Ataque dos Morcegos (2005)

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Ataque dos Morcegos
Original:The Roost
Ano:2005•País:EUA
Direção:Ti West
Roteiro:Ti West
Produção:Susan Leber
Elenco:Tom Noonan, Karl Jacob, Vanessa Horneff, Sean Reid, Wil Horneff, Barbara Wilhide, John Speredakos, Larry Fessenden, Graham Reznick

Recentemente Ti West atraiu olhares para seu novo filme, X, um slasher sobre gerentofobia e religiosidade, feito quase que dez anos depois de sua contribuição ao gênero com O Último Sacramento (2013). O diretor era uma promessa entre os fãs de horror após ter feito A Casa do Diabo, Cabana do Inferno 2, Hotel da Morte, além de segmentos de antologias como V/H/S e O ABC da Morte, e episódios de séries de TV: Wayward Pines, O Exorcista, Outcast e The Chambers. Com fãs e detratores na mesma proporção, vale como curiosidade conhecer seu primeiro longa-metragem, Ataque dos Morcegos (The Roost), lançado em 2005, que trazia lampejos de criatividade a uma produção de baixíssimo orçamento.

O longa começa como uma homenagem aos filmes de terror que tinham “anfitriões“, personalidades do gênero que apresentavam a sessão, caracterizados em uma ambientação macabra – as maiores referências são Elvira e Zé do Caixão no CineTrash, da Band. Em preto e branco, o anfitrião (Tom Noonan) do programa Frightmare Theatre caminha por um cenário de terror pobre, com bonecos e esqueletos brancos, enquanto comenta o filme que será exibido a seguir, The Roost. A sequência é um pouco longa, mas diverte por remeter a A Hora do Espanto e antigas antologias do gênero. Fico pensando por que Ti West não deu continuidade a essa série, realizando outros filmes com a mesma estrutura!

O filme então começa com quatro jovens em um carro à noite a caminho do casamento de um tal Mike. Com a baixa iluminação e uso de lâmpadas vermelhas e uma filmagem “suja“, a sequência já deixa entender que se trata de uma homenagem ao cinemão dos anos 70, embora se passe nos dias atuais. Trevor (Karl Jacob), Allison (Vanessa Horneff), Brian (Sean Reid) e Elliot (Wil Horneff) conversam sobre o tal amigo, o casamento e outras bobagens, enquanto em outro lugar um casal de idosos se prepara para sair de sua morada rural. O senhor (Richard Little) escuta barulhos no celeiro, e entra para a escuridão do ambiente, seguido posteriormente por sua esposa (Barbara Wilhide).

Pouco depois, enquanto escutam no rádio um programa de Halloween, o veículo dos jovens é “atacado” por um morcego e sai da estrada. Sem condições de continuar no percurso, ele partem em busca de abrigo e encontram a morada dos idosos. Depois que se separam para buscar ajuda, o terror realmente começa. Ataques de morcegos os deixam presos no celeiro, sem que saibam que existe uma ameaça consequente: as vítimas das criaturas estão retornando como vampiros, zumbis ou os dois ao mesmo tempo, e todos os que são feridos acabam se contaminando. Assim, os sobreviventes terão problemas com um policial (John Speredakos) que veio ajudar e se tornou vítima, além dos idosos e dos amigos feridos.

Como se percebe, o título em português não representa exatamente a proposta do filme. Não se trata de um filme apenas sobre morcegos, mas os primeiros acordes do que poderia ser um terror apocalíptico. Apesar da ideia, a realização realmente compromete o resultado: ainda que seja compreensível o formato e as homenagens ao cinema Z de outrora, o longa até que mostra bons efeitos com os ataques das criaturas e da maquiagem dos zumbis, o que gera uma contradição estilística. Se era para passar uma ideia de filme feito nos anos 70, deveria ter usado essa vestimenta o tempo todo, com morcegos feitos com bonecos e zumbis cinzas. E as atuações também são horrorosas, com demérito para Vanessa Horneff, em seu único papel da carreira. Ela mantém a mesma expressão durante o filme inteiro, sem deixar transparecer se está chateada, incomodada, satisfeita…

Também incomoda o próprio roteiro de Ti West. Se por um lado, é interessante a ideia de interromper o filme em um momento de melodrama para a aparição do anfitrião, já deixando claro que vai avançar para que não precisemos ver esse sentimentalismo todo, por outro enche o longa de diálogos de indecisão. O tempo todo os personagens ficam decidindo se vão ou se ficam, se vão buscar ajuda ou não, quem vai e quem espera, se arriscam ou ficam esperando… e não saem do lugar. West depois ajeitaria melhor seus roteiros, e também escolheria melhor seus astros, porém nem sempre acertando nas escolhas. Em tempo, vale a participação rápida do veterano Larry Fessenden. Ator, diretor, roteirista, produtor, Fessenden tem muitos trabalhos no cinema de horror, com destaque para o excelente Session 9, Somos o que Somos, Late Phases, Ainda Estamos Aqui, Anoitecer Violento 2, Os Mortos não Morrem… incluindo o recente Jakob’s Wife.

Ataque dos Morcegos não foi o melhor cartão de visitas de Ti West. Depois ele acertaria a mão em outros projetos, até retornar com X. Atualmente está desenvolvendo um prelúdio deste último filme, apresentando a personagem de Mia Goth, Pearl. Uma grande transformação para quem parecia se interessar por um cinema mais bagaceira.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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