Salve-se Quem Puder (2020)

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Salve-Se Quem Puder!
Original:Save Yourselves!
Ano:2020•País:EUA
Direção:Alex Huston Fischer, Eleanor Wilson
Roteiro:Alex Huston Fischer, Eleanor Wilson
Produção:Kara Durrett, Adi Ezroni, Mandy Tagger
Elenco:Sunita Mani, John Reynolds, Ben Sinclair, John Early, Jo Firestone, Gary Richardson, Johanna Day, Stephen Koepfer

Salve-se Quem Puder (Save Yourselves!, 2020) é uma comédia com toques de terror e ficção científica que, na superfície, parece ser um filme sobre a nossa inadequação e despreparo diante de uma ameaça (nesse caso, um ataque alienígena). Porém, por baixo de tudo isso, a obra aborda um dos maiores medos da sociedade contemporânea: ficar desconectado da internet.

Escrito e dirigido pela dupla Alex Huston Fischer e Eleanor Wilson, o filme acompanha Su (Sunita Mani) e Jack (John Reynolds), um casal hipster que mora em Nova York e sente que sua vida está estagnada. Embora ocasionalmente participem de eventos sociais (quando saem de casa e encontram os seus amigos), na maior parte do tempo os dois vivem grudados no celular.

Tudo muda quando eles recebem o convite de um amigo para ficarem numa cabana da família dele. Os dois aceitam o convite, acreditando que aquela é uma boa oportunidade para se afastarem do mundo contemporâneo. Mais do que isso, porém, eles também aproveitam para fazer uma espécie de desintoxicação da internet e das redes sociais. Durante uma semana, eles vão ficar completamente fora da internet e de outros meios de comunicação.

A separação forçada do vício em tecnologia gera alguns momentos bem engraçados, uma vez que fica claro logo de início que os dois não sabem fazer nada sem a internet. Eles não conseguem acender uma fogueira ou dirigir um carro com embreagem. Além disso, os longos silêncios dos dois reforçam o tédio causado pela falta de estímulo constante.

Porém, o maior perigo não está na falta de acesso ao celular, mas no que isso implica para a sobrevivência do casal. Afinal, justamente nessa semana que eles estão afastados do mundo, o mundo começa a ser invadido por alienígenas. E eles não sabem disso, porque estão com os celulares desligados.

Com isso, Salve-se Quem Puder ilustra muito bem um conceito que alimenta o vício em internet e redes sociais: a ideia do F.O.M.O, ou Fear Of Missing Out (que pode ser traduzido como Medo de Ficar de Fora). É a ideia de que você precisa ficar conectado o tempo todo ou vai acabar perdendo alguma coisa importante.

É claro que, no caso do filme, esse medo é fundamentado, porque Su e Jack de fato estão perdendo alguma coisa: quando os primeiros alienígenas (que têm a forma de uma bola peluda) começam a aparecer ao redor da cabana, eles os ignoram, já que não sabem que aquilo é uma ameaça. E quando finalmente descobrem o que está acontecendo, pode ser que seja tarde demais.

Ainda assim, é louvável a maneira como a obra se esforça para oferecer um discurso ambíguo em relação ao tema aqui apresentado. Porque a mensagem aqui não é algo tão simplório quanto “fique conectado o tempo todo para se salvar“. Afinal, a própria narrativa explica que Nova York foi uma das primeiras cidades a serem atacadas. Ou seja, se os protagonistas tivessem ficado em casa (e conectados), talvez estivessem mortos.

Da mesma maneira, o longa também não advoga para o outro lado. Ou seja, a resposta não é simplesmente “jogue o seu celular no lixo se você quiser sobreviver“. Porque é pelo celular que eles têm acesso a algumas informações importantes. E, de maneira bastante literal, o celular salva a vida dos dois em certo momento.

Ao final, a mensagem que Salve-se Quem Puder parece pregar é a da parcimônia: você precisa usar as novas tecnologias para se manter informado e acessível dentro da realidade contemporânea, mas também precisa saber se desligar da tela e observar as maravilhas e os perigos do mundo ao seu redor.

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Daniel Medeiros

Daniel Medeiros é membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e pesquisador sobre o cinema de terror. Graduado em Cinema e Vídeo e mestre em Ciências da Linguagem. Atualmente cursa o doutorado, tendo como objeto de pesquisa o cinema de terror contemporâneo. É editor do blog/podcast/canal 7 Marte.

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