Mad Max 2: A Caçada Continua
Original:Mad Max 2
Ano:1981•País:Austrália Direção:George Miller Roteiro:George Miller, Terry Hayes, Brian Hannant Produção:Byron Kennedy Elenco:Mel Gibson, Bruce Spence, Michael Preston, Max Phipps, Vernon Wells, Kjell Nilsson, Emil Minty, Virginia Hey, William Zappa, Arkie Whiteley |
Antes de retornar ao universo Mad Max, George Miller pensou em trabalhar em uma outra produção autoral. Até recusou assumir o comando de Rambo – Programado para Matar (1982) para se dedicar a um filme de rock’n’roll, intitulado provisoriamente de “Roxanne“. Como o projeto não vingou, achou que seria o momento de trazer um capítulo dois na saga pós-apocalíptica, com mais ousadia, extravagância e recursos. Recrutou um outro roteirista iniciante, Terry Hayes (que depois se destacaria em produções como Limite Vertical e Do Inferno), inspirando-se no livro “O Herói de Mil Faces“, de Joseph Campbell, no trabalho de Carl Jung e nos filmes de Akira Kurosawa. Mad Max 2 prometia algo ainda maior que o primeiro.
A sequência precisaria ir além do que fora mostrado no primeiro filme. Mostrar Mad Max (Mel Gibson) como um “guerreiro da estrada” seria um bom caminho, desde que ele evidenciasse a amargura de um homem que não tem mais nada a perder, depois da morte de sua família. E ele não devia ser visto como um herói, um justiceiro do deserto, disposto a ajudar pessoas que estão tendo problemas com gangues. Talvez o passado sirva para a construção de heróis dos quadrinhos, mas não para o mundo proposto por Miller. Com mais doses de insanidade e extravagância, com algumas camadas punk, a realidade de Mad Max 2 basicamente apaga qualquer vestígio do anterior, sem patrulheiros, distante do lugar-comum.
Inicia-se com uma narração (Harold Baigent) que resgata em preto e branco cenas do primeiro filme, para servir de contexto para o protagonista:
“Minha vida desaparece. A visão escurece. Tudo o que resta são memórias. Lembro-me de um tempo de caos… sonhos arruinados… esta terra desperdiçada. Mas, acima de tudo, lembro-me do Guerreiro da Estrada. O homem que chamamos de “Max”. Para entender quem ele era, você tem que voltar para outro tempo… quando o mundo era movido pelo combustível negro… e o deserto brotou grandes cidades de tubos e aço. Foi-se agora… Varrido. Por razões há muito esquecidas, duas poderosas tribos guerreiras entraram em guerra e provocaram um incêndio que engoliu a todos. Sem combustível não eram nada. Tinham construído uma casa de palha. As máquinas trovejantes respingaram e pararam. Seus líderes conversavam, conversavam e conversavam. Mas nada conseguiu conter a avalanche. O mundo deles desmoronou. As cidades explodiram. Um turbilhão de saques, uma tempestade de medo. Os homens começaram a se alimentar dos homens. Nas estradas era um pesadelo em linha branca. Apenas aqueles veículos sendo o suficiente para caçar, para saquear; somente os brutais sobreviveriam. As gangues tomaram as rodovias, prontas para guerrear por um tanque de suco. E nesse turbilhão de decadência, homens comuns foram espancados e esmagados… homens como Max… o guerreiro Max. No rugido de um motor, perdeu tudo… e tornou-se uma concha de um homem… um homem queimado, desolado, um homem assombrado pelos demônios de seu passado, um homem que vagou pelo deserto. E foi aqui, nesse lugar devastado, que ele aprendeu a viver novamente.”
A bordo de seu V8, em companhia de um cachorro, ele confronta uma gangue de saqueadores, liderada pelo punk Wez (Vernon Wells), e, com sua espingarda serrada, afasta a ameaça para, por fim, inspecionar um veículo de reboque derrubado. Em sua jornada pelo deserto, ele encontra um girocóptero aparentemente abandonado, planejando roubar seu combustível, até descobrir o piloto (Bruce Spence) camuflado pela areia. Ao render o piloto, ele diz saber de um lugar em que há muito combustível, uma refinaria de petróleo onde há uma comunidade, invejada por motoristas e gangues que circundam na expectativa de invadir o local.
Max até testemunha um casal sendo atacado pelo grupo, mas nada faz, deixando claro o quanto não mais se importa. Ele utiliza o rapaz sobrevivente do casal como acesso à comunidade, pensando em trocá-lo por combustível. O líder local, Pappagallo (Michael Preston), até estava disposto a honrar o acordo, mas o item de troca não resistiu aos ferimentos. Com a aproximação dos invasores e uma ameaça de uma invasão no dia seguinte, Max sugere um novo contrato: ele traz o caminhão de reboque para que o grupo possa fugir dali com os tanques de combustível em troca de devolução de seu V8 completamente abastecido. Apesar de problemas com outros carros no percurso, ele consegue trazer o veículo, pensando em ir embora após ter feito sua parte. Mas, assim que deixa a comunidade, é violentamente atacado, seu veículo é completamente destruído, e ele é salvo pelo piloto.
Assim, mesmo bastante ferido, ele se oferece para guiar o reboque com os tanques, sabendo que serão acompanhados pelos saqueadores, incluindo Wes e o fortão “Lord Humungus” (Kjell Nilsson), que utiliza uma máscara de hóquei, um ano antes de Jason Voorhees passar a usá-la contra jovens de acampamento. Também se destaca entre os personagens peculiares do universo de George Miller um garoto selvagem (Emil Minty) com um bumerangue de metal, encontrando caminhos para se esconder em buracos e mostrando afeição por Max, depois que este lhe dá uma caixinha de música.
A fuga da comunidade pelo deserto resgata o estilo “road movie” que tornou a franquia conhecida. Pessoas saltando entre veículos, com armas de flecha, enquanto o girocóptero solta coquetéis molotov, e a longa perseguição pela estrada estão entre os melhores momentos de Mad Max 2. Carros sendo explodidos e destruídos, pneus sendo estourados, corpos caindo pelo caminho com a expressão da insanidade dos invasores, e Max no comando do veículo automotor pelo deserto expressam a evolução da produção em relação ao anterior. Todas essas sequências de ação, muito bem realizadas, dão o tom do entretenimento que, obviamente, refletiu na crítica especializada.
Diferente de algo “sujo e incoerente” ou “peru“, como foi caracterizado o primeiro, Mad Max 2 foi um grande sucesso de bilheteria e crítica. Como o primeiro não teve o retorno esperado nos EUA, o longa foi lançado por lá sem vínculo com o anterior, intitulado “The Road Warrior“, mesmo que o prólogo tenha apresentado cenas de Mad Max. A continuação então ajudou no lançamento do VHS do primeiro pela Vestron Video, que explorou a ideia na chamada: “o emocionante filme que antecedeu The Road Warrior“. Agora os críticos elogiavam a continuação com frases como “cinema habilidoso” e “um filme de pura ação, de energia cinética” (Roger Ebert).
Conquistando prêmios no 24º Australian Film Institute e no 10º Saturn Awards, incluindo Melhor Direção e Melhor Ator, Mad Max 2 é, sem dúvida, o ponto alto da primeira trilogia. Agora há uma linha narrativa mais interessante, além de mais doses de brutalidade e entretenimento, explorando veículos diversos, com suas características peculiares e personagens doidos. E ainda que Gibson não expresse a fúria vingativa do anterior, está bem mais à vontade como o anti-herói Max, frio e egoísta, herdando mechas brancas de Toecutter. Destaca-se também o carismático Bruce Spence, que, assim como Mel Gibson, retornaria para mais uma aventura na estrada.
Funcionando também como um capítulo à parte, como os demais filmes, é sempre bom rever o guerreiro das estradas em ação, seja em busca de combustível ou no combate aos mais excêntricos sobreviventes de uma Austrália pós-apocalíptica.
Imagina um cara viver no deserto de sunga de couro, máscara de hockey e ter uma veia bizarra pulsando na cabeça o tempo todo.
Lord Humungus é um dos melhores vilões do cinema.