Sombras do Passado
Original:Resurrection
Ano:2022•País:EUA Direção:Andrew Semans Roteiro:Andrew Semans Produção:Lia Buman, Tim Headington, Drew Houpt, Lars Knudsen, Alex Scharfman Elenco:Rebecca Hall, Tim Roth, Grace Kaufman, Michael Esper, Angela Wong Carbone, Josh Drennen, Rosemary Howard, Winsome Brown |
Há uma linha tênue que impede que Resurrection possa ser exibido na programação do Supercine. Apesar de tênue, ela possui uma demasiada quantidade de cerol que tornaria a possibilidade um tanto quanto perigosa. Pelo título, elenco, sinopse e a primeira hora de projeção, trata-se de um thriller profundo envolvendo traumas de um relacionamento abusivo e o esforço da protagonista de tentar evitar ou eliminar o agressor. Parece até um Dormindo com o Inimigo (Sleeping with the Enemy, 1991), mas com uma Julia Roberts mais disposta a eliminar seu oponente em vez de simplesmente forjar sua própria morte. Agora imagina se Martin tivesse uma razão obscura para manter o controle sobre Sara, com cordas de uma marionete oriunda do campo das bizarrices da Sétima Arte?
É claro que tudo pode se construir como simbolismo de mais um exemplar de “gaslighting“, em que a manipulação poderia ser substituída por inúmeros elementos vistos na nossa sociedade: ameaças de morte, exploração de fraquezas como o sofrimento dos filhos pela separação, fatores emocionais… Assim, a proposta de Andrew Semans é beber dessas fontes, com base em histórias sobre submissão e perturbações psicológicas, mas partindo para algo fora do comum. E quando você reflete sobre essas fontes percebe o quanto a tal ressurreição do título tem várias camadas acontecendo ao mesmo tempo, sendo que a principal vai fazê-lo terminar o filme boquiaberto.
A ótima Rebecca Hall interpreta Margaret, uma executiva bem sucedida e que cuida da filha de 17 anos, Abbie (Grace Kaufman), enquanto se distrai com jogging e uma rotina de encontros sexuais com seu colega de trabalho Peter (Michael Esper). Com um olhar atento a seus compromissos e conselhos à estudante e estagiária Gwyn (Angela Wong Carbone) sobre seu relacionamento abusivo, Maggie parece possuir controle total de sua vida, sem um namorado, sem um pai para Abbie, até enxergar um rosto conhecido em uma palestra. Esse mesmo sujeito será visto em uma loja de roupas no shopping e até no parque, causando desconforto e um gatilho de antigas emoções.
A partir desse reencontro, com uma diferença de mais de vinte anos, Margaret entra em um carrossel de desespero, temendo pela vida da filha e pela reaproximação de um personagem que deixou marcas em seu corpo, além de traumas psicológicos. Logo ela contará seu passado para Gwyn, detalhes de uma outra vida, e que resultará na expressão perplexa da ouvinte e do próprio espectador. David (Tim Roth em espetacular atuação) não precisará ir atrás de Maggie para voltar a segurar as rédeas, nem fará esforço algum, uma vez que os acontecimentos se encaixarão perfeitamente em um quebra-cabeça doentio. Sua presença imponente, mesmo com a idade avançada, já é suficiente para trazer os desgastes da protagonista, em declínio profissional e social.
Rivalizando com Men em sua proposta, Resurrection assume facilmente seu lugar entre os destaques de 2022. Teria um resultado ainda melhor se fosse um pouco mais enxuto, sem alguns excessos que atrapalham a dinâmica do enredo. De todo modo, a mensagem, mesmo numa caligrafia estranha, deve ser enaltecida.
Eu fiquei surtada assistindo a esse dilme. Concordo que alguns “exageros” deram uma atrapalhada. Mas é um daqueles filmes, que quando terminam, te deixam com uma sensação estranha.
O que é Supercine?
Sessão de filmes exibidos pela Globo nas madrugadas de sábado pra domingo.