Mais Próximo do Terror / Terror Fatal (1982)

4.3
(6)

Mais Próximo do Terror / Terror Fatal
Original:Next of Kin
Ano:1982•País:Austrália
Direção:Tony Williams
Roteiro:Michael Heath, Tony Williams
Produção:Robert Le Tet
Elenco:Jackie Kerin, John Jarrat, Gerda Nicolson, Alex Scott

Mais Próximo ao Terror já é um título que não sugere muito. A quase inexistência de textos em português sobre esse filme australiano também colabora para tornar essa obra, dark e silenciosa em muitos sentidos, ainda mais obscura para os fãs de terror brasileiros. E nos poucos textos existentes, uma das referências que mais se repetem são sobre os comentários elogiosos feitos por Quentin Tarantino  ao filme no documentário Not Quite Hollywood, que trata da nova onda de cinema australiano (Australian New Wave – ou Ozploitation) iniciada na década de 1970. Dessa nova onda, que já está velha, surgiram algumas produções que ultrapassaram as fronteiras do país e chegam até nós hoje como clássicos. Mad Max (1979) é um deles. O esquisito Patrick (1978) também.

No início da década de 1980, esse movimento cultural já dava sinais de baixa energia, vindo a ganhar novo vigor na década seguinte (com títulos como Babe, um Porquinho Atrapalhado), mas ainda rendia bons frutos. Next of Kin (e vou usar o título em inglês, por achar que tem mais a ver que o português) veio nessa toada, sendo uma boa aposta no terror australiano.

O filme conta a história da jovem Linda Stevens, interpretada pela ótima Jackie Kerin, que herda, após o falecimento da mãe, uma propriedade rural que funciona como um lar para idosos. Na dúvida entre vender o asilo ou manter o negócio, que está na família há muitas gerações, Linda resolve passar uns dias no casarão onde viveu sua infância, até que idosos e funcionários começam a morrer misteriosamente. Aos poucos, a estadia de Linda no casarão passa a ser envolvida pelo mistério da morte dos idosos e de sua mãe, ainda não totalmente explicada, e pela certeza de que todos ali podem estar escondendo algo.

Next of Kin então se inicia com um suspense profundo, que nunca sabemos se penderá para o sobrenatural ou não. A sensação de estar só e isolada, no entanto, tem um grande destaque nessa história. A trilha sonora de Klaus Schulze (o cara foi membro da banda Tangerine Dream) é pontual e um dos elementos que ajuda a aprofundar o isolamento de Linda na mansão. A música não só entra nos momentos certos, como também sai nos momentos certos, dando lugar para o silêncio cumprir seu importante papel na construção do terror.

Essa sensação de isolamento de Linda, na verdade, é brilhantemente forjada pelos realizadores. Além da trilha sonora, há toda a cenografia, iluminação e ambientação geral  que trabalham em favor da construção dessa atmosfera específica. O casarão onde funciona o asilo fica no meio do “nada” australiano, um ambiente rural cercado por florestas secas e pradarias, e qualquer deslocamento necessário se torna uma longa viagem de carro. Durante todo o filme, os personagens fazem muitos deslocamentos e a direção enfatiza muito esse distanciamento entre a mansão e qualquer outro lugar. A desconfiança de Linda em relação aos funcionários do asilo e a constante sensação haver um perigo à espreita também ampliam o sentimento de solidão.

Com uma ação muito sútil percorrendo todo o longa (sendo melhor perceptível numa revisão), a “resolução” do mistério, apesar de não ser chocante ou exatamente original, surpreende positivamente pela eficiência e por não destoar da construção feita até ali. Porém, paro por aqui, pois qualquer coisa que se diga (inclusive o subgênero em que o filme se enquadra) pode ser um spoiler que vai estragar o prazer de solucionar esse instigante mistério.

Next of Kin é um suspense com direção elegante e que guarda muitos elementos de horror tradicional. Os momentos mais extremos são reservados para o último ato, e somam muitos pontos ao resultado final justamente por não fugir tanto às possibilidades. Foi indicado em algumas premiações, e chegou a vencer o prêmio de melhor diretor no Sitges Film Festival, o Festival Internacional de Cinema Fantàstic de Catalunya (Espanha). Achei justo, mas é um filme que merece muito mais.

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Pedro Emmanuel

Cearense, jornalista, quase geógrafo (ainda cursando), meio praieiro e ligeiramente antissocial. Minha viagem é aprender o máximo possível sobre a vida e sobre a morte, e assim ir assimilando alguns mistérios da existência. Vivo como se fosse um detetive, mas minha mente vagueia muito. Sou fã de Star Trek, Jefferson Airplane, e do Massacre da Serra Elétrica original.

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