A Vingança do Espantalho (1981)

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A Vingança do Espantalho
Original: Dark Night of the Scarecrow
Ano:1981•País:EUA
Direção:Frank De Felitta
Roteiro:J.D. Feigelson, Butler Handcock
Produção:Bobbi Frank
Elenco:Charles Durning, Robert F. Lyons, Claude Earl Jones, Lane Smith, Tonya Crowe, Larry Drake, Jocelyn Brando, Tom Taylor, Richard McKenzie, Ivy Jones, John Steadman

Quando você descobre que viu esse filme na Sessão de Gala da Rede Globo aos seis anos de idade, no dia 22/01 de 1983, com o título A Noite do Espantalho, já entende o seu fascínio pelo medo. Longa adquirido pela CBS, com imagem escura, filmado em apenas 18 dias, mas que trazia uma atmosfera perturbadora de vingança sobrenatural, mesmo sem grafismo e mortes violentas, trabalhando apenas com o sugerido. Foi a primeira produção a ter um espantalho como assassino sobrenatural, sendo o ponto de partida para um subgênero diversas vezes relembrado em enredos de horror, como visto em Annabelle 3.

A direção é de Frank De Felitta (de Os Doberman Atacam, 1973), responsável pelo roteiro de As Duas Vidas de Audrey Rose (1977) e O Enigma do Mal (1982), com argumento de Butler Handcock e J.D. Feigelson. Mas o que chama atenção nos créditos é o elenco de rostos conhecidos do cinema, como Charles Durning (Um Dia de Cão, 1975), Claude Earl Jones (A Noiva do Re-Animator, 1990), Lane Smith (Amanhecer Violento, 1984) e principalmente Larry “Darkman” Drake, como o rapaz com deficiência intelectual Bubba, que será condicionado à vingança, sem muitas explicações para isso.

Charles Eliot “Bubba” Ritter tem a mentalidade de uma criança, tendo na pequena Marylee Williams (Tonya Crowe) sua melhor amiga. Entre colher flores e ensinamentos do alfabeto (“ele só conhece até a letra G“), eles brincam numa relação de afeto que incomoda o carteiro Otis (Durning). Com um olhar malicioso para a pequena, ele convoca outros cidadãos locais para silenciá-lo, desde que seja de modo “permanente“. A oportunidade acontece naquele mesmo dia, quando, ao entrar para ver de perto uma fonte, a garotinha é atacada por um cão de guarda. Como John Coffey, de A Espera de um Milagre, de Stephen King, ele é visto com a garota ensanguentada dizendo “Não foi Bubba que fez isso.

Era a justificativa que Otis precisava para se reunir com mais três homens, Philby (Jones), Skeeter (Robert F. Lyons) e Harless (Lane Smith) para persegui-lo com cães e armas. Bubba pede ajuda da mãe (Jocelyn Brando), que, consciente da inocência do filho, sugere que brinquem de esconde-esconde. O rapaz se esconde em um espantalho, é descoberto, e fuzilado com mais de vinte tiros, no momento em que alguém informa no rádio que Marylee está bem porque foi salva por Bubba. Os quatro justiceiros vão a julgamento, mas o promotor, Sam Willock (Tom Taylor), não consegue convencer o juiz Henry (Richard McKenzie) da culpa. Sem “provas“, eles são inocentados, desdenhando do fato para a mãe e depois comemorando mais tarde em um bar.

Há uma justiça maior do que a dos homens“, diz a sra. Ritter, na saída do tribunal. E ela lentamente começa a acontecer, quando Harless percebe em seu campo a figura do mesmo espantalho, incluindo as marcas de tiros. Mais tarde, ele “acidentalmente” irá cair no picador de madeira, iniciando a “vingança do espantalho“. Otis desconfia das ações da mãe, da menina e até do advogado, assim que seus parceiros passam a ser encontrados mortos em acidentes estranhos, após enxergarem o espantalho nas plantações.

Ele não foi embora. Está apenas brincando de se esconder“, diz a pequena ao ser encontrada no campo. Temeroso, Otis passa a cometer outros assassinatos e ameaçar seus comparsas e a própria garotinha durante um evento de Halloween na cidade. Mas a assombração ainda tem planos para todos, e não irá descansar enquanto não concluir sua vingança.

Atmosférico, esse folk horror funciona como um conto sobrenatural, daqueles que você lia na revista Kripta ou acompanha em antologias. Tem uma narrativa lenta, cadenciada pela proposta independente e feita para a TV, fazendo uso de sombras, sons de passos, em vez de simplesmente mostrar o espantalho perseguindo seus algozes. Ainda assim, a criatura é uma presença constante, uma entidade que observa e incomoda. Sem grafismo, com um sangue discreto, apostando mais na paranoia e no sugerido, A Vingança do Espantalho é uma produção simples, mas eficiente.

Diferente do cinema atual, com exposição de monstros e entranhas, é bem provável que o filme seria visto pela geração atual como raso, sem jumpscares ou trilha sonora que amplia a sensação de ameaça. Mas, para um garoto de seis anos, residente na Vila Carioca, em suas madrugadas de férias escolares, foi afixado em sua retina como um exemplar aterrorizante de um cinema moldado no medo. Ótimas atuações, principalmente de Larry Drake, o longa ainda se mantém interessante, abrigado em meus pesadelos.

Em tempo: em 2022, foi lançada uma continuação oficial do filme. Dirigido pelo roteirista do original, J.D. Feigelson, o filme ainda aponta como consultante de roteiro o escritor de ficção científica Ray Bradbury, falecido em 2012. Sem retorno do elenco, parece que as únicas conexões com o original são a pequena cidade e o visual do espantalho. No trailer, todo o sugerido é substituído por efeitos sangrentos de assassinato, com efeitos risíveis até na iluminação dos olhos do vilão sobrenatural. Parece que Feigelson não entendeu o sucesso cult do original…

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “A Vingança do Espantalho (1981)

  • 16/01/2024 em 18:42
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    Adoro este filme! Resumiu bem: simples mas eficiente. O trailer do 2 ficou parecendo paródia kkk

    Resposta
  • 16/01/2024 em 10:06
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    Filme maravilhoso … também ficou marcado a fogo em minha memória ! A morte do cara no silo de grãos é antológica … Excelente ! Obrigado por compartilhar esta lembrança fantástica

    Resposta

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