Floresta das Sombras (2003)

4.6
(14)

Floresta das Sombras
Original:Villmark / Dark Woods
Ano:2003•País:Noruega
Direção:Pål Øie
Roteiro:Pål Øie, Christopher Grøndahl
Produção:Jan Aksel Angeltvedt
Elenco:Bjørn Floberg, Kristoffer Joner, Eva Röse, Sampda Sharma, Marko Iversen Kanic, Simon Norrthon, Ivar Nørve, Torstein Løning, Cecilie de Lange

O longa Floresta das Sombras (Villmark) teve o infortúnio de ter sido lançado no mesmo ano de Pânico na Floresta (Wrong Turn, 2003), o que ofuscou seus méritos e uma possível popularidade. Não que seja um clássico do cinema norueguês – o terror de Rob Schmidt também não é -, mas traz algumas semelhanças ou coincidências narrativas, tanto que não duvidaria se o filme tivesse um título nacional como Pânico na Floresta 2, caso fosse lançado anos depois, como aconteceu com Timber Falls, de 2007. Contudo, Villmark demonstrou ter vida própria, uma produção de apenas 85 minutos que não permite que o espectador saiba qual é a ameaça até mais de um hora do início.

Isso quer dizer que o longa enrola o infernauta, apenas desenvolvendo as personagens? Não exatamente, até porque ele já se inicia com uma narração instigante: “Tudo o que queríamos era um emprego decente. E acabamos aqui. Nos bosques. Devíamos ter nos mantido afastados daquela represa“. Imagens de uma mata sinistra e uma viagem de carro são alternadas com a apresentação dos personagens: Lesse (Kristoffer Joner) tem experiência com fotografia; Per (Marko Iversen Kanic), amigo de infância de Lesse, é radialista; Sara (Sampda Sharma) é jornalista; e ainda há a sueca Elin (Eva Röse). Todos contratados por Gunnar (Bjørn Floberg). Para fazer o quê exatamente? Boa pergunta. Se você somente assistir ao filme vai saber pouco a respeito, mas, segundo a sinopse oficial, eles foram contratados pela Real TV para participar de um reality show de sobrevivência na mata sem recursos, uma espécie de Largados e Pelados ou No Limite.

Para tal, conduziu o grupo para testes de resistência numa floresta, em uma cabana isolada na mata, sem celulares ou alimentação por quatro dias. Um local fechado com ripas de madeira, contendo um pássaro morto e fezes de animais, promove o estranhamento inicial, menos para Gunnar, que já esteve ali, como é evidenciado por um gravador em que ele conversa com uma moça, dizendo que nunca devia ter ido até a represa. O cinema de horror já mostrou que gravadores em cabanas isoladas são o prenúncio de algo ruim, o que se revela na chegada à tal represa maldita.

Na manhã seguinte, na busca por alimento, o grupo se divide em dois: Gunnar leva as garotas para caçar coelhos, enquanto Lesse e Per chegam à represa, onde encontram uma barraca aparentemente abandonada, com um estranho vestido vermelho em um varal improvisado. Até o momento, quinze minutos de filme se passaram, e as coisas começam a ficar gradualmente mais aterrorizantes. Encontram livros e fotos sobre aviação, semelhantes ao de brinquedo visto na cabana, e logo o corpo de uma moça surge preso à rede de pesca. Observados o tempo todo e ainda ameaçados por algumas atitudes agressivas e desafios de resistência de Gunnar, aos poucos eles percebem que alguma coisa estranha aconteceu ali e há uma possível presença rondando a mata.

A estreia de Pål Øie na direção de longas promove algumas possibilidades. Trabalha com a tensão constante, com situações que conduzem os personagens aos seus limites, dando poucas pistas sobre a verdadeira ameaça. No último ato, com a revelação e algumas explicações desnecessárias, Floresta das Sombras finalmente mostra a que veio. Como a narrativa é “slow burn“, mas sem a lentidão do pós-horror – que fique claro -, pode ser que o espectador, acostumado a uma mata com canibais e pessoas deformadas, não tenha paciência para chegar ao seu desfecho, perdendo um filme de horror bem atmosférico e curioso.

Rodado em 24 dias em Kaupanger, Sogn, na Noruega, Floresta das Sombras – exibido na Mostra BR de São Paulo como Florestas Negras, na tradução do inglês Dark Woods – foi eleito durante muito tempo o filme norueguês mais assustador, vencendo Presos no Gelo 2 e o clássico Lake of the Dead (1958). Pós Villmark, o diretor rodou Skjult (2009), novamente com Kristoffer Joner, até realizar uma “continuação” em 2015, disponível na plataforma Looke como A Clínica do Horror, sem muita relação com o primeiro. Atualmente, o primeiro filme encontra-se fora de catálogo.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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