El monte de las brujas
Original:El monte de las brujas
Ano:1973•País:Espanha Direção:Raúl Artigot Roteiro:Raúl Artigot, Félix Fernández, Juan Cortés, José Truchado Produção: Elenco:Patty Shepard, Cihangir Gaffari, Mónica Randall, Guillermo Bredeston, Soledad Silveyra, Luis Barboo |
Eu não sou muito afeito a trilhas sonoras. Algumas me pegam, mas geralmente eu costumo dispensar – pode surtir um bom efeito junto ao filme, mas sem ele, não me interessa muito. Mas cá estou, ouvindo no repeat a trilha do ótimo El Monte de las Brujas, produção espanhola de 1973, e que chamou minha atenção por algum motivo nas prateleiras do site Rarelust, enquanto penso no que escrever sobre esse filme que deve dividir opiniões (inclusive sobre a trilha sonora).
Começando pelo começo, o que temos aqui, em resumo, é a história de um casal de amigos que acaba de se conhecer e se vê às voltas com um coven durante uma viagem a trabalho.
Mario (Cihangir Gaffari) é fotógrafo e Delia (Patty Shepard) é escritora. Eles se conhecem numa situação meio questionável, mas logo rola uma troca de confiança entre ambos. Mario tem uma pauta a cumprir: precisa fotografar uma montanha específica para uma reportagem, e Delia o acompanha nesses dois dias de aventura. O que eles não contavam é que, durante a viagem, seriam o tempo inteiro “guiados” em caminhos desconhecidos por forças ocultas, e que todo o ceticismo do mundo não faria diferença alguma em seu destino a partir dali.
El Monte de las Brujas tem uma precariedade de produção bem latente, mas se salva pela “pureza de intenção”. Um dos principais méritos (talvez o maior) do trabalho é ter encontrado uma locação “ideal” para a narrativa. O centro da ação se passa num vilarejo parcialmente abandonado incrustado na montanha, lugar muito rico em natureza, mas inóspito. Lá vive apenas uma curandeira idosa que produz remédios caseiros para os pastores de cabras (opa!) que passam por ali.
O vilarejo é composto basicamente por poucas ruínas de casas de pedra, estilo medieval, e só a casa da tal curandeira é ocupada. A floresta que rodeia o vilarejo, a pouca iluminação, e a névoa que toma a montanha quando o sol começa a se por, completam o quadro bucólico fantasmagórico em que os protagonistas se perdem no avançar da escuridão.
A narrativa é conduzida de forma eficiente, dentro do possível, e tem sucesso ao criar atmosferas surreais e paisagens sinistras com muito pouco; mérito da direção de Raúl Artigot, que tempera bem elementos que facilmente poderiam cair no exagero – e a trilha sonora é um desses elementos.
Original de Fernando Garcia Marcillo, compositor e arranjador espanhol, criador de alguns boleros clássicos interpretados à exaustão por artistas espanhóis e até por Frank Sinatra, a música é a primeira e a última coisa que temos contato em El Monte de las Brujas. O que começa meio brega vai ganhando corpo à medida que a paranoia se espalha na superfície da montanha das bruxas, e passa a exigir respeito em seus momentos de ápice. É curioso, visto que a música parece deslocada dos ambientes mas, ao fim, faz todo sentido quando se avalia o conjunto. Algo muito parecido com o que o Dario Argento faz em seus filmes.
El Monte de las Brujas é um trabalho que dispõe de poucas informações online sobre sua produção e pormenores de bastidores. Nos fóruns, uma das principais críticas que se fazem é quanto ao ritmo do filme, e sobre isso, devo dizer que realmente não é um dos filmes mais movimentados (apesar de ter ação o tempo inteiro).
O filme possui alguns erros, é verdade (e por isso não recebe 4 caveiras), mas nada que salte aos olhos. Ainda assim, apresenta uma atmosfera verdadeiramente fantasmagórica, que cresce de forma constante a partir de enquadramentos, panorâmicas, diálogos curtos mas eficientes. Um bom roteiro guia toda essa jornada folk horror a um final, no mínimo, muito satisfatório. A produção é que, por vezes, parece caseira demais, mas nada que atrapalhe a experiência.
A quem interessar, o filme está disponível no site Rarelust, e no Dailymotion, com dublagem em inglês. Pra quem gosta da temática, vale o corre.