Duna - Parte 2
Original:Dune Part Two
Ano:2024•País:EUA, Canadá, Hungria, Itália, Nova Zelândia, Jordânia, Gâmbia, Emirados Árabes Direção:Denis Villeneuve Roteiro:Denis Villeneuve, Jon Spaihts Produção:Cale Boyter, Amanda Confavreux, Fuad Khalil, Robbie McAree, Patrick McCormick, Denis Villeneuve, Diala Al Raie Elenco:Timothée Chalamet, Zendaya, Rebecca Ferguson, Javier Bardem, Josh Brolin, Austin Butler, Dave Bautista, Florence Pugh, Christopher Walken, Léa Seydoux, Charlotte Rampling, Stellan Skarsgård |
Ainda que respeite sua filmografia, David Lynch deveria pedir desculpas aos fãs da fantástica literatura de Frank Herbert por ter cometido Duna, em 1984. Principalmente, com o lançamento da obra-prima Duna – Parte 2, de Denis Villeneuve, um espetáculo de ficção científica que há muito tempo o Cinema não apresentava. É claro que a primeira adaptação deve ter seus esforços reconhecidos não como obra cult como apregoam seus fãs, mas por ter dado um pontapé corajoso, a despeito de seu roteiro bagunçado e efeitos ruins. Ainda não vi a série de TV, lançada em 2000, com direção de John Harrison, destacando William Hurt no elenco, porém acredito que deva também ter seus méritos.
Em outubro de 2021, a Legendary já havia anunciado o interesse em realizar a Parte 2, ainda mais com os elogios que a primeira parte colecionava. Villeneuve já estava aguardando um sinal verde e deu início à pré-produção, a partir do acordo que havia feito com a produtora e a distribuidora Warner Bros. de que o lançamento aconteceria exclusivamente nos cinemas. “Condição inegociável“, é absolutamente compreensível essa vontade do cineasta pela grandiosidade da proposta, pelos esforços técnicos para que as telas grandes sejam amplamente preenchidas. Não assisti à primeira parte no cinema, o que foi uma falha terrível para um crítico que admira o trabalho literário, mas pude finalmente corrigi-la nessa continuidade.
Descrito como um filme épico de guerra, Duna Parte 2 foi além de uma outra metade sabendo explorar as necessárias mudanças, incluindo a própria evolução do caráter do protagonista, passando de um jovem inseguro para um líder ameaçador, algo que nem teve importância na primeira adaptação. Dada ousadia se torna necessária para o futuro da franquia Duna, além, é claro, de demonstrar respeito pelo material original. E para tal precisou contar com a ótima atuação do talentoso Timothée Chalamet, bem diferente de seu papel simpático em Wonka.
Em Duna – Parte 1, ambientada no longínquo ano de 10.191, ele era o jovem magrelo Paul Atreides, que vivia em Caladan, com seu pai Duque Leto Atreides (Oscar Isaac) e a mãe Jessica (Rebecca Ferguson), quando foram designados para assumir os feudos do planeta desértico Arrakis, também conhecido como Duna, e que, além de vermes subterrâneos gigantescos atraídos por pisadas no solo, possui uma importante especiaria, necessária para o domínio da percepção e das viagens espaciais, sendo o produto mais valorizado em todo o universo. Quando os Atreides são dizimados pelos Harkonnen devido uma traição, Paul fugiu para o deserto com a mãe, buscando abrigo com os locais, denominados Fremen, e que têm como característica os olhos azuis pelo contato com a especiaria.
O primeiro filme terminou com o desafio mortal proposto pelo guerreiro Jamis (Babs Olusanmokun) para aceitá-los no convívio. Paul vence, e ele finalmente está pronto para aprender com os Fremen, com o respeito do líder Stilgar (Javier Bardem), e ainda se aproximar da garota de seus sonhos, Chani (Zendaya). Como acontece no longa original, a Parte 2 tem início com a narrativa da princesa Irulan Corrino (Florence Pugh) colocando o espectador a par dos acontecimentos anteriores e sugerindo que Paul possa estar vivo.
Convivendo com os Fremen, Paul se aproxima dos guerreiros no ataque às patrulhas de Harkonnen, mesmo que poucos acreditem que ele seja o “salvador” mencionado na profecia, até adquirir o respeito em alguns confrontos, em novos testes propostos como o de domar um verme até se tornar um guerreiro Fedaykin, adquirindo um nome em referência a um ratinho do deserto. Jessica bebe a Água da Vida e “morre” para renascer e ocupar o lugar da moribunda Reverenda Mãe Mohiam (Charlotte Rampling), recebendo memórias de seus ancestrais e permitindo a comunicação com sua filha ainda no ventre Alia (Anya Taylor-Joy em uma pontinha de dez segundos não creditada).
Enquanto ele vai conquistando respeito e admiração, além de inveja e uma certa desconfiança, do outro lado o Barão Harkonnen (Stellan Skarsgård) prepara seu guerreiro, Feyd-Rautha (Austin Butler), visando uma liderança e uma ocupação como Kwisatz Haderach. Atormentando com visões de uma guerra em grandes proporções, Paul se une a Gurney Halleck (Josh Brolin) em busca de armamentos em um estoque secreto, bebe também a poderosa Água da Vida e vai adquirindo um novo perfil, desagradando Chani em seus discursos inflamados e interesse em se unir em matrimônio com Irulan. Todos os caminhos, norte e sul, vão preparando o terreno para uma guerra que poderá atrair outras casas, necessitando talvez de um comando frio e preparado.
Em visuais belíssimos, mensagens atuais sobre genocídio e poder, Duna – Parte 2 é uma potência cinematográfica épica. Conta com grandes presenças no elenco, com atuações impressionantes como a de Stellan Skarsgård, que já havia mostrado força expressiva no primeiro, Christopher Walken no papel do Imperador, e Dave Bautista, como o guerreiro Rabban. Além das boas atuações – nem é preciso enaltecer os efeitos especiais -, vale mencionar as necessárias mudanças no roteiro de Villeneuve e Jon Spaihts, sabendo fortalecer as referências às guerras atuais (impossível não comparar com a situação Rússia-Ucrânia, Israel-Hamas…) e o crescimento feminino no enredo, destacando as personagens de Zendaya e Ferguson.
A fotografia de Greig Fraser continua primorosa nesta segunda parte. Realmente criou-se um mundo próprio, explorando os vários cenários do planeta deserto, as gigantescas estruturas de captação das especiarias e os vales. Soma-se à ambientação a belíssima trilha incidental do experiente Hans Zimmer, além de outros aspectos técnicos que podem ser enaltecidos, como design de produção, figurinos e edição. Não seria injusto imaginar uma quantidade significativa de indicações ao próximo Oscar – com boas chances de conquista – pela recriação acertada de Duna.
Duna – Parte 2 é um excelente complemento da primeira parte, sem a aceleração e a bagunça narrativa do longa de 1984. Precisava realmente de um diretor competente como Villeneuve para saber dar o trato ideal ao riquíssimo material concebido por Frank Herbert. Agora, é torcer pelo desenvolvimento de uma bem-vinda parte 3!