3.7
(38)

Não! Não Olhe!
Original:Nope
Ano:2022•País:EUA, Romênia
Direção:Jordan Peele
Roteiro:Jordan Peele
Produção:Jordan Peele, Ian Cooper
Elenco:Daniel Kaluuya, Keke Palmer, Brandon Perea, Steve Yeun, Michael Wincott e Keith David

Depois da morte do pai, dois irmãos (Daniel Kaluuya e Keke Palmer) precisam manter o negócio da família, um rancho num lugar remoto especializado em treinar cavalos para filmagens. Os irmãos têm personalidades bem diferentes, e a morte estranha do pai meio que os forçou a trabalharem mais juntos; Ottis (Daniel) é mais quieto e introvertido, tendo ficado ao lado do pai no rancho, enquanto Emerald (Keke) é seu extremo oposto, extrovertida e muito social, correndo atrás de vários “bicos”, sem ter uma carreira clara.

Até aqui, o filme parece um título alternativo, de relacionamento ou daqueles que vai nos mostrar um tema social denso e melancólico, sobre a aproximação de dois irmãos, a dificuldade dos dois de aprenderem a lidar um com o outro… bom, não é sobre isso. Até tem um pouco desse tema, mas pincelado e mostrado mais como um nível de humanização dos personagens, mas não é o foco de Não, Não Olhe. É só o começo das coisas.

Enquanto começamos a vislumbrar a vida dos irmãos Haywood, coisas estranhas começam a acontecer. Aliás, até um pouco antes disso, já que a morte do pai deles, apesar de parecer simples e ser tratada como um acidente, é estranha e sem muitas explicações razoáveis. As tais coisas estranhas começam de forma simples, como animais se comportando de forma esquisita, desaparecimentos, fenômenos climáticos bizarros… você já viu isso antes, em outros filmes ou histórias, então já sabe o que esperar. Ou não.

A construção do cenário, ao mesmo tempo do desenvolvimento das histórias pregressa (e atual) das personagens, conduz com maestria a percepção e a leitura do espectador, que fica com a impressão que sabe mais ou menos para onde as coisas vão, o que vai acontecer em seguida e… não é bem assim. O diretor sabe brincar perfeitamente com os clichês do gênero, dando uma visão divertida e real, ou subversiva, do que se espera, torcendo e retorcendo a trama de tal forma até mostrar para o espectador que estava preparando tudo desde o início. E, reforço, não era o que você estava pensando.

Este é um daqueles casos onde quando menos você souber da história, melhor. Por enquanto, vamos nos ater ao que já falamos até agora: dois irmãos, pai morreu, fazenda no meio do nada, fenômenos estranhos e algo que pode ser um OVNI (e que já foi meio que mostrado nos trailers), mas só isso.

Mas é aí que entra o valor do filme. Tudo parte daí e vai para rumos inesperados, ainda que, dentro da história e da lógica interna que é apresentada, faz sentido e parece a coisa mais acertada a se fazer, o que também é uma pequena reviravolta e uma pequena brincadeira recorrente que o diretor faz, quando coloca os protagonistas em situações perigosas ou assustadoras e a resposta dos mesmos diante delas. Vamos dizer que os personagens fazem muito poucas coisas estúpidas, o que é uma alívio de se ver em um filme de terror.

Aliás, um dos temas principais do filme é exatamente este, a subversão da expectativa. O nome original (Nope, que é uma negativa mais informal do que simplesmente “não”) foi escolhido exatamente por esse motivo, para mostrar ao mesmo tempo a reação do público e a mudança das expectativas no decorrer do filme.

Peele é impecável na sua narrativa, seja tecnicamente como na desenvoltura da trama. Ele nos mostra o cenário, os personagens (que com poucas cenas já mostram tudo que precisamos saber), o que pode ser os elementos que estão lá, até mesmo uma coisa ou outra que indica que tem algo errado… e depois nos dá momentos de descontração, humor e alívio, pra nos pegar desprevenidos com momentos realmente terríveis e assustadores.

O horror que Peele nos mostra é, ao mesmo tempo, horrendo e de extremo bom gosto. Não se engane com isso de que ele pega leve… o que ele apresenta certamente vai dar pesadelos quando menos você esperar. Esse é outro ponto que aparece muito em Não, Não Olhe, o medo e o susto que retrocede. Em certa altura do filme, quando determinadas revelações ocorrem, o espectador pode sentir medo e horror de cenas e momentos que já passaram, que ele já viu e que nem tinham o afetado tanto assim… mas depois da tal revelação…

Jordan Peele mostrou mais uma vez o motivo de ser um dos cineastas mais aplaudidos pela crítica e público, apresentando um filme que inicialmente pode ser considerado como simples e “morno”, mas que espirala num suspense e horror combinados na medida em momentos certos e precisos. O domínio do diretor ao apresentar sua visão de temas que poderiam ser comuns e batidos é impressionante, assim como a criatividade e agilidade mostradas no filme todo.

Em entrevistas sobre Não, Não Olhe, Peele afirmou que sua intenção era fazer um filme que fosse um espetáculo, que girasse ao redor desse tema, pois é uma das características essenciais do cinema, e que nada é mais acertado do que fazer um filme sobre o espetáculo de se retornar às salas de cinema depois do recente tempo de isolamento social.

E ele faz esse espetáculo começando em um rancho no meio do nada, no interior da Califórnia. E que vai fazer o espectador, ao sair do cinema, olhar duas vezes para lufadas de vento vindas do nada.

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Média da classificação 3.7 / 5. Número de votos: 38

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23 Comentários

  1. 5 caveiras? Esse filme eu achei ruim demais, nem merece ser chamado de ”terror”, até Independence Day é mais terror do que ele. Personagens desinteressantes (principalmente a irmã do protagonista que passa parte do filme com uma postura intrometida e o tal Angel). O Jordan Peele pode fazer qualquer coisa que a galera bate palmas.

  2. Ao observar tantas críticas negativas, fico até aliviado em perceber que outras pessoas compartilham a mesma sensação que tive, no caso, infelizmente, trata-se de um filme mediado para bom, além de ser muito aquém dos anteriores do diretor.

    Nossos críticos, seja no Youtube ou sites especializados, estão muito exagerados e para eles tudo é incrível.

    Peele é ótimo e o filme tecnicamente é ótimo, mas dessa vez o resultado foi mediano.

    1. Avatar photo

      Oi, Léo! Sou crítico do Boca do Inferno, e compartilho da mesma opinião. Não acho que seja um filme ruim, mas é bem abaixo de Nós e Corra, mesmo com toda a sua profundidade. Eu daria no máximo 3 caveiras.

      Abs

  3. Caramba, não esperava encontrar o Saladino por aqui! Mas terei que discordar, acho tanto o filme quanto o diretor superestimados. Tem sim muito conteúdo e ótimas ideias, mas um filme é o que é, não o que ele quis ser.

  4. Filme estranho meio sonolento porém ineressante, destaco a má vontade do protagonista e a insuportável da sua irmã que passa o filme todo gritando com tudo e todos . A ideia de um monstro interdimensional ou até mesmo espacial foi a sacada do filme , de resto muito lento e cansativo .

  5. Filme midiático, superestimado e não é nada demais. Na verdade é bem fraquinho, chato, até mesmo sonolento.

    1. “Jordan Peele mostrou mais uma vez o motivo de ser um dos cineastas mais aplaudidos pela crítica e público”. Tantos diretores bem melhores que infelizmente não receberam na carreira inteira o mesmo reconhecimento que esse superestimado do Peele.

  6. Você saberia me explicar o que significa aquela tênis, tamanco, de pé, no meio do cenário? Tentei pensar e pensar e ainda não entendi onde ele quis chegar com aquilo, já que o que acontece nessa cena, nos chama mais atenção do que para isso.

    1. Avatar photo

      Oi, Guilherme! Vou apontar uma teoria, mas pode não significar isso.

      O sapato simboliza o improvável, a manifestação de uma força superior. Jupe se viu como alguém especial por ter sobrevivido ao episódio, justificando suas ações no presente.

      abs

    2. sera que nao pode ser uma referência ao monolito de 2001? a cena parece bastante. o macaco atacando a mulher da mesma forma que o macacao “descobre” a usar o osso como arma e matar o outro macaco. a posicao do tenis em pé lembra muito ao monolito, que estava do lado enquanto a cena acontecia..

    3. Achei ruim.. Peele tem 2 filmes bons no currículo…mas esse..muita mídia.. ruin…fraco.. e nada mas nada surpreendente…aliás…bobear você pesca…zzz

    4. Rapaz, acho q eu assisti outro filme então, rsrsrs. Fraquissimo. Faria vergonha até passando numa sessão da tarde. Gasparzinho Gigante é o vilão do filme, q vergonha Sr. Jordan Peele, q vergonha. Nem dá pra acreditar q esse filme é do mesmo diretor de “Corra!” Frustrante! Meu conselho: “Não, não assistam!” “CORRAM!” kkkkkk

  7. Vei, não achei bom não. As aparições do ovni são incrivelmente tensa, mas o filme para aí. Subtramas sem sentido nem ligação com a principal e o pior, você não simpatiza com nenhum personagem, são muito estereotipados, uma penas pois estava curioso pra ver a Keke nesse filme.

      1. Achei incrivelmente ruim. Um dos piores filmes que assisti nos últimos anos, mas tbm não sou fã desse gênero. Enfim, perdi 2 hrs de vida…

  8. Bastante curioso com esse filme, mas apenas isso. O diretor é bom, mas muito superestimado. Corra é legal, mas Nós é bem besta (sem entrar no mérito de críticas e alegorias).

    1. Não, não olhe esse filme!
      Ruim é pouco…
      Perdi meu tempo assistindo!

  9. to afim de assistir mas não acho o jordan peele tudo isso

    1. O filme é bom. Mas é só contemplativo e reflexivo.

      Como o personagem do filme, o Pelé fez um filme pra ele.

      Ele não quis fazer algo pra vender e render sucesso.

      O filme é uma crítica a justamente a indústria do cinema, a prepotência que nos encharca, a busca de tudo pela fama, a crença de que somos seres especiais e dominantes.

      O filme não foi feito pra agradar, mas pra abalar.

      Ele é tão competente que sabe e pode fazer isso.

  10. “Nope” é um modo informal de” não”, sim, mas também mais enfático. Tipo, “nem f*****o!” 😂

    1. Sim! O que também deixa difícil de ser como título…

    2. Achei o típico caso de muito barulho por quase nada, Algumas cenas da ‘aparicao”, impressionam mas e só isso mesmo.

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