3.8
(10)

Barbarians
Original:Barbarians
Ano:2021•País:UK
Direção:Charles Dorfman
Roteiro:Charles Dorfman, Statten Roeg
Produção:Jason Newmark, Laurie Cook, Charles Dorfman
Elenco:Tom Cullen, Inès Spiridonov, Iwan Rheon, Catalina Sandino Moreno, Connor Swindells, Tommy McDonnell

O que separa o homem civilizado do bárbaro? Essa separação existe, ou é criada pela sociedade? E o que acontece quando os muros sociais são destruídos? Barbarians é uma produção britânica de 2021, dirigida por Charles Dorfman (produtor de A Filha Perdida), que visa responder a esses questionamentos.

Escrito pelo próprio diretor em parceria com Statten Roeg, o roteiro acompanha dois casais diferentes. O primeiro deles é formado pelo Adam (Iwan Rheon) e Eva (Catalina Sandino Moreno), numa clara referência bíblica. Ele é um diretor de TV prestes a realizar seu primeiro filme. Ela é uma escultora renomada. Os dois estão se preparando para comprar sua casa dos sonhos.

A casa fica localizada numa região afastada, e faz parte de um empreendimento imobiliário promovido pelo influencer Lucas (Tom Cullen). Apesar de ainda não terem assinado o contrato de venda da casa, o Adam e a Eva já estão morando lá, porque ela foi contratada para fazer uma escultura no local – escultura essa que será um dos grandes chamativos daquele empreendimento.

Com o intuito de fechar o contrato e comemorar o aniversário do Adam, Lucas vai até o local acompanhado da sua namorada, Chloe (Inès Spiridonov). Os dois casais se sentam à mesa de jantar para o que deveria ser um encontro civilizado. Mas nada sai conforme o planejado. Durante o jantar, eventos estranhos ocorrem, segredos são revelados e a natureza bárbara daqueles personagens vem à tona.

Apostando em uma estrutura dividida em capítulos, Barbarians apresenta personagens e situações em momentos distintos, que convergem até aquele jantar. Por um lado, isso funciona muito bem, pois possibilita escolhas inusitadas – como introduzir novos personagens durante o terceiro ato, contribuindo ainda mais para a estranheza daquela situação.

Por outro lado, a obra não dá a atenção necessária a subtramas importantes, como aquela envolvendo os verdadeiros donos daquele terreno onde as casas foram construídas. Da mesma maneira, o filme faz algumas sugestões de tom sobrenatural – simbolizadas pela figura da raposa vista em diferentes momentos –, mas não chega a se aprofundar muito nisso.

Tais problemas se empalidecem diante do talento do diretor Charles Dorfman em explorar o desconforto dos seus personagens, especialmente os personagens masculinos. O Adam, por exemplo, claramente se sente emasculado, seja por ser casado com uma mulher mais bem-sucedida, ou por se ver como alguém inferior aos outros homens ao seu redor – como o entregador de compras que fica dando em cima da Eva.

Já o personagem de Lucas é visto como um sujeito que vive de aparências, alguém que gosta de ser o centro das atenções e não suporta a ideia de ser tirado dos holofotes. Existe, portanto, uma dinâmica muito clara entre aquele que se expõe e aquele que se esconde. Mas a relação entre Adam e Lucas não é mostrada como uma mera dominação do mais forte sobre o mais fraco. Existe ali um conflito latente, prestes a entrar em ebulição. E quando isso acontece, o título do filme passa a fazer mais sentido.

Porque uma vez que a coleira da sociedade é afrouxada, os homens deste filme passam a se comportar como bárbaros. Eles se tornam violentos, atacam uns aos outros, tomam para si o que não é deles ou destroem tudo que veem pela frente. Eles não têm mais onde ancorar sua civilidade, fazendo com que a selvageria corra solta pela floresta ao redor daquela residência.

Ao final, Barbarians funciona ao abordar a temática do comportamento masculino diante de uma situação de conflito. Mas, ao contrário de clássicos que trabalham com temas similares, como Sob o Domínio do Medo e Um Longo Fim de Semana, o longa-metragem de Charles Dorfman traz um elemento ausente nesses exemplos: o humor. O filme explora o absurdo da situação apresentada, e sabe como fazer piada com isso.

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