Fargo
Original:Fargo
Ano:2014-2024•País:EUA Direção:Noah Hawley, Michael Uppendahl, Dana Gonzales, Keith Gordon, Dearbhla Walsh, Sylvain White, Randall Einhorn, Adam Bernstein, Colin Bucksey, Matt Shakman, Scott Winant, Adam Arkin, Jeffrey Reiner, Mike Barker, Donald Murphy, Thomas Bezucha, John Cameron Roteiro:Noah Hawley, Lee Edward Colston, Robert De Laurentiis, Ben Nedivi, Matt Wolpert, Enzo Mileti, Scott Wilson, Steve Blackman, Monica Beletsky, Francesca Sloane, Stefani Robinson, Thomas Bezucha, April Shih Produção:Kim Todd, Regis Kimble, Michael Frislev, Chad Oakes, Leslie Cowan, Craig Yahata Elenco:Allison Tolman, Billy Bob Thornton, Colin Hanks, Jason Schwartzman, Martin Freeman, Russell Harvard, Bokeem Woodbine, Brad Mann, Kirsten Dunst, Ewan McGregor, Chris Rock, Juno Temple, Patrick Wilson, Jessie Buckley, Jennifer Jason Leigh, Jesse Plemons, Mary Elizabeth Winstead, , Keith Carradine, Angus Sampson |
Comecemos pelo mais básico: a série é inspirada no longa-metragem homônimo dirigido por Joel e Ethan Coen em 1996. O filme, passado nas gélidas paisagens da Dakota do Norte, tem como foco Jerry Lundegaard (William H. Macy), um patético vendedor de carros que, endividado, contrata dois bandidos para sequestrar a própria esposa e extorquir dinheiro do sogro. Algo dá errado e entra em cena a impassível xerife grávida interpretada por Frances McDormand, que ganhou o Oscar de melhor atriz pelo papel. O roteiro, também ganhador da estatueta dourada, borbulha de originalidade ao optar por um thriller onde prevalece o humor mórbido, a sátira dissimulada ao american way of life, o nonsense das situações, os atropelos do destino e os personagens bem caracterizados, oriundos de uma América profunda, alguns dignos de pena, outros de nojo, poucos merecedores de torcida, mas nenhum que cause indiferença.
A série segue exatamente a mesma toada, com histórias diferentes em cada temporada, incluindo toques surreais e líricos a essa violenta comédia de erros, sempre referenciando o universo original.
A sensação de aflição com as mazelas que envolvem os personagens e momentos de violência arrebatadora que permeiam o filme se acentuam ainda mais na série, visto que o roteiro de todas as temporadas sabe equilibrar, com grande competência, uma história originalíssima com personagens interessantíssimos, tudo isso encabeçado por um elenco que, das estrelas ao mais coadjuvante dos atores, atua com garra, graça e desenvoltura.
Não é uma continuação e nem prequel do filme, mas tudo em torno da série remete a ele. Então, se puder, para melhor apreciar este produto televisivo, é importante assistir ao Fargo original.
Criada por Noah Hawley (também o responsável pela série Legião) para o canal americano FX (aqui no Brasil o leitor encontrará todas as temporadas na Amazon Prime), tem a produção dos mesmos Joel e Ethan Coen criadores do longa original, responsáveis também por clássicos modernos como Gosto de Sangue (1984), O Grande Lebowski (1998) e Onde os Fracos Não Tem Vez (2007).
A série por vezes supera o longa-metragem em esquisitices e ferocidade, sendo muito bem avaliada pela crítica, tendo recebido várias indicações ao longo dos anos para o Emmy e o Globo de Ouro.
1ª Temporada (2014)
A temporada inicial é a que mais se assemelha ao filme, vencedora do Globo de Ouro de melhor minissérie e de ator para Billy Bob Thorton. Uma conversa informal entre o assassino Lorne Malvo (papel de Thorton) e o vendedor Lester Nygaard (Martin Freeman) desencadeia um aspiral de violência numa pequena cidade de Minesota.
É levemente superior as outras temporadas e conta ainda com presença de Alison Tolman, emulando o papel de Frances McDormand do longa e do venerável Bob Odenkirk, dando um tempo de seu excepcional personagem Saul Goodman (Breaking Bad e Better Call Saul).
2ª Temporada (2015)
Apesar da história ser diferente, tem ligação com a primeira temporada, onde uma carnificina ocorrida numa lanchonete é investigada por um policial (Patrick Wilson). Kirsten Dunst e Jesse Plemons são um show a parte, de um elenco que conta ainda com o ótimo Ted Danson. Tão boa quanto a primeira, com a mesma vibe que mistura thriller, violência e humor ácido.
3ª Temporada (2017)
Essa temporada é um pouquinho inferior se comparada as outras duas, com uma história menos atraente, mas que mesmo assim compensa muito assistir. Não é nenhum esforço acompanhar a frenética história de uma agente da condicional (Ewan McGregor) e sua namorada (Mary Elizabeth Winstead), que tentam roubar um selo valioso de seu irmão gêmeo bem sucedido (novamente McGregor em papel duplo). O excelente David Thewlis rouba a cena cada vez que aparece.
4ª Temporada (2020)
Esta temporada é a que ocorre uma mudança radical de cenário (Kansas City), de tom (emula os filmes de máfia, sem perder o toque inusitado da série) e época (idos dos anos 50) para mostrar o confronto de duas famílias rivais pelo controle de territórios na cidade. Vínculos sanguíneos são testados, a violência corre solta e por vezes o lirismo toma conta da tela. Alguns críticos alertam que é a mais fraca das temporadas…concordo que é, mas ainda assim é melhor que 90% das séries atualmente disponíveis no streaming. Trata de xenofobia, discriminação racial, empoderamento feminino e tem Jessie Buckley arrasando como uma enfermeira homicida.
5ª Temporada (2023)
Uma pacata e inocente dona de casa é sequestrada e consegue escapar de seus raptores. Ao invés de denunciar, ela estranhamente nega o ocorrido, escondendo um passado nebuloso. Grande momento de Juno Temple, Jon Hamm (absurdamente maléfico) e Jennifer Jason Leigh, na temporada mais crítica à extrema direita americana que, de quebra, traz ainda uma bela ode a sororidade feminina. Preste atenção no personagem de Sam Spruell como o bandido Ole Munch, ele é o elemento surreal que permeia a narrativa de forma bastante discreta, mas que tem uma epifania ao final. Bárbaro!
Tanto o filme como os episódios da série iniciam com a seguinte mensagem: “Esta é uma história verídica. Os eventos descritos ocorreram em (nome do lugar) em (ano). A pedido dos sobreviventes, os nomes foram alterados. Por respeito aos mortos, o resto foi contado exatamente como aconteceu”. Essa é uma piada inicial, já que nada do que se vê é baseado em eventos reais. Os diretores explicaram, na época, que queriam fazer um filme de “gênero” história real, sem necessidade de ficar amarrado a uma narrativa verdadeira.
Fargo mostra de forma tragicômica que a imbecilidade humana não tem limites enquanto nós, do lado de cá da telinha, nos divertimos à beça… Um verdadeiro deleite!