Medo Profundo
Original:Black Water
Ano:2007•País:Austrália, UK Direção:David Nerlich, Andrew Traucki Roteiro:David Nerlich, Andrew Traucki Produção:Michael Robertson Elenco:Diana Glenn, Maeve Dermody, Andy Rodoreda, Ben Oxenbould, Fiona Press |
“O filme de terror australiano em que aparece o boneco do Cebolinha!” Para os brasileiros, essa pode ser uma das principais motivações para conferir Medo Profundo (Black Water, 2007), mais até do que o crocodilo assassino, os jovens envoltos em uma situação claustrofóbica e ameaçadora ou a inspiração em eventos reais. O famoso personagem, criado por Maurício de Souza, tem uma aparição constante no filme, preso à frente do barco que irá conduzir as irmãs Grace (Diana Glenn) e Lee (Maeve Dermody) a um pesadelo de resistência.
O longa, co-dirigido por Andrew Traucki e David Nerlich, tem entre seus méritos o fato de ter usado muito pouco CGI, e quase nenhum efeito prático – as cenas em que aparece o crocodilo são colagens com um animal verdadeiro -, além de ter a influência do período, quando se fazia filmes com orçamentos menores e tentava se aproximar de uma atmosfera próxima do real. A sequência em que as irmãs estão nas árvores numa noite de trovoadas, com somente a iluminação dos trovões para permitir a visualização do espectador, e são atormentadas pelo som de uma pessoa sendo mastigada, é o melhor momento do filme, uma ideia claramente inspirada em Mar Aberto (Open Water, 2004).
As garotas partem numa aventura de pesca pelos mangues australianos com o namorado de Grace, Adam (Andy Rodoreda). O trio é levado pelo barqueiro Jim (Ben Oxenbould), dono do transporte que traz o Cebolinha, e atravessam os rios, cercados por árvores submersas, uma lata de tinta e um crocodilo voraz. Quando o barco vira e todos caem na água, rapidamente buscam abrigo no local, enquanto procuram maneiras de sair dali, buscar ajuda ou servir para o menu do réptil de água salgada. Ele pouco irá emergir, será visto menos que o Cebolinha, mas deixará o grupo com uma sensação constante de que o animal está à espreita, aguardando pacientemente pela refeição.
Não há mais nenhuma informação relevante na sinopse, nem nada que trará grandes mudanças no enredo. Basicamente é um horror de ambiente único, com algumas doses de estupidez dos personagens, algumas condições inusitadas de sobrevida e bons momentos de tensão. Pode-se enaltecer na proposta a tentativa de surpreender o espectador sobre quem vive ou morre, a partir de um elemento que não acrescenta absolutamente nada, numa forçada empatia. E não é o Cebolinha.
Também pesa numa avaliação mais atenta algumas falhas técnicas na condução e montagem de Medo Profundo. Um corte seco, alguém que some de cena sem qualquer ousadia, uma câmera que se confunde no enquadramento. E a intenção de usar animais reais não permite que o espectador consiga imaginar as moças com o crocodilo diante delas, devido à edição e sobreposição de imagens.
Inspirado em eventos reais – difícil encontrar qualquer base real na internet -, Medo Profundo é levemente divertido. Desperdiça tempo com barzinho e passeios até que algo interessante aconteça, testando a paciência do espectador, mas pode valer a pena para quem aprecia enredos de poucos personagens e ambientação única, baixos recursos e alguma criatividade. Independente disso, ainda tem aquele garotinho da Rua do Limoeiro, que fala “elado” para justificar para nós uma conferida.