Colheita Maldita: Gênesis (2011)

3.3
(10)

Colheita Maldita: Gênesis
Original:Children of the Corn: Genesis
Ano:2011•País:EUA
Direção:Joel Soisson
Roteiro:Joel Soisson, Stephen King
Produção:Aaron Ockman, Joel Soisson
Elenco:J.J. Banicki, Diane Peterson, Kai Caster, Kelen Coleman, Tim Rock, Billy Drago, Barbara Nedeljakova, Duane Whitaker, Brian Hite

É difícil saber onde se encaixa Colheita Maldita: Gênesis dentro da longa fileira da franquia, inspirada em um conto de Stephen King, publicado na antologia Sombras da Noite. O filme é continuação de Colheita Maldita 7: A Revelação ou da segunda versão, A Colheita Maldita, lançada em 2009? Será que ele ignora as demais continuações e somente explora a ideia principal envolvendo crianças assassinas e uma entidade conhecida como “Aquele que Anda por Detrás das Fileiras“? E esse “Gênesis” do título? Indícios de um prelúdio ou apenas um subtítulo como qualquer outro? E o mais curioso de tudo é que o infernauta chegará aos créditos finais e continuará sem saber se está vendo uma parte 8 ou uma sequência bastarda. Mas, para os realizadores, isso não importa, desde que atraia olhares para seu novo produto.

Na verdade – a informação a seguir não vem na sinopse, mas é interessante saber – a Dimension Films tinha obrigação contratual de lançar um filme da série antes do aniversário de dez anos de Colheita Maldita 7: A Revelação ou perderia os direitos sobre o texto original. Como A Colheita Maldita, de 2009, não foi feito pelo estúdio, havia um receio de que uma nova franquia pudesse surgir a partir dele. Assim, a realização de Gênesis foi feita às pressas, com roteiro e direção a cargo de Joel Soisson (de Maniac Cop 3, Pulse 2 e 3, e dos filmes 4 e 5 da franquia Anjos Rebeldes) – alguém com a experiência para tapar buracos contratuais de produtoras que não querem perder suas aquisições.

Se foi realizado para fins contratuais, obviamente que boa coisa não poderia sair daí. Contudo, o filme até que se sai bem em seus aspectos técnicos e na proposta um pouco diferente, perdendo-se no enredo confuso e sem nexo na parte final. Quando o longa parece engrenar, o último ato distorce a narrativa ao acrescentar elementos quase apocalípticos e ao estabelecer um diálogo com outros conceitos comuns na literatura de Stephen King. Isto é, o culto de crianças assassinas de adultos pela entidade do milharal dá lugar a um fedelho com poderes sobrenaturais como o menino do poço da parte 4 e de tantas obras do autor, podendo citar até Os Justiceiros, escrito sob o pseudônimo de Richard Bachman.

Começa na década de 70, quando um rapaz retorna da Guerra do Vietnã – a conexão com o protagonista do conto – e encontra sua família inteira massacrada pela gangue das crianças maléficas que têm “olhos de peixe morto“. A cena é divertida: enquanto caminha pelos cômodos da moradia, vai se deparando com seus pais mortos, com milho nos olhos, e até a namorada, antes de ver a irmã com uma peruca atacá-lo e ele voar pela janela, mesmo não tendo nenhuma atrás dele. Nos tempos atuais, um casal moderninho sofre com o calor do deserto da Califórnia sem saber o que fazer com o carro com problemas na mangueira. Andando pela região, a gravida Allie (Kelen Coleman) e o marido Tim (Tim Rock) chegam a uma casa habitada por um pastor (Billy Drago) e sua noiva russa “comprada pela internetHelen (Barbara Nedeljakova, a isca para americanos de O Albergue).

Embora a residência seja rural, com banheiro do lado externo, sofá antigo e crucifixos por todos os cantos, ela ainda tem uma TV de tela plana e uma câmera digital – é sério! Enquanto tenta telefonar para um mecânico, Tim é seduzido por Helen, sem deixar exatamente claro se ele resistiu às investidas. Tendo que passar a noite no local, Allie ignora o anfitrião sobre não “zanzar por aí” e encontra uma capela no celeiro e uma criança mantida presa em um local. Percebendo os riscos, ao tentar fugir, uma força sobrenatural os impede, algo relacionado ao garoto aprisionado, e justificado pela fala do pastor: “Talvez ele deixe vocês saírem de manhã, quando estiver dormindo.

Será que estão mantendo ali um novo Isaac? Só o garoto é uma ameaça ou o pastor e sua esposa escondem outros segredos? Qual a conexão com o prólogo? Algumas dessas perguntas serão respondidas, assim como o interesse repentino por Allie. Se a ideia de uma ameaça mantida presa sendo erroneamente salva é um tema já explorado antes, pelo menos partiram para algo diferente dentro da franquia, envolvendo o receio dos adultos em relação às crianças. É claro que o rapaz do prólogo é o tiozinho do presente, ainda traumatizado pelo seu retorno, mas por que ele tem uma câmera digital pronta para registros em um tripé? E os sonhos de Allie representam exatamente o quê?

Com a atuação já padrão de Billy Drago – em mais um papel de caipira doido -, Colheita Maldita: Gênesis se afasta do milharal para um novo respiro, levemente claustrofóbico e empolgante. Se não fosse tão confuso em seu final, o longa teria um conceito melhor, podendo figurar entre as melhores continuações da franquia.

Ora, as atuações são boas, assim como os diálogos do casal moderninho. E os personagens alternam entre perspicácia (quando Allie nota os fios de telefone e a indicação de que poderiam pedir ajuda) e burrice (a mesma personagem resolvendo espiar o celeiro e outros cômodos). Só o fato de saírem da zona de conforto da série para apresentar uma ideia nova – o sétimo filme também se esforçou para tal -, já mostra um interesse em um novo respiro no argumento habitual.

Contudo, logo se percebe que se trata de uma produção de orçamento simples, em que ideias foram colocadas na mesa, sem organizá-las adequadamente. Assim, os direitos da franquia se mantiveram com a Dimension Films, mas a que custo? Talvez com outros produtores e estúdios, a franquia Colheita Maldita pudesse finalmente trazer algum entretenimento ou colocar a entidade que anda atrás das fileiras para descansar um pouco.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Colheita Maldita: Gênesis (2011)

  • 29/11/2023 em 21:31
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    Não consigo encontrar essa versão de 2011 , achei uma de 2020 .

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    • Avatar photo
      30/11/2023 em 13:08
      Permalink

      Oi, Everton! Esse só baixando mesmo em sites de torrent. Não está no youtube, nem em plataformas de streaming.

      Abs

      Resposta

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