Duna – Parte 1 (2021)

4.9
(10)

Duna - Parte 1
Original:Dune: Part One
Ano:2021•País:EUA, Canadá
Direção:Denis Villeneuve
Roteiro:Denis Villeneuve, Eric Roth, Jon Spaihts, Frank Herbert
Produção:Cale Boyter, Joseph M. Caracciolo Jr., Howard Ellis, Ildiko Kemeny, Fuad Khalil, Munir Nassar, Mary Parent, Denis Villeneuve
Elenco:Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jason Momoa, Stellan Skarsgård, Stephen McKinley Henderson, Javier Bardem, Sharon Duncan-Brewster, Josh Brolin, Chang Chen, Dave Bautista, David Dastmalchian, Zendaya, Charlotte Rampling, Babs Olusanmokun

O primeiro ponto a se observar nessa nova adaptação é a sua duração, dividida em dois longas com mais de duas horas de duração. Realmente adaptar o pontapé inicial de Frank Herbert, lançado em 1965 e considerado um dos livros mais vendidos de ficção científica no mundo, em apenas um filme, como tentou fazer David Lynch em 1984, é impraticável. O rico universo de personagens, grandiosas ambientações, vermes gigantes e combates de naves e guerreiros precisaria de um tempo maior de tela, até mesmo para evitar uma confusão pelo excesso de informações. E a produção deve envolver efeitos especiais que respeitem a proposta para uma imersão mais completa e visualmente adequada do espectador.

Começou a ser desenvolvido em 2011, quando a Legendary Entertainment adquiriu os direitos sobre a obra. Os direitos de filme e TV somente vieram em 2016, com o interesse de Denis Villeneuve em comandá-lo, desde que o estúdio pudesse aguardar a finalização de seus dois filmes, A Chegada (2016) e Blade Runner 2049 (2017), duas produções que já serviram de cartão de visitas para que o cineasta se mostrasse apto a dirigir uma obra grandiosa de ficção científica. Trazendo boa parte de sua equipe particular para o novo filme, o roteiro já foi desenvolvido para duas partes devido à complexidade de adaptação. Villeneuve conhecia o longa de Lynch, mas optou acertadamente por desenvolver uma nova adaptação e não uma refilmagem, simplificando o enredo e enaltecendo a poesia e atmosfera presentes no livro original. E, claro, há liberdades criativas, como o fato do diretor desenvolver o empoderamento feminino, algo não visto na obra de 1965, em que as mulheres não tinham a mesma importância no enredo e no combate aos inimigos.

Com uma longa pré-produção, no desenvolvimento de cenários e figurinos, no design de produção e trato com a fotografia, as filmagens tiveram início em 18 de março de 2019, e foram concluídas em julho do mesmo ano. A estreia mundial aconteceu, com as interrupções pela epidemia do Covid-19, em 3 de setembro de 2021, passando por festivais, telas IMAX e até com pincelada no streaming, e mesmo assim a Parte 1 fez mais de US$400 milhões pelo mundo para um orçamento estimado em US$165 milhões. Foi bem quisto pela audiência e críticos, conquistando seis Oscars e três Globos de Ouro por questões técnicas, como a belíssima trilha sonora de Hans Zimmer, além de muitos outros prêmios e o apontamento como Melhor Filme de 2021 pelo American Film Institute. Será que todos esses elogios e conquistas podem ser considerados exageros ou são méritos do trabalho desenvolvido?

Pode-se dizer que são méritos. Duna – Parte 1 é um épico de ficção científica, com excelentes efeitos especiais e respeito à obra original. Anos-luz melhor do que a tentativa frustrada de David Lynch em 84, não precisando de metáforas oníricas, é um longa mais acessível e divertido. O enredo, de 2h30, traz a metade do que Lynch fez em um único filme, sem a necessidade de se arrastar em melodramas. Desenvolvida por Villeneuve, Jon Spaihts e Eric Roth, a trama se passa no ano 10.191, com o Duque Leto Atreides (Oscar Isaac), do Planeta Caladan, sendo designado pelo Imperador Padishah Shaddam IV, em substituição ao Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård), para comandar o feudo de Arrakis, um planeta desértico também conhecido como Duna e que possui a principal especiaria do universo.

A tal especiaria, capaz de permitir o domínio da percepção e viagens espaciais, é cuidada em Arrakis por gigantescos vermes subterrâneos, atraídos por movimentação no solo, e também pelos nativos locais, chamados Fremen. É claro que a denominação de Shaddam já é sinal de sua parceria com a Casa Harkonnen, inimigos declarados dos Atreides, tendo o apoio de suas tropas Sardaukar. Leto é o companheiro de Lady Jessica (Rebecca Ferguson), que havia prometido à irmandade Bene Gesserit, seres que possuem habilidades mentais avançadas, que teria uma herdeira, a poderosa Kwisatz Haderach, mas ela optou por ter um filho, Paul (Timothée Chalamet), treinado pelo guerreiro Duncan Idaho (Jason Momoa) e com o apoio do médico Dr. Wellington Yueh (Chang Chen).

Atormentado por pesadelos e visões do futuro – sem os excessos enjoativos de Lynch -, Paul é aprovado pelo teste de impulso, com a mão na caixa, e constantemente desafiado por sua mãe a desenvolver “a voz“, uma capacidade de domínio mental. Ao chegar a Arrakis, Paul é quase assassinado por um objeto caçador, sem saber que ali há um traidor, enquanto Leto tenta negociar com o chefe dos Fremen, Stilgar (Javier Bardem), uma paz momentânea. Sem sucesso, as tentativas conduzirão a uma grandiosa batalha, permitindo que Paul e Jessica conheçam os nativos, como a presente nos sonhos do rapaz, Chani (Zendaya), e ainda confrontem os vermes malditos, engolidores de estações de refinaria.

Mesmo sendo apenas a primeira parte da adaptação, Duna – Parte 1 faz um trabalho belíssimo, com batalhas e confrontos, destacando as ações de Jason Momoa – uma escolha acertada do elenco – e excelentes efeitos especiais. O planeta Arrakis é visualmente impressionante, com suas dunas e montanhas, assim como os dirigíveis, se assemelhando a insetos. Paul ainda está em sua fase de construção de confiança, amadurecimento, e Timothée Chalamet, com seu físico de adolescente magrelo, como observado por Duncan, faz bem o papel de alguém em processo de crescimento. Também vale destacar o papel fortalecido pela proposta de Rebecca Ferguson, indo além de uma mãe temerosa pelo futuro do filho para alguém disposto a liderar a resistência.

Li muitas críticas que apontaram o filme como chato, beneficiado apenas pelos aspectos técnicos. Depois de ter revisto o de Lynch e consciente do que a narrativa original propõe, achei o resultado bem satisfatório, condizente e respeitoso. Talvez não precisasse de toda essa longa duração em dependência de uma adaptação mais fiel, mas eu gostei do resultado, principalmente por ter me deixado ansioso pela continuação. Villeneuve fez uma ótima leitura do trabalho original e deve ser enaltecido pelo seu esforço em dar a Duna o trato épico que merece.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Duna – Parte 1 (2021)

  • 26/02/2024 em 00:37
    Permalink

    Não consegui assistir até o final. Esse moleque com cara de peixe morto ser o Paul Atreides é uma verdadeira ofensa aos leitores do livro; e esse diretor…um funcionário competente, burocrático e obediente dos grandes estúdios, que faz filmes bem-feitos e sem marca autoral.

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