4.3
(6)

Crimes do Futuro
Original:Crimes of the Future
Ano:2022•País:Canadá, Grécia, UK
Direção:David Cronenberg
Roteiro:David Cronenberg
Produção:Robert Lantos, Panos Papahadzis, Steve Solomos
Elenco:Viggo Mortensen, Léa Seydoux, Kristen Stewart, Scott Speedman, Lihi Kornowski, Don McKellar, Nadia Litz, Tanaya Beatty

O diretor David Cronenberg nunca é menos que instigante em seus filmes. Pode-se gostar mais de uns que de outros, pode-se não gostar, mas a sua filmografia mostra um autor real, incomodado, criativo e apaixonado pelo seu ofício. Difícil ficar indiferente a qualquer filme feito por ele.

O cinéfilo apaixonado por terror e ficção (ou até mesmo quem não é) reverencia o realizador de clássicos do terror moderno como Scanners (1981) e A Mosca (1986); o diretor feroz de Marcas da Violência (2005) e Senhores do Crime (2007); o homem que discutiu tabus sexuais em Enraivecida na Fúria do Sexo (1977) e Crash – Estranhos Prazeres (1996); e o autor que fez ficção científica no sentido literal da palavra, com Videodrome (1993) e eXistenZ (1999).

Mas é injusto colocar os filmes do mestre num escaninho de gênero ou temática. Todos, sem exceção, têm algo a comentar, têm uma discussão a propor e têm um estilo próprio em cada frame.

Crimes do Futuro é uma ficção científica (de novo, não encaixar somente nesse segmento) que segue a jornada de um artista de vanguarda (Viggo Mortesen, o ator fetiche de Cronenberg, presente em outros trabalhos do diretor), cujo show é mostrar órgãos que seu corpo naturalmente produz sendo extirpados em eventos com a ajuda de sua parceira (Léa Seydoux). A sociedade mostrada tem fixação por cirurgias (a maiorias clandestinas), pelo prazer sexual que elas proporcionam (já que parecem ter encontrado algo que minimiza a dor) e por enxertos corporais (a cena do bailarino com orelhas pelo corpo é ao mesmo tempo repugnante e lírica). A trama envolve o Estado delimitando o que seria normal e um grupo de pessoas com hábitos gastronômicos peculiares. Há ainda um escritório secreto que cataloga novos órgãos humanos, onde Kristen Stewart trabalha e rouba a cena cada vez que aparece, com uma personagem melancólica e frágil, bem ao estilo da atriz.

Detectei no filme um problema de roteiro que não desenvolve a contento certas situações. Por exemplo, a relação do protagonista com o policial e, também, as duas técnicas da empresa responsável pela manutenção da esquisita cama que mudam de função, sem maiores explicações, conforme o filme avança. Por outro lado, a sátira é afiada ao nos depararmos com um concurso de beleza interior (isso mesmo, com os órgãos!!!) e lacerações na face que subvertem o status quo de beleza.

Mesmo com essas ressalvas, é ainda um bom filme, bem produzido e interpretado. O design de produção impressiona e a fotografia também é um atrativo, compondo ora ambientes sujos e ora ambientes frios e impessoais.

O diretor pode não ter atingido o ápice e alguns críticos reclamaram que ele está se repetindo. Pois bem, um Cronenberg se repetindo tem muito mais frescor e novidade que 99% da produção cinematográfica atual.  Vale a pena a locação nos serviços de streaming.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.3 / 5. Número de votos: 6

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

1 comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *