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Uma Filha para o Diabo
Original:To the Devil a Daughter
Ano:1976•País:UK, Alemanha
Direção:Peter Sykes, Don Sharp
Roteiro:Christopher Wicking, John Peacock, Gerald Vaughan-Hughes, Dennis Wheatley
Produção:Roy Skeggs
Elenco:Richard Widmark, Christopher Lee, Honor Blackman, Denholm Elliott, Michael Goodliffe, Nastassja Kinski, Eva Maria Meineke, Anthony Valentine, Izabella Telezynska, Constantine Gregory, Anna Bentinck

Apesar de muito mais associado aos papéis de Drácula no cinema, os vilões de Christopher Lee que mais me impressionaram não tinham caninos alongados ou dormiam em caixões, pelo contrário, eram homens comuns, envoltos em maldade absoluta. Em sua vasta carreira, vale destacar o terrível Lord Summerisle, que, em O Homem de Palha (1973), mostrou-se uma figura incômoda, inteligente e ameaçadora. A sequência final, em que ele expôe uma expressão risonha, é um dos momentos mais perturbadores da carreira de Lee. Sem tanto destaque em sua galeria de vilões, o padre excomungado Michael Raynor, de Uma Filha para o Diabo, também às vezes se mostra satírico e constantemente perverso.

Levemente inspirado em um romance homônimo de Dennis Wheatley (de As Bodas de Satã, também com Lee), o filme é mais uma produção que aborda temática satanista, explorando o crescimento de seitas e crenças no ocultismo principalmente na década de 70. A baixa receptividade da crítica, ainda que tenha tido uma boa passagem pelos cinemas, contribuiu para o apagar das luzes do estúdio da Hammer até seu retorno no século seguinte. Foi idealizado como um episódio de uma série de TV que iria abordar o diabo na literatura de Wheatley, mas produtores e o próprio Christopher Lee viam potencial para um longa, mesmo que para tal fosse necessário acrescentar momentos monótonos, em que praticamente nada acontece.

E são esses momentos que consomem boa parte do roteiro de Christopher Wicking e John Peacock, e que depois passou pelas mãos de Gerald Vaughan-Hughes já durante as filmagens. Wicking não gostou do resultado final, assim como o escritor Dennis Wheatley e o ator Richard Widmark, que por diversas vezes chegou a ameaçar abandonar as gravações. Anos depois, foi a vez de Nastassja Kinski repudiar sua atuação no filme, principalmente por ter sido convencida a aparecer completamente nua tendo apenas 14 anos. Para ampliar ainda mais sua condição maldita, o ator Michael Goodliffe, logo após o lançamento, se suicidou. Tudo contribuiu para que o filme somente fosse reconhecido como um horror atmosférico e satanista com o passar dos anos, cultuado por fãs de Christopher Lee e de Kinski.

O filme começa com o padre Michael Raynor sendo oficialmente excomungado por suas práticas consideradas hereges. Vinte anos depois, ele comanda uma seita religiosa chamada Filhos do Senhor em uma ilha na Baviera. A jovem Catherine Beddows (Kinski), prestes a completar 18 anos, deixa o convento e a ilha para a próxima etapa de sua ordenação. Assim que chega ao aeroporto, ela é abordada pelo escritor de ocultismo John Verney (Widmark), a pedido do pai de Catherine, Henry Beddows (Denholm Elliott), consciente que a filha está envolvida em um culto satânico.

Embora não acredite em muito de suas próprias pesquisas e ache que boa parte desses cultos não sejam verdadeiros, John leva a jovem para casa em Londres e pede ajuda ao casal de amigos, Anna (Honor Blackman) e David (Anthony Valentine), temendo que os seguidores possam vir atrás dela para a celebração de seu aniversário. Ao mesmo tempo, Raynor é visto em seu modus operandi, auxiliando nos processos finais da gravidez de Margaret (Izabella Telezynska), membro do culto. E também Henry se vê obrigado a enfrentar um dos seguidores numa tentativa de descobrir o paradeiro de Catherine.

Através de magia e do pingente de Astaroth que ela mantém no pescoço, Raynor tenta atrair Catherine, ao passo que John faz uma investigação sobre o culto, sua antiga sede, percebendo logo que se trata de uma ameaça verdadeira. Resta saber se ele, com a ajuda de Henry e David, conseguirá convencê-la da intenções do culto de oferecê-la como hospedeira do demônio, e conseguirá impedir a realização do ritual.

Uma Filha para o Diabo é centrado nessa conspiração satânica, envolvendo possessão, assassinato e um bebê demônio. Enquanto muitos críticos compararam o filme com O Exorcista, lançado três anos antes, eu o vejo inspirado em O Bebê de Rosemary, até mesmo em seu ritmo cadenciado e atmosférico. Evidencia alguns problemas, como a atuação pouco carismática de Nastassja Kinski, demonstrando ainda não estar muito à vontade diante das câmeras, e o final anticlimático com efeitos ruins e sem conclusão – Wheatley chamou o final de “obsceno“.

Pode-se, claro, enaltecer algumas atuações, destacando o veterano Richard Widmark (de Assassinato no Expresso do Oriente, 1974) como o especialista em ocultismo; Denholm Elliott (de dois filmes da franquia Indiana Jones) como o aterrorizado pai de Catherine, e Christopher Lee, mais uma vez expressando perversidade em seu riso maléfico. Apesar do trio de atores, o filme é bem simples, feito com pouca ousadia e quase inexistentes elementos de horror. Está longe de ser tão ruim como apontaram críticos na época, mas também não está entre os destaques da carreira de Lee.

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