Ed Wood: Contos e Delírios
Original:Blood Splatters Quickly Ano:2022•País:EUA Autor:Edward D. Wood Jr.•Editora: Darkside Books |
Hollywood não estava – e ainda não está totalmente – pronta para um homem com ideais transgressores, criativos e únicos. Ser assim e não se permitir mudar para encaixar nos padrões da época rendeu a ele o título de pior diretor de todos os tempos. Estamos falando de Ed Wood Jr., diretor e produtor de filmes de terror, ficção e eróticos, que não se deixava abalar pelos baixos orçamentos de suas produções, usando de muita imaginação e qualquer coisa que estivesse disponível. Nem sempre os resultados eram aceitáveis, mas isso não importava. O importante é que estava passando a sua mensagem ali do jeito que desejava: o seu.
Sendo seus filmes mais conhecidos Plan 9 from Outer Space (1959), Bride of the Monster (1955) e Glen ou Glenda (1953), o diretor cultuava Bela Lugosi, o eterno Drácula. Tirando o ator do ostracismo, Wood Jr. dava um jeito de colocá-lo em todas as suas produções, o que acabou criando uma forte amizade e respeito mútuo. Apesar de não ser bem visto pelos críticos, seus filmes descontinuados, com erros técnicos, efeitos especiais risíveis e um tom fatalmente humorístico acabaram por atrair diversos fãs, fascinados com seu trabalho, sua vida e sua intensidade. Entre eles, Tim Burton, que até mesmo dirigiu um filme baseado na vida de Ed Wood.
Mas nem só de roteiros de filmes B vive esse controverso diretor. Ed Wood também escreveu diversos contos ao longo de sua vida, mostrando toda sua paixão e jeito único de contar histórias. Alguns de seus contos estão reunidos em Ed Wood: Contos e Delírios, da editora Darkside Books e com tradução de Carlos Primati.
Os contos são curtos e possuem temáticas variadas, a maioria com uma tendência ao sexual e perversão, e absolutamente todos com aquela assinatura característica de Wood Jr., que é o toque irreverente do inusitado, a leve reviravolta. Não são especialmente surpreendentes ou brilhantes, mas estão lá para divertir o leitor. Seja alguma loucura, algum final curioso para um personagem, algum fetiche excêntrico sendo revelado ou até mesmo uma pitada de horror e macabro fazendo sua aparição de modo singular.
Temos a presença de alguns monstros clássicos inseridos em sua narrativa peculiar, como por exemplo o Drácula – é claro que uma homenagem a Bela Lugosi não ficaria de fora -, a Múmia e a Banshee. Sendo um diretor de terror e ficção, a presença do gênero é forte ali, entretanto, nota-se que, em seus contos, Ed Wood Jr. tendeu mais ao erotismo, dando vazão a todas as ideias sem medo de repressão. Sendo uma pessoa que desde pequeno sentiu-se confortável em roupas femininas e, já na vida adulta, não deixava de lado uma boa cinta-liga e seu adorado casaquinho angorá (em alguns contos utiliza até mesmo o pseudônimo Ann Gora), suas fantasias mais sórdidas tomam forma em sua escrita, livres de quaisquer preconceitos, tabus ou julgamentos. Junto de sua máquina de escrever, enfim podia dar vida aos seus delírios e desejos em seus textos.
Vale destacar que Laerte, consagrada cartunista brasileira, assina as ilustrações presentes antes de cada conto da obra. Os desenhos conversam muito bem com as histórias, representando algum momento da narrativa de forma divertida e com uma visão única que certamente o diretor aprovaria.
O livro possui 33 contos que variam de bizarro a divertido, muitas vezes os dois ao mesmo tempo, com destaque para: Grite e Perca a Cabeça, Todo Sangue Espirra, Drácula Revisitado, O Grito de Banshee, Detalhes Grotescos e Pousada do Prazer.
Com uma mente muito à frente de seu tempo, Ed Wood Jr. escreveu textos chocantes para a época, libertadores, insanos e macabros, nunca dando atenção às críticas que seu trabalho recebia ou mesmo aos insultos que o próprio ouvia. Sua paixão pela arte e sua vontade de produzir filmes e textos de acordo com a sua visão, sem se importar com os poucos recursos, sempre falaram mais alto do que qualquer ofensa, fazendo com que o diretor permanecesse fiel aos seus princípios até o derradeiro fim.