Renascido do Inferno (1987) e A morte do demônio (1981). Desde então o cinema se tornou um hobby, um vício socialmente aceito, um objeto de estudo, um prazer público e, agora, no site Boca do Inferno, uma forma de comunicação com as pessoas.

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