5
(2)

Natal Sangrento 2 - Retorno Macabro
Original:Silent Night, Deadly Night Part 2
Ano:1987•País:EUA
Direção:Lee Harry
Roteiro:Lee Harry, Joseph H. Earle, Dennis Patterson, Lawrence Appelbaum
Produção:Lawrence Appelbaum
Elenco:Eric Freeman, James Newman, Elizabeth Kaitan, Jean Miller, Darrel Guilbeau, Brian Michael Henley, Corrine Gelfan, Michael Combatti, Frank Novak, Randall Boffman

O toque de Will Hare no braço de Danny Wagner foi o primeiro de uma série de traumas na concepção do Papai Noel assassino. Depois, Billy veria os pais serem mortos com violência, iria para um orfanato e sofreria punições da Madre Superiora (Lilyan Chauvin) por testemunhar uma freira fazendo sexo, apanharia, seria amarrado a uma cama até se tornar um adulto (Robert Brian Wilson) com gatilhos perigosos em dezembro. Ao perder uma opção de paquera para o insuportável colega de trabalho, Billy faria uma trilha de corpos, enforcando, atirando flechas, usando um machado e até um canivete. Natal Sangrento (Silent Night, Deadly Night, 1984), de Charles E. Sellier Jr., não foi um slasher inovador, mas teve um ponto de partida interessante, com boas mortes, belos corpos nus e a presença sempre válida da scream queen Linnea Quigley.

O final apontava uma possibilidade de continuação: o irmão de Billy, Richard, deixava traços de uma herança sangrenta. No entanto, para se fazer um filme é preciso orçamento, desenvolvimento de roteiro, alguns efeitos de maquiagem e um elenco no mínimo aceitável – se é a continuação de um slasher, sangue em profusão é sempre bem-vindo. Natal Sangrento 2 – Retorno Macabro (Silent Night, Deadly Night Part 2, 1987) não tem absolutamente nada disso: os baixos recursos e a montagem evidenciam uma produção feita no quintal de algum produtor executivo. Na verdade, se contar as cenas inéditas, é um curta-metragem de pouco mais de 30 minutos, e que completa o restante com a reexibição do primeiro e dez minutos de créditos finais que sobem com a preguiça de seu desenvolvimento.

Sexta-Feira 13 Parte 2 (Friday the 13th – Part 2, 1981) trazia um “previously” do anterior, numa tendência que seria visto em algumas continuações. Mas nada se compara ao que foi feito aqui: se alguém tiver a disposição para maratonar a franquia Natal Sangrento, a sugestão é que comece pelo segundo para não ter a sensação de estar vendo duas vezes seguidas o mesmo filme. A picaretagem é tamanha que até um trecho que não aparece no resumo é mostrado depois numa tela de um “cinema” iluminado e com aparência de gravação em casa. E o flashback é tão absurdo que ele é resgatado até mesmo nas sequências em que o personagem-narrador do começo não estava presente! Isso justifica os longos créditos finais porque quase todo o elenco do primeiro deve ter recebido alguns trocados como se tivesse “atuado” no segundo.

Contudo, o grande demérito da produção responde pelo nome Eric Freeman. Sem dinheiro para investir em algum profissional para assumir o protagonismo e confiante na postura do rapaz, Freeman foi uma aposta bizarra, mas que serviu pelo menos para tornar a produção cult e bem conhecida. Absurdamente canastrão, com movimentos irregulares das sobrancelhas e uma risada artificial de vilão de galhofa mexicana, o ator é um compositor de pérolas e um dos precursores dos memes, principalmente na famosa cena do “garbage day“, onde tudo ali beira a comédia involuntária. É claro que o filme em si é uma porcaria, porém Freeman é o rosto dessa continuação, o único motivo para valer uma conferida no inacreditável pior ator de filmes de terror de todos os tempos. Não sei o que é pior: as “atuações” dele, a montagem horrenda ou a próprio enredo, desenvolvido no roteiro de Lee Harry, Joseph H. Earle, Dennis Patterson e Lawrence Appelbaum – sim, quatro pessoas foram responsáveis por essa narrativa bisonha!

Na trama, se é que pode chamar isso de história, quatro anos depois dos eventos do primeiro filme, o irmão de Billy, Ricky (Freeman) está sendo analisado pelo psiquiatra Dr. Henry Bloom (James Newman), enquanto narra Natal Sangrento inteiro. O décimo terceiro médico a examiná-lo acompanha suas levantadas de sobrancelha e expressões de raiva ao relatar tudo o que aconteceu com Billy no resumo de todas as principais cenas do longa original. Mesmo sendo um bebê no carro, quando os pais foram mortos, Ricky lembra com detalhes como tudo aconteceu em imagens fiéis dos traumas e pesadelos experimentados pelo irmão. Sim, o rapaz recorda até os pesadelos de Billy, conversas de policiais e jovens, ainda que o irmão não estivesse presente. A desculpa dada pelo personagem ao psiquiatra é que Billy lhe contou tudo com detalhes – só não explica como ele sabia da vida adulta de Billy, sendo que não se encontraram depois que ele saiu do orfanato.

Após mais de quarenta minutos de revisão do primeiro, ele começa a dizer o que aconteceu com ele depois que Billy foi morto pela polícia. Ricky foi adotado por uma família judia, os Rosenbergs, e teve uma boa infância, tendo traumas apenas com freiras. Quando seu pai adotivo morre, Ricky, com 17 anos (Darrel Guilbeau) – ele diz que saiu do orfanato com 12 e o pai morreu cinco anos depois -, atropela um homem que abusava de uma mulher, “relembrando” o que aconteceu com sua mãe biológica. Aos 18 (Freeman tinha 22, mas com aparência de 30) – sim, trocaram o ator em uma simples mudança de ano -, ele continua assassinando pessoas aleatórias por serem más, como a famosa morte do guarda-chuva, até conhecer Jennifer (Elizabeth Kaitan, de Sexta-Feira 13 – Parte 7: A Matança Continua, 1988), com quem tenta ter uma vida normal.

No cinema, enquanto assistem à cena do assalto do primeiro filme, Ricky mata um falastrão. No reencontro com um ex da garota, Chip (Ken Weichert), e após ser provocado por ele, a longa cena “exterminador do futuro no garbage day” acontece: ele sai matando várias pessoas como a própria garota, alguns vizinhos, um motorista, numa sequência impagável de absurdos, risadas falsas e olhos arregalados. Esse é o momento que vale o ingresso e que deve reunir amigos para rir enquanto bebe e acompanha o andar robótico, o carro que explode com tiros sem ter ninguém dentro, as aparições de equipamento de filmagem, os disparos que não furam roupas, a menininha do triciclo até sua prisão. Toda a sequência é tão divertida que uma pesquisa no youtube e você encontra edições engraçadas e até remakes dela.

Quando as ações retornam ao presente, o psiquiatra foi morto por Ricky. Ele foge do hospital na véspera do Natal, rouba as roupas de um Papai Noel e parte para terminar a vingança contra a Madre Superiora, agora interpretada por Jean Miller. Residente numa casa de número 666, com o rosto parcialmente deformado em uma maquiagem horrível, a cena final acontece no local, com o assassino caçando-a pela casa com um machado. É a única cena realmente que estabelece uma conexão com o “natal sangrento” do título, envolvendo um assassino natalino. E até o final é bem parecido com o anterior, mostrando que os quatro roteiristas não tiveram uma boa ideia para fechar o longa de maneira satisfatória.

Natal Sangrento 2 é péssimo em todos os sentidos. Vale pela cena clássica e pela diversão provocada em suas falhas, o que pode render boas gargalhadas entre amigos. Como cinema, como continuação de um slasher satisfatório, o filme é picareta e mal realizado. Lee Harry, o diretor por trás dessa bomba, fez depois o longa de ação Gangues de Rua (1991) e dois curtas, dedicando-se somente a trabalhos de edição – nada mais justo pelo que fez nesta produção – e som. Já Eric Freeman apareceu em mais 16 produções, como episódios de TV e alguns filmes menos conhecidos. Embora não tenha topado participar da edição de lançamento do DVD e blu-ray (sim, existem), em 2018, ele atuou no curta Ricky Today – The Caldwell Interview, de Justin Beahm, demonstrando uma melhora significativa na interpretação ao analisar Eric Freeman e o que aconteceu no segundo filme.

Quanto à franquia, depois de Natal Sangrento e Natal Sangrento 2 – Retorno Macabro, foram feitos mais três filmes e uma refilmagem: Natal Sangrento 3: Noite do Silêncio (Silent Night, Deadly Night 3: Better Watch Out!, 1989) e duas continuações não relacionadas aos anteriores, Natal Sangrento 4: A Iniciação (Silent Night, Deadly Night 4, 1990) e Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos (Silent Night, Deadly Night 5: The Toy Maker, 1991). A refilmagem foi lançada em 2012, intitulada Natal Sangrento (Silent Night), de Steven C. Miller. Em 2019, surgiu um outro Natal Sangrento, mas era uma refilmagem de Black Christmas, o primeiro slasher com data festiva, inspirando Halloween e tantos outros.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 2

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

1 comentário

  1. Tá aí um ótimo exemplo de um filme tão ruim que é bom. Eric Freeman salva e ao mesmo tempo destrói o filme rsrsrs.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *