Pluto (2023)

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Pluto
Original:Pluto
Ano:País:Japão
Direção:Toshio Kawaguchi, Yasutomo Okamoto, Fumihiro Yoshimura, Hiroshi Aoyama, Sang Yong Eom, Hiromichi Matano, Masaru Matsuse, Nanako Shimazaki, Kento Shintani, Yoshie Takagi, Kônosuke Uda, Takahiro Umehara
Roteiro:Tatsuro Inamoto, Osamu Tezuka, Naoki Urasawa, Heisuke Yamashita
Produção:Tarô Maki, Masao Maruyama, Yuji Yamano
Elenco:Shinshû Fuji, Yôko Hikasa, Rachel Slotky, Kirk Thornton, Michael Sorich, Erica Schroeder, Mike Pollock, Keythe Farley, Laura Megan Stahl, Jason Vande Brake, River Kanoff, Toshio Furukawa, Romi Park, Mamoru Miyano

“Infelizmente, acredito que seja muito difícil que o mundo vá em uma boa direção. Acho que o mangá pode ter tanto a função de alertar a sociedade quanto oferecer um lazer para as pessoas que vivem o duro cotidiano”
– Naoki Urasawa

Quando o quadrinista japonês Naoki Urasawa escolheu criar uma interpretação pessoal de um arco clássico de Astro Boy, de Osamu Tezuka, ele optou por transmitir a mensagem acima. Assim, quando o autor de grandes obras distópicas e de forte impacto psicológico como 20th Century Boys e o aclamado Monster transformou o infanto-juvenil O Maior Robô da Terra em Pluto, ele não se limitou a seguir apenas o caminho sombrio que suas obras geralmente percorrem, mas nos fez questionar se a humanidade é apenas um ciclo de ódio junto com a esperança de uma verdadeira evolução que talvez nunca exista.

Com o próprio mangá de Pluto se tornando um clássico moderno, um ousado projeto de adaptação em anime começou ainda em 2017. Um desafio para a área de animação japonesa que só foi concluído em 2023, quando passou a ser também produzido pela Netflix, que adquiriu os direitos de distribuição e realizou o lançamento mundial em oito episódios de quase uma hora cada.

Em Pluto, somos apresentados a um mundo que beira a perfeição. O ambiente global é de paz, o avanço tecnológico é altamente benéfico à população e, o mais impressionante de tudo, é o desenvolvimento da inteligência artificial a um nível tão avançado que praticamente todos os robôs são conscientes, considerados cidadãos e têm seus direitos assegurados por lei. No entanto, esse ambiente de paz é drasticamente abalado quando um dos sete robôs mais avançados e poderosos do mundo, Mont Blanc, é encontrado morto na floresta que protegia, com sua cabeça arrancada do corpo e chifres colocados nela. A tristeza é generalizada, e outro robô desse mesmo grupo, o investigador policial Gesicht, é encarregado de conduzir o macabro caso.

À medida que descobre que o grupo dos sete está em completo perigo por uma força descomunal e sem explicações lógicas, Gesicht percebe que ele próprio está com a vida em jogo. Enquanto se afeiçoa e recebe a ajuda de Atom, o Astro Boy, ele descobre que a perfeição daquele mundo teve seu preço. Um preço que ele e os outros seis grandes robôs ajudaram a pagar, um preço em vida, em sangue, de humanos e robôs, um preço maior que qualquer outro, que, mesmo tendo garantido a paz, alimentou o ódio por anos e agora cobra sua parte, à medida que cada um dos sete é caçado e tem seus legados transformados em pó pelo senhor da morte, Pluto.

Com essa premissa, Pluto se transforma em um debate abrangente sobre diversos temas, incluindo a ética da inteligência artificial, além de servir como uma alegoria do preconceito enfrentado pelos robôs conscientes que formam laços familiares, assemelhando-se às questões enfrentadas pelos imigrantes na sociedade atual. Também aborda a busca por identidade e o potencial destrutivo da tecnologia.

Mas mais do que isso, Pluto é um slasher cyberpunk.

A premissa básica de um assassino à solta na busca por alvos específicos daquela sociedade que aparenta ser tão estável escancara uma farsa política e social que, por si só, já seria incrivelmente interessante, mas Urasawa é um especialista em criar narrativas que aprofundam seus personagens, e é por isso que o sabor de Pluto é tão deliciosamente amargo.

O próprio primeiro episódio já nos prende completamente ao mostrar, além da morte de Mont Blanc, o arco do robô de guerra North No. 2, que nos tempos de paz passa a trabalhar como mordomo para um premiado músico cego. Isso cria um embate crescente entre o desprezo do humano pelas máquinas e a surpreendente paixão do robô pela música, sua admiração pelo mestre e um trauma sem igual pelo conflito do qual fez parte, tudo isso gerando um redemoinho de emoções que conflitam em um final devastador, daqueles que apenas Urasawa é capaz de criar com arcos dentro de arcos.

O apego aos personagens é uma armadilha sem igual, uma marca do autor. E o apego criado principalmente por um Gesicht aparentemente impotente e pelo eterno menino perfeito, Atom, é difícil de desvencilhar, para em seguida ver esses personagens enfrentarem não apenas Pluto, mas a si mesmos e um mundo cíclico de ódio.

Um pouco aquém da perfeição, a série em anime peca em seus momentos finais de desfecho, um tanto simplista, e Urasawa, em seus enredos, às vezes parece exageradamente óbvio naquilo que quer criticar (um preconceituoso com robôs, líder de um movimento contra seus direitos, chama-se Adolf), embora subtextos possam ser encontrados o tempo todo.

E, é importante ressaltar, tecnicamente Pluto é uma obra-prima, com uma animação como poucas vistas, absurdamente bela e bem acabada, ainda que com a mistura de modelos tradicionais e o uso de computação gráfica. A trilha sonora e a dublagem alcançam o mesmo nível. Com isso, o resultado final é impressionante, numa história marcante de várias maneiras, que brinca com a convergência de tantos gêneros e nos faz acreditar que robôs são realmente capazes de chorar.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

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