Buio Omega (1979)

4.6
(12)

Buio Omega
Original:Buio Omega
Ano:1979•País:Itália
Direção:Joe D'Amato
Roteiro:Ottavio Fabbri, Mino Guerrini
Produção:Ermanno Donati, Marco Rossetti
Elenco:Kieran Canter, Cinzia Monreale, Franca Stoppi, Sam Modesto, Anna Cardini, Lucia D'Elia, Mario Pezzin, Klaus Rainer, Edmondo Vallini, Simonetta Allodi, Walter Tribus

Em uma vasta carreira cinematográfica, repleta de produções polêmicas, censuradas e violentas, Buio Omega (também conhecido como Beyond the Darkness) se destaca pelas ideias insanas de um Joe D´Amato ousado, testando seus próprios limites. Trata-se de um refilmagem do clássico The Third Eye (no original, Il terzo occhio), de Mino Guerrini, lançado em 1966 e protagonizado por Franco Nero. Envolve a simples história de um rico taxidermista apaixonado que resolve preservar o corpo da mulher amada como um boneco, capaz de eliminar qualquer pessoa que atrapalhe seus ideias. Sim, traz um enredo que inspirou muitas outras obras e que deve também ter sido lembrado na concepção do absoluto Psicose, de Alfred Hitchcock.

Com um argumento desenvolvido pelo filho de Mino Guerrini, Giacomo Guerrini, para um roteiro de Ottavio Fabbri, Buio Omega tem o objetivo realmente de incomodar. A própria atriz Franca Stoppi, contratada sem saber do que se tratava a história, disse na época que estavam fazendo um filme para as pessoas vomitarem, apoiada pelo próprio D´Amato, que assumiu não ser muito habilidoso para criar suspense, por isso optou pelo “sangue desenfreado”. Indicado como um de seus melhores trabalhos, o diretor se orgulhou pelo alcance comercial de uma produção que custou pouco e foi filmada em apenas três semanas, em duas cidades do interior da Itália, Bressanone e Campo Tures.

Como era de costume em sua filmografia, o longa acabou se destacando pelas cenas mais intensas – como a do feto comido pelo Antropófago ou dos mamilos arrancados a dentada em Emanuelle e os Últimos Canibais. O exagero da vez se deve à sequência em que o insano protagonista está embalsamando sua esposa, com muitos detalhes e veracidade do processo. Lendas da época diziam que o diretor teria usado um cadáver verdadeiro, algo que o próprio negou, afirmando que foram usados intestinos de animais, pele de porco e coração de ovelha, fornecidos por um matadouro. “Em todos os quatro (dos meus) filmes de terror… nós criamos os efeitos de respingos usando restos de açougueiro. Não havia nenhum especialista em efeitos especiais real…. Naquela época, a censura era bastante leve“.

O longa foi lançado nos cinemas pela Eurocopfilms em 15 de novembro de 1979, atingindo a marca de 153,7 milhões de liras italianas. Depois teria um alcance na América do Norte com o título Buried Alive; e voltaria à Itália com outro nome mais picareta, In quella casa Buio omega – para fazer uma referência à franquia Evil Dead, que por lá se chamou La casa -; e o mesmo aconteceria na Espanha, com o título House 6: El terror continua, tentando atrair fãs da cinessérie A Casa do Espanto, e no México, a partir do título Zombi 10. E impressiona pelo fato de ser uma produção sem elementos sobrenaturais, zumbis, fantasmas, demônios ou qualquer coisa que pudesse permitir essa confusão de títulos.

Em Buio Omega, Anna Völkl (Cinzia Monreale, de Terror nas Trevas) é vítima de uma maldição vudu, encomendada pela governanta Íris (Franca Stoppi), levando-a ao hospital em estado crítico para desespero de seu amado Frank (Kieran Canter). Ela não resiste à enfermidade, não explicada, e morre proferindo como últimas palavras o desejo de “fazer amor“. No velório, Frank é testemunhado por um estranho, enquanto injeta algo no corpo de Anna para início dos procedimentos de preservação. Depois de ser amamentado, a conhecida lactação erótica, por Íris, e enterrar Anna, ele retorna durante a madrugada para roubar o corpo, em toda uma ação mostrada quase integralmente, desde o velório, enterro, passando pela retirada do corpo.

No retorno para casa, Frank nega um pedido de carona, mas com o pneu de seu veículo furado, acaba permitindo o passeio da jovem Jan (Lucia D’Elia). Drogada, ela adormece, enquanto Frank realiza o embalsamento de Anna com o corte em seu dorso, a retirada dos órgãos e a drenagem do cérebro, até culminar na troca dos olhos por exemplares de vidro, em uma sequência pouco tímida da câmera de D´Amato. Quando Jan percebe onde está e o que está acontecendo já é tarde, tornando-se a primeira vítima de Frank, que elimina o corpo com a ajuda de Íris. Não será a única, uma vez que o rapaz ainda cruzará com outras garotas azaradas, e passará a alimentar a ideia de se juntar oficialmente com Íris, desde que esta aceite a presença de Anna como um boneco estático na cama.

Se o público da época se impressionou com as cenas de mutilação e exposição de órgãos, é provável que também tenham sentido um desconforto com todas as que envolvem Anna. Ela acaba servindo como inspiração erótica para Frank conseguir ser masturbado por Íris ou tentar se relacionar com outras garotas como uma jovem corredora (Anna Cardini). Com os olhos esbugalhados e a pela extremamente alva, sua presença fantasmagórica é, sem dúvida, o principal elemento que torna Buio Omega como um filme a ser recomendado. É claro que a atriz às vezes deixa escapar uma piscadela e até o arfar de seu peito, ou é vista em posições diferentes entre uma cena e outra, mas é preciso enaltecer sua frieza interpretativa.

Apesar de todos os esforços de Cinzia Monreale, quem realmente faz a diferença é Franca Stoppi. Sua atuação como governanta com interesses próprios traz os momentos mais intensos da narrativa, e isso inclui o momento em que ela cria um episódio aterrorizante para uma visita até culminar com sua presença imponente erguendo um cutelo – uma imagem tão interessante que a própria atriz resolveu utilizá-la como perfil do IMDB, embora não tenha uma filmografia muito significativa.

Assassinatos violentos, loucura na preservação de um cadáver e a sensação perturbadora de uma possível sobrevida da morta, além da atmosfera de um ambiente ameaçador, completam o pesadelo cinematográfico de Joe D´Amato. Para quem já começava a se cansar dos canibais e zumbis putrefatos em voga na época, é um trabalho criativo e um acerto em uma filmografia de produções violentas e com deficiências técnicas.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Buio Omega (1979)

  • 14/12/2022 em 15:22
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    Esse italiano que se achava cineasta (foi um dos maiores picaretas da história) devia fumar maconha estragada. Todos os filmes dele que eu tive o desprazer de assistir era um monte de bosta.

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