4.2
(5)

A Town Full of Ghosts
Original:A Town Full of Ghosts
Ano:2022•País:EUA
Direção:Isaac Rodriguez
Roteiro:Isaac Rodriguez
Produção:Cynthia Bergen
Elenco:Andrew C. Fisher, Mandy Lee Rubio, Sarah Froelich, Keekee Suki, Ali Alkhafaji, Lauren Lox, Mike Dell

Imagine quantas tramas assustadoras poderiam ser ambientadas em cidades-fantasmas, locais remanescentes do Velho Oeste, e que carregam um passado de violência urbana e penas capitais! Na análise que fiz do longa Nas Garras do Terror (Claw, 2021), de Gerald Rascionato, sobre um velociraptor à solta em um local desabitado, escrevi: “você até fica imaginando como seria interessante se os dois chegassem ao ambiente proposto para enfrentar um fantasma” e “poderia realmente funcionar se a proposta fosse outra, se o enredo simplesmente aproveitasse a ambientação para desenvolver um outro argumento“. Eis que surge um longa com um título inspirado: A Town Full of Ghosts (na tradução, “Uma Cidade Cheia de Fantasmas“), com a proposta de um found footage numa cidade deserta, com câmeras em primeira pessoa e possibilidades aterrorizantes.

Não é bem o que acontece, e você pode até dizer que o título é uma picaretagem do tamanho do parque que serviu de ambientação para as filmagens. Existe uma relação até, mas não como se espera. O que se vê, na verdade, são dois casais sem química alguma, algumas aparições discretas e uma mal desenhada cópia de O Iluminado. E novamente podemos dizer que o potencial estava bem ali diante dos olhos.

Começa com a morte de um casal em um labirinto de madeira, após encontrarem um machado e serem surpreendidos por uma assombração – impressiona o fato de que nos found footages todo mundo filma tudo o que acontece, como se fosse uma convergência universal de registros em vídeo. Os letreiros posteriores indicam o desaparecimento do casal Jenna (Mandy Lee Rubio) e Mark (Andrew C. Fisher), restando apenas as gravações que fizeram na abandonada Blackwood Falls. Não se sabe por que esqueceram do casal do começo e de um outro que irá aparecer nas gravações. Ninguém se importou com eles.

Mesmo com os pés no chão de Jenna, o tonto Mark resolveu investir as economias do casal na compra de uma cidade fantasma, sem sequer visitá-la anteriormente, sem apresentá-la a um investidor. Assim, passeiam pelas localidades à luz do dia, mostrando ambientes que não serão usados no longa, então pouco importa. Até mesmo uma sinistra boneca vista em cena olhando para um espelho não terá função alguma e nem sequer será mostrada direito. Sem sinal de celular e distante três horas da civilização, o rapaz pensa em reformar o ambiente para a construção de um parque temático, algo que já deixa evidência de já ser pela própria apresentação de atrações como um cinema ao ar livre e o tal labirinto de madeira.

Não é nenhum game! O efeito é ruim mesmo!

As filmagens são realizadas para um canal que irá apresentar a evolução do projeto. A proposta é registrar desde a chegada até todos os processos de reconstrução nessa “viagem do tempo” no pensamento de Mark. À noite, sons estranhos no tal labirinto, uma aparição rápida não verificada, câmera registrando o momento do sono com uma observação sinistra, é tudo que acontecerá na primeira noite. Na segunda, depois de treinar atirar um machete, e já dando indícios de que nada importante acontecerá, chegam ao local o primo de Mark, Justin (Ali Alkhafaji), e a namorada Lisa (Lauren Lox) – também não mencionados no letreiro -, e mais uma noite com piano tocando sozinho e uma bebida encontrada por Mark, com indícios de um problema mal resolvido, na primeira referência aO Iluminado. Depois ainda virá ao local o zelador Billy (Keekee Suki) e um investidor (Mike Dell), que em poucos minutos no local já irá desistir de patrocinar o projeto.

Mais alguns acontecimentos às três da manhã para desconforto de Jenna e Justin, até Mark encontrar um material de filmagem que contará a história da “Cidade Cheia de Fantasmas“, o local onde corpos foram deixados e uma mulher teria sido queimada. Consumido pela bebida, Mark terá seus acessos de violência correndo atrás da esposa no labirinto com um machado – já viram isso antes? -, mas sem deixar de segurar a câmera. Mas é muito pouco para uma cidade-fantasma, atrapalhada ainda pelos efeitos ruins em cenas que poderiam render algo bom, como o drone sobre o labirinto. Para complicar qualquer boa vontade do público, as atuações são péssimas, com destaque negativo para Lauren Lox, cuja personagem é tão sem graça que quando some ninguém sente falta.

Perto do final – é um meio spoiler, mas você não vai perder seu tempo com essa bomba, né? -, por alguma razão Mark prende a esposa numa cadeira com uma fita na boca, provavelmente para não gritar. Mas e se gritasse? Estão a três horas de distância de qualquer lugar, então não faz sentido. E todo esse suspense não leva o espectador a ter sequer uma ruga de preocupação, pois o letreiro já anunciou no início que ninguém sobreviveu e as gravações foram encontradas. Há uma surpresinha do tipo “tal personagem já estava morto? Oh…“, sem que isso torne a experiência melhor. Aliás, a única boa notícia é que o filme tem apenas 65 minutos de duração, mas você terá que ser forte para chegar até o final sem bocejos.

Gravada na cidade-fantasma J. Lorraine, em Manor, no Texas, que é realmente um parque temático com diversas atrações para a família, é provável que o local possa ter alguns fantasmas rondando por lá, mas nenhum interessante resolveu aparecer no filme. É apenas uma obra que serve para promover o local, atiçar a curiosidade de quem gosta de passeios de exploração. Mas, se quiser conhecer o espaço sem precisar ver um filme de terror ruim, recomendo que assista ao episódio “End of the Line“, de Fear the Walking Dead, ou até o clipe “Grace“, de Danny Golden, com gravações no local. Vão valer mais a pena!

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