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O Ladrão da Eternidade
Original:The Thief of Always
Ano:2006•País:EUA
Páginas:148• Autor:Clive Barker, Kris Oprisko, Gabriel Hernandez Walta•Editora: Pixel Media

Clive Barker: onde quer que esse nome figure na autoria de alguma obra, é sinal de atenção para diversos leitores de que ali poderá ter uma genuína poesia imagética de sua transgressora e visceral forma de arte. Autor este responsável por alguns ícones que já permeiam a cultura pop de horror com personagens de obras como Hellraiser e Cabal. Mas o que Barker já deixou claro: não respeita limites. Resolveu, assim, materializar um desejo antigo de escrever um conto juvenil, com as limitações naturais que isso carrega, sobre um dos monstros que mais açoita e perturba diversos jovens do mundo: o tédio. Caso seja de desejo pleno, você está convidado à Casa de Férias.

Harvey Swick, um adolescente como qualquer outro que, “enclausurado” na limítrofe idade entre o início da fase adolescente e do fim da infância, lamuria-se do tédio e falta de aventura em uma vida pacata de uma família de classe média, não importando de fato onde geograficamente está, uma vez que esta “besta cinzenta“, o tédio, estende democraticamente seus tentáculos para todas as crianças igualmente. Dramático como as associações desproporcionais de sua mente juvenil – com toques de insanidade -, deseja que algo lhe “salve a vida” antes que morra deste mal.

Sem uma explicação formal, em  tons de fadas madrinhas dos contos pueris, uma criatura humanoide, um homem por assim dizer, adentra em seu quarto lhe inquirido se ali de fato é a casa de um garoto chamado Harvey Swick. Seu nome é Rictus e ele tem um proposta irrecusável a Harvey para que o garoto lhe salve do fim temido.

É então que a história se desenvolve em capítulos curtos – por opção do próprio autor, como descrito em entrevistas publicadas acerca da obra – e que nos leva a conhecer a Casa de Férias, um lugar tranquilo e aparentemente mágico onde todas as estações do ano passam em um único dia. São apresentados também os companheiros de farras de Harvey: Wendell e Lulu – dois rascunhos arquétipos de jovens da idade, no entanto atemporais -, assim como os outros psicodélicos seres que ocupam a casa e fazem parte da mesma “ninhada” de Rictus: Jive, Marr, além de Carna, que alimenta boatos temerários sobre si. Além, é claro, da dócil “governanta“, a Sra. Griffin.

Clive escreve de forma generalista dando “os pingos nos is”, apenas pontuando a psicologia de seus personagens para que entendamos seus desejos e medos, não situando-nos na linha do tempo à qual os personagens pertencem. Intencional também como o mesmo descreve no material extra que acompanha a revista – parabéns à equipe responsável por essa edição brasileira -, mas isso não nos deixa apáticos com os personas, pelo contrário, torna-se fácil atribuir-lhes rostos mundanos, humanos, nossos ou conhecidos aos papéis, tornando a narrativa mais intimista por indução. Talvez mais trabalhoso para Kris Oprisko em transformar o formato escrito por Barker para o formato da HQ, apesar da experiência anterior de Barker com a mídia, ainda assim um trabalho desafiador nesse argumento. Mas Kris também não é nenhum novato: já tendo trabalhado entre 95 e 99 na Wildstorm, veio fundar tambéma  Idea and Design Works e sua famosa e lucrativa subdivisão IDW Publishing, responsável pela publicação desta obra divida em 3 números lá fora (Clive Barker’s the Thief of Always: Book 1, Clive Barker’s the Thief of Always: Book 2  e  Clive Barker’s the Thief of Always: Book 3), assim como também trabalhou na graphic novel Metal Gear Solid Volume 1 . A abordagem do bizarro de forma direta, sem impactos alucinatórios e até com um tom cronista, faz o leitor de HQs como Fábulas se sentir em casa.

Quanto à arte gráfica, ela ficou a cargo de Gabriel Hernandez Walta, que veio a ter uma longa parceria com Kris Oprisko em outras obras à frente, tendo seu trabalho inicial com as séries Covert Vampiric Operations, pela IDW, e depois alguns para a Marvel e DC. O traço de Hernandez é de linhas retas, finas, e brinca com proporções, além de dar alguns toques ao ambiente de uma certa caricatura – lembra Scottie Young (Oz), porém mais rudimentar. Definitivamente um traço limpo para uma geração não Jim Lee, porém não tão limpa e chapada como a Disney. As cores pastéis, trabalho da Sulaco Studios, deram um tom excelente ao onírico sóbrio ao invés de cores festivas e chamativas demais – o que não chegaria a ser um problema para o leitor mais juvenil, mas agradou em cheio o público adulto também.

Lilian Toshimi, letrista experiente que tem trabalhos com a Martins Fontes e a Escala, encarregada pela versão brasileira, fugiu um pouco do tradicional monótono ao empregar diferentes cores aos balões para diferentes personagens não-humanos – recurso bem desenvolvido por algumas HQs da Vertigo -, sem recorrer a tipografias mais bizarras. Um único problema foi a utilização de uma letra cursiva e alongada demais nos recordatórios, o que às vezes dificultava a leitura quando as cores de fundo estavam em um degradê de pouco contraste com a cor da letra.

O Ladrão da Eternidade é sem dúvida um prato cheio para quem gosta de minisséries como Mansão dos Segredos, Bruxaria e Coraline. Historietas fechadas em uma rapsódia curta, porém de mágicos e intensos momentos.

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