King Kong vs. Godzilla
Original:King Kong vs. Godzilla
Ano:1962•País:Japão Direção:Ishirô Honda, Norman Tokar Roteiro:Willis H. O'Brien, Shin'ichi Sekizawa Produção:Tomoyuki Tanaka, Bill Walsh Elenco:Tadao Takashima, Yû Fujiki, Kenji Sahara, Ichirô Arishima, Mie Hama, Akiko Wakabayashi, Akihiko Hirata, Someshô Matsumoto, Jun Tazaki |
A primeira encrenca entre King Kong e Godzilla aconteceu na década de 60. Antes da existência da Monarch, da descoberta de uma dimensão alternativa no centro da Terra, antes do Kong aprender a se comunicar com a língua dos sinais… Ambos os monstros já tinham duas produções-solo – King Kong (1933) e O Filho de King Kong (1933); Godzilla (1954) e Godzilla Ataca Novamente (1955) – e um embate era inevitável, principalmente depois que notaram no segundo filme do Godzilla que lutas entre criaturas gigantes sempre atraem audiência. Mas a escolha dos oponentes não foi essa de início.
O animador de stop motion Willis O’Brien quis aproveitar o aniversário de trinta anos do filme King Kong para propor algo inusitado: King Kong vs Frankenstein. Na concepção original, o Monstro de Frankenstein teria uma versão gigantesca e iria enfernizar São Francisco até a chegada do macaco imenso. Enquanto havia apenas uma arte conceitual, o temor sobre os direitos de Frankenstein pertencerem a Universal fez o longa adquirir outros nomes como King Kong vs. the Ginko e King Kong vs. Prometheus. Quando a Toho adquiriu os direitos sobre Kong, a ideia inicial foi completamente abandonada e Godzilla passou a ser o adversário oficial. Já O’Brien, que viu se projeto ser completamente desfigurado nas mãos do produtor John Beck, tentou processá-lo, mas acabou morrendo em novembro de 62 sem ter a chance de ver sua proposta ganhar vida na tela grande.
King Kong vs Godzilla atingiu seus objetivos. Foi um grande sucesso, alcançando uma das maiores bilheterias da Toho de todos os tempos. E a crítica especializada também curtiu o embate, com mais de 50% de aprovação, e elogios aos efeitos especiais, à colorização – primeiro filme colorido com os dois monstros -, e ao bem-humorado roteiro de Shin’ichi Sekizawa e do não-creditado Willis O’Brien. É provável que o grande mérito da produção esteja em promover entretenimento; visto hoje, o filme não tem o mesmo impacto visual e as falhas técnicas são grosseiras, no entanto funciona como fantasia ingênua e divertida.
A empresa Pacific Pharmaceuticals está em busca de um hiperbólico apoio comercial para atrair patrocinadores. Seu chefe, o nervoso Tako (Ichirô Arishima), fica sabendo sobre a existência de um monstro gigante na pequena Ilha de Faro, e pede que dois de seus funcionários, Osamu Sakurai (Tadao Takashima) e Kinsaburo Furue (Yû Fujiki), viajem ao local para trazer a criatura o quanto antes. Enquanto os dois são pegos pelos nativos e ganham a confiança para conseguir estadia, o submarino nuclear americano Seahawk enxerga luzes estranhas em um iceberg e, ao se aproximar e ficar preso à rocha, acabam liberando Godzilla. No segundo filme, Godzilla havia sido congelado numa ilha, o que mostra uma tentativa mínima de dar continuidade à franquia.
Demora mais de trinta minutos para King Kong finalmente aparecer, mesclando fantasia (nas cenas de corpo inteiro) e boneco para movimentação do rosto. Ele ajuda os nativos e os dois japoneses a se livrarem de um polvo imenso, no primeiro confronto entre monstros gigantes. Kong bebe vasos com sucos de uma fruta comum na ilha e adormece, permitindo que seja colocado numa jangada e conduzido em direção ao Japão. Tako inicialmente fica frustrado com os jornais noticiando sobre Godzilla, mas Kong é descoberto e ocupa as principais manchetes, ele sente que a publicidade pode dar certo, ainda mais se promover um confronto entre os dois.
Godzilla chega ao Japão destruindo tudo o que encontra pelo caminho, ignorando a ideia do filme anterior sobre ele ser atraído pela luz. Logo, King Kong vai acordar e seguirá rumo ao mesmo local, agendando o primeiro duelo quando o filme completar uma hora. Não durará mais do que um minuto. A única arma de Kong é atirar pedras no oponente, e ao ser queimado pelo Godzilla foge do local para somente reencontrá-lo nos últimos dez minutos. Numa briga verdadeira, por ser apenas um macaco gigante sem poderio nuclear e resistência, é claro que Kong iria apanhar igual mala velha. E é o que acontece durante boa parte do segundo round: kong atirando pedras e tentando um confronto físico, enquanto Godzilla utiliza a força de sua cauda para soterrar o deus da Ilha de Faro.
Assim, para ajudar Kong a igualar as coisas, o contato com eletricidade de cabos e de um raio faz com que ele fique com as mãos energizadas e possa ter o poder de dar choques em Godzilla. Provavelmente essa ideia da energização seria usada no roteiro de King Kong vs. Frankenstein e acabaram mantendo no tratamento final. E também deve ser o que inspirou Kong a ter um machado poderoso nos filmes atuais em contato com suas origens, tendo em vista sua fragilidade em confrontos normais. A briga entre os dois tem momentos hilários em que se percebe duas pessoas usando fantasias se abraçando, atirando pedras de papelão, destruindo maquetes e rolando próximo de um morro se passando por Monte Fuji.
Pode ser que o tom bem humorado de boa parte da produção atrapalhe a tentativa de se levar a sério. Mas como é possível realmente assistir a King Kong vs Godzilla, imaginando um com combate real entre duas criaturas fictícias no Japão? Desse modo, as trapalhadas dos personagens e as situações cômicas são até bem aceitas – o transporte de Kong em balões, a partir de uma linha ultra resistente é uma delas -, embora o filme também traga episódios dramáticos, como o do ataque de King Kong ao trem culminando na captura de Fumiko (Mie Hama), namorada de Kinsaburo. Aliás, é a primeira vez que Kong se apaixona por uma mulher de cabelos pretos até então.
Com direção do experiente Ishirô Honda, King Kong vs Godzilla também teve uma versão americana, como foi feito com outros filmes da Toho na época. Cenas cortadas e acrescidas, troca de atores, dublagens e edição deram uma aparência americana ao filme, lançado nos cinemas no ano seguinte. Apesar dos esforços em facilitar a compreensão da língua pelos americanos, o novo tratamento não teve o mesmo sucesso que a versão original. E, por muito tempo, a rivalidade ficaria adormecida no oceano até 2021, no reencontro proposto no longa de Adam Wingard.
classico! me diverti muito na minha adolescencia.