Daughter of the Sun
Original:Daughter of the Sun
Ano:2023•País:EUA, Canadá Direção:Ryan Ward Roteiro:Ryan Ward, Mackenzie Leigh Produção:Ryan Ward, Mackenzie Leigh Elenco:Ryan Ward, Nyah Perkin, Lennox Leacock, Courtney Sawyer, Ryan Giesen, Laura Mac, Cooper Lee Smith |
Um pai e uma filha de 12 anos têm uma vida na estrada, dormindo em hotéis baratos que o pai paga com os trabalhos simples que consegue arranjar, situação que é mais complicada ainda pois ele sofre de síndrome de Tourette. Ambos estão fugindo de algo, ou alguém, ou mais de um alguém, e sua fuga os leva a encontrar um grupo de pessoas que parecem viver da mesma forma, também se escondendo e em fuga.
Daughter of the Sun é um drama com elementos sobrenaturais canadense, com direção, roteiro e estrelado por Ryan Ward, que interpreta Sonny Johnns, o pai, que, além do problema neurológico, também tem uma estranha e misteriosa habilidade de cura pelas mãos. Acompanhamos a jornada dos dois através dos olhos, ou melhor, pela narração de Hildie Johnns (Nyah Perkins), a filha, e sua preocupação com seu pai e sua percepção de sua vida um tanto especial.
O filme é uma continuação direta de Son of the Sunshine, de 2009, também de realização (direção, roteiro e protagonizado) de Ward, que contou a história de Sonny e a tentativa de um procedimento cirúrgico que curaria a síndrome de Tourette, mas removeria sua habilidade curativa. Sonny escapou e fugiu com sua filha. Agora, acompanhamos sua fuga e batalha pela sobrevivência.
Com muita dificuldade, os dois parecem estar conseguindo ter uma vida aparentemente normal, até o momento que precisam se mudar da cidade onde estavam, o que é dito por Hildie como não sendo a primeira vez. Continuando sua jornada de fuga, são obrigados a aceitar Glover (Lennox Leacock), namorado adolescente de Hildie, em sua vida e são encontrados por um grupo que se aproxima deles e que se mostra uma alternativa para uma vida calma e pacífica, longe da perseguição e do preconceito. Mas a vida não é exatamente fácil para uma pessoa que esconde habilidades sobrenaturais, e que desconfia que a filha também possa ter tais habilidades.
Este filme é uma rara junção de drama e ficção científica, em que o foco é dado de forma mais ostensiva aos dramas pessoais e particulares dos protagonistas, e nos é mostrado como é a vida de uma pessoa com habilidades especiais e como isso afeta a forma que elas vivem. Não espere nenhuma grande sequência de ação como as que são vistas em grandes produções hollywoodianas, com explosões e perseguições de automóveis. Ter habilidades que não se compreende totalmente não torna uma pessoa um super-herói, mas rouba completamente sua vida, ou a torna algo bem distante do que se desejaria. Sonny vive num misto de medo e apreensão, lutando para conseguir viver e proteger sua filha, ao mesmo tempo que teme ser descoberto e perseguido, e também teme que sua filha tenha os mesmos poderes que ele (ou outros), o que destruiria sua vida como aconteceu com ele.
A cenografia e fotografia é um personagem sempre presente, que mostra tanto a beleza que a jovem Hildie vê o mundo quanto a solidão que ela percebe em seu pai e ao redor. A direção de Ward é segura e delicada, com grandes momentos intercalados de longas passagens reflexivas e tocantes. A crueza da realidade é apresentada como pano de fundo que destacam momentos de beleza sutil e comovente, momentos intencionais pela mão do diretor, que mostra como as coisas poderiam ser, mas que são privadas aos protagonistas, o que aumenta ainda mais a decepção do espectador quando a história começa a tomar o rumo mais desesperador.
Um dos pontos fortes de Daughter of the Sun é sua sensibilidade ao apresentar a relação da filha com seu pai nessa situação triste e extrema, à margem da sociedade e em confronto (perdido) contra ela. Um filme emocionante, que, mesmo sendo uma continuação, não exige que o espectador saiba do anterior, apresentando toda informação e história anterior necessária de forma natural e orgânica, sem uma exposição forçada e sem menosprezar a inteligência da audiência.
Provavelmente não é um filme para todos, podendo ser um pouco confuso e lento em certos momentos, mas certamente é capaz de gerar alguns questionamentos e reflexões não muito comuns em produções que se propõe a trazer elementos sobrenaturais ou de ficção científica, o que certamente é seu maior acerto.