Dentro
Original:Inside
Ano:2023•País:Grécia, Alemanha, Bélgica Direção:Vasilis Katsoupis Roteiro:Vasilis Katsoupis, Ben Hopkins Produção:Marcos Kantis, Giorgos Karnavas, Dries Phlypo Elenco:Willem Dafoe, Gene Bervoets, Eliza Stuyck, Andrew Blumenthal, Vincent Eaton, Daniel White, Josia Krug |
A primeira coisa que preciso falar do longa de suspense Dentro, disponibilizado na Amazon Prime, é sobre Willem Dafoe. O filme É o ator e, por mais que o leitor goste ou deteste da experiência, uma coisa é inconteste: a atuação dele é excepcional!
De uma carreira superlativa, que se iniciou no cinema no começo dos anos 80, é dificílimo indicar seus melhores trabalhos. Trago aqui alguns que guardo na memória com carinho, com o risco de deixar outros para trás… o sargento boa praça de Platoon (1986), o próprio Jesus em A Última Tentação de Cristo (1988), o policial certinho no excelente e sumido Mississippi em Chamas (1988), até o mais pop de seus papéis, o eterno Duende Verde na cinessérie Homem-Aranha (2002, 2004, 2007 e 2021).
Tanto o expressivo rosto vincado pelo tempo quanto a sua fluidez corporal são fundamentais para acompanharmos o filme que, sem ele, seria quase insuportável. Dafoe é a razão e a alma do projeto (praticamente o único ator em cena), que infelizmente tem um roteiro que não abusa da ideia original, optando por cenas repetitivas e algumas que pouco agregam ao desenrolar da trama (a descoberta do quarto escondido é uma delas).
Na história, um ladrão de artes entra num mega luxuoso apartamento de um colecionador para roubar algumas telas e esculturas. Contudo, ao tentar sair, o sistema de segurança é ativado e prende o gatuno no apartamento. A partir daí (não se explica por qual motivo o sistema de segurança não acionou a polícia ou mesmo a portaria do edifício), acompanhamos as tentativas dele de escapar, a falta de comida e água… ou seja, um padecimento físico e emocional diante do enclausuramento.
O que na sinopse parece ser extremamente interessante, na realidade, se tornou um filme por vezes enfadonho, que poderia criar situações mais tensas, aproveitando a desgraça que se abateu sobre o personagem. Perdeu-se a possibilidade de se fazer um estudo mais aprofundado sobre sobrevivência humana, não em meio à natureza como comumente ocorre, mas numa caixa de concreto, também sem itens básicos.
Por outro lado, há um comentário bastante curioso sobre a arte, já que o personagem de Dafoe tem tendências artísticas e sua estada no apartamento acaba por destruir algumas obras, mas também por criar outras. Prestem atenção no monólogo sobre arte e na frase que ele escreve na parede do apartamento, o que indica claramente a opção do realizador por fazer uma alegoria social ao invés de mexer com nossos nervos.
O filme é recheado de réplicas de obras de arte contemporâneas, o que pode agradar também aos seus apreciadores. Há até uma grande tela do brasileiro Maxwell Alexandre intitulada “Se eu fosse vocês olhava pra mim de novo”, da série Pardo é Papel, que fica na sala de estar e aparece em várias cenas.
Entendo que a experiência aqui agradará muito mais aos amantes da arte, do estético e da força motriz criativa por trás de pinturas, esculturas e instalações que os aficionados por um puro e simples suspense. Esses últimos, certamente, irão se frustrar.