Curon – 1ª Temporada (2020)

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Curon - 1ª Temporada
Original:Curon - First Season
Ano:2020•País:Itália
Direção:Fabio Mollo, Lyda Patitucci
Roteiro:Ezio Abbate, Ivano Fachin, Giovanni Galassi, Tommaso Matano
Produção:Marco Cohen, Fabrizio Donvito, Benedetto Habib
Elenco:Luca Lionello, Federico Russo, Margherita Morchio, Anna Ferzetti, Alessandro Tedeschi, Juju Di Domenico, Ryan Cargill, Christian Wolf, Matthew David Rudd, Kit Sheehan, Dennis Kleinman, Valeria Bilello, Max Malatesta, Christopher W. Jones, Maximilian Dirr

Na época em que foi lançada, em junho de 2020, na Netflix, a série Curon foi considerada um programa promissor, com jovens envoltos em um mistério sobre uma cidade submersa, a torre do sino e gêmeos malignos. Apesar de algumas críticas positivas e elogios à produção e mesmo com o seu ritmo adolescente, intrigas e relacionamentos rasos, ela não teve uma sobrevida, encerrando sua trama incompleta em sete episódios. Criada por Ezio Abbate, Ivano Fachin, Giovanni Galassi e Tommaso Matano, é provável que o cancelamento tenha relação com os excessos de clichês e repetição de ideias, como se o próprio produto fosse um doppelgänger de histórias já conhecidas.

A trama envolve os gêmeos Daria (a ótima Margherita Morchio) e Mauro Raina (Federico Russo), que retornam a Curon, no norte da Itália, cidade onde a mãe Anna Raina (a fraca Valeria Bilello) teria crescido e fugido há dezessete anos, após um acontecimento traumático – e agora ela também está em fuga, mas de um relacionamento abusivo. A ideia de retorno à cidade-natal já foi a base de inúmeras histórias de terror, como Salem’s Lot, de Stephen King, e Missa da Meia-Noite, sempre envolvendo uma relação sobrenatural numa comunidade pequena. Aqui não é diferente: os três chegam ao hotel da família, onde o pai dela, Thomas (Luca Lionello), não os recebe bem, assim como também será a reação negativa de outros locais, temendo a maldição dos Rainas.

Matriculados na escola, eles conhecem dois irmãos, Micki (Juju Di Domenico) e Giulio Asper (Giulio Brizzi), com quem se envolvem de maneira distinta. Micki se apaixona por Daria, após um beijo ocasional, gerando o incômodo do apaixonado Lukas (Luca Castellano), enquanto Giulio manterá uma postura agressiva até também aos poucos se encantar pela garota. Já Mauro, pela sua condição introvertida, terá mais dificuldades para se enturmar, mas será o primeiro a notar coisas estranhas envolvendo a torre do lago, quando precisou resgatar seu drone, e uma mulher mantida presa no sótão do hotel, com a aparência da mãe. Após o estranhamento e com a fuga da cópia da mãe, Anna irá desaparecer durante uma expedição ao Vale do Sol, o que obrigará os irmãos posteriormente a uma busca, sob o olhar atento de Albert (Alessandro Tedeschi), pai de Micki e Giulio, e marido da professora Klara (Kit Sheehan).

Como logo se notará, a cidade submersa produzirá doppelgängers, chamados de “sombras“, que tentarão eliminar sua outra versão, com o soar do sino da igreja. Alguns da cidade já são cópias que efetivamente eliminaram as versões oficiais, com alterações evidentes de comportamento. Aos poucos – e podia ter sido muito mais rápido e eficiente se Thomas contasse o que sabe – os conflitos entre cópias e pessoas relacionadas serão mais intensos, enquanto um pouco mais sobre a cultura da cidade de Curon é apresentada no Festival do Fogo, um ambiente maldito apelidado de Planície dos Mortos e um labirinto, onde a Anna cópia manterá, sem razão aparente, a Anna autêntica presa ao invés de eliminá-la logo como outros fizeram. Detalhe para os fatos das duas estarem com as mesmas roupas, somente para promover uma briga em que você não sabe para quem torcer, até se concluir de modo novela mexicana.

E há outras situações mal explicadas na trama de Curon, como o motivo de Thomas ter mantido a Anna doppelgänger viva por tantos anos, sabendo de suas intenções no prólogo. Também não fica claro se Albert gosta da esposa ou da Anna, com quem teve um affair no passado – a limitação do ator ajuda a criar a confusão. A chegada do pai dos gêmeos, Pietro (Giulio Cristini), não rende as tensões esperadas; assim como a viagem dos jovens até a planície, mesmo no encontro de um Lukas disposto a matar, mas que enrola o suficiente para uma reação. E a trama ainda acrescenta problemas cardíacos de Thomas, que não servem para nada, e a parceria que ele estabelece de maneira surpreendente com a Klara doppelgänger.

Com atuações desastrosas e todos esses problemas de roteiro, Curon deve mesmo permanecer submersa. Se busca realmente um enredo interessante sobre doppelgängers, a melhor recomendação é o filme Nós, de Jordan Peele, que ainda traz uma situação apocalíptica e envolta em reflexão.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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