Não Solte!
Original:Never Let Go
Ano:2024•País:EUA, Canadá, França Direção:Alexandre Aja Roteiro:KC Coughlin, Ryan Grassby Produção:Alexandre Aja, Dan Cohen, Dan Levine, Shawn Levy Elenco:Halle Berry, Percy Daggs IV, Anthony B. Jenkins, William Catlett, Kathryn Kirkpatrick, Georges Gracieuse, Matthew Kevin Anderson, Cadence Compton, Christin Park, Stephanie Lavigne, Mila Morgan |
Uma mãe e seus dois filhos vivem numa casa afastada, no meio de uma floresta, tentando sobreviver num futuro pós-apocalíptico e sitiados pelo Mal, uma entidade sobrenatural que causou uma catástrofe no mundo todo, sobrando apenas eles.
A principal luta da Mãe (Halle Berry, cujo personagem só é chamada de “mãe”) é conseguir comida para seus filhos jovens, Samuel (Anthony B. Jenkins) e Nolan (Percy Daggs IV), em um cenário em que a natureza não colabora muito. A situação tem mais um agravante com a constante vigilância do Mal, uma entidade malévola que espreita na floresta, sendo vista apenas pela mãe.
Os três protagonistas estão seguros dentro da casa, que foi construída especialmente para proteger as pessoas contra o Mal. Mas três longas cordas, amarradas no coração da casa, estendem essa proteção a quem segura ou tem amarrada em si a outra ponta, o que os permite sair em busca de comida, coletando ou plantando alguma coisa. A região ao redor, apesar de ter muitas árvores e bastante vegetação, parece não ter muita vida animal ou frutos ou vegetais comestíveis (talvez resultado do evento que causou o tal apocalipse ou ação do “Mal”).
Um dos filhos, Nolan, começa a duvidar da existência desse Mal (que só é visto pela sua mãe, que aos poucos parece ter problemas psicológicos) e, com a chegada do inverno e a falta de comida, se questiona se eles devem ficar isolados e morrer de fome, ou sair da casa e ir para além da extensão da corda, soltando-a e buscando ajuda no mundo exterior, que ele começa a acreditar que possa existir. E o Mal, ele existe mesmo?
O diretor Alexandre Aja nos apresenta uma história com uma trama inicialmente simples, numa situação limítrofe e angustiante, com protagonistas lutando pela sua vida contra um oponente teórico (ou não) e um oponente ainda mais opressor, a fome. Os detalhes da história nos são mostrados aos poucos, enquanto os eventos vão piorando lentamente, espiralando num clima frio e de abandono, que aumenta cada vez mais o medo do Mal que cerca a casa.
De forma suave, o diretor vai alimentando o espectador com dúvidas e informações que podem não ser verdadeiras, levando-os a desacreditar de certas coisas essenciais… os fazendo crer que os fatos levarão os protagonistas para um caminho diferente do que se imaginava originalmente… para em seguida dar mais dúvidas e possíveis desinformações, ao ponto de que nós mesmos nos questionamos sobre o que estamos vendo. O Mal existe mesmo? O que a Mãe diz que aconteceu é verdade?
E mesmo no meio desses questionamento a história vai aumentando a tensão ao redor do tema do título, que no original é “Never Let Go”, que é mais do que apenas soltar a corda, algo como não desistir, não abandonar ou largar, seja os irmãos ou a mãe, a proteção da casa ou suas crenças. O horror vem da situação terrível e que certamente causará a morte dos três, do Mal que espreita e os tenta e, de uma forma ainda mais insidiosa, da dúvida de que suas próprias crenças podem ser mais perigosas a eles do que qualquer entidade sobrenatural.
Mas a dúvida e incerteza não deixam Não Solte! se tornar um filme confuso ou complicado de se entender, e estão na trama de forma ironicamente direta, aumentando cada vez mais a sensação de insegurança e medo. O diretor é muito hábil em equilibrar esses elementos complicados sem alienar o público da sua história tensa, fria e assustadora. As ótimas atuações dos três protagonistas também são um ponto importante do filme, nos pegando pela garganta para que possamos sentir sua condição e o que estão sofrendo.
O terror pode não ser tão evidente, ou explícito, mas está lá, cada vez mais presente na floresta e na vida dura e terrível dos três protagonistas, mais assustador e mais tenso, sempre com cenas e sequências com uma excelente fotografia, um bom gosto imenso, até mesmo nas horas de mostrar elementos horrendos e assustadores, com a cena do corvo ou a do cadáver da garota presa em um buraco. Os sustos e pesadelos e alucinações causadas pelo Mal (que pode assumir qualquer forma ou aparência) são hediondos, mas ainda assim de bom gosto.
Não Solte! é um filme de terror que começa com uma premissa que parece simples e direta, mas que é mais do que aparenta, e a cada momento vamos descobrindo fatos que podem questionar o que já sabíamos, para em seguida nos colocar ainda mais em dúvida sobre o que está acontecendo.
E o diretor sabe que, dessa dúvida e incerteza, surge o mais angustiante dos medos.