Natal Sangrento 3: Noite do Silêncio
Original:Silent Night, Deadly Night 3: Better Watch Out!
Ano:1989•País:EUA Direção:Monte Hellman Roteiro:Monte Hellman, Rex Weiner, Arthur Gorson Produção:Arthur Gorson Elenco:Samantha Scully, Bill Moseley, Richard C. Adams, Richard Beymer, Melissa Hellman, Isabel Cooley, Eric DaRe, Leonard Mann, Laura Harring, Elizabeth Hoffman, Jim Ladd, Robert Culp, Richard N. Gladstein |
O primeiro ataque do Papai Noel assassino não foi além de um slasher convencional sobre uma data comemorativa. Ainda assim, o longa de Charles E. Sellier Jr. é o único exemplar aceitável em uma franquia de erros e filmes ruins. Apresentou um vilão colecionador de traumas que, com o gatilho da véspera de noite de Natal, após ter perdido os pais de maneira violenta, comete vários assassinatos até ser morto quando estava prestes a findar a Madre Superiora (Lilyan Chauvin) de seus pesadelos. As mortes de um homem com roupas natalinas e a de seu irmão Billy (Robert Brian Wilson) fizeram Richard “Ricky” Caldwell (Eric Freeman) herdar sua voracidade assassina no terrível Natal Sangrento 2 – Retorno Macabro (Silent Night, Deadly Night Part 2, 1987), conhecido como uma das piores produções de todos os tempos graças à reedição do primeiro filme inteiro na narrativa do antagonista e à sua atuação absurdamente ruim. Embora tenha levado dois tiros à queima-roupa no peito, Ricky retornou no terceiro e inacreditável longa, Natal Sangrento 3: Noite do Silêncio (Silent Night, Deadly Night 3: Better Watch Out!, 1989), desta vez sem o carisma canastrão de Freeman.
Lançado diretamente em vídeo, o roteiro de Rex Weiner, a partir de um argumento dele, do diretor Monte Hellman e de Arthur Gorson, traz Ricky (desta vez com a interpretação de Bill Moseley) em coma em um hospital com o cérebro à mostra, permitindo que se veja até um líquido vermelho sobre ele (!!). É importante lembrar que, contrariando a fala do coronel Connely (Robert Culp, veterano de mais de 170 produções e que depois atuaria em Uma Noite de Fúria, 2005), Ricky não levou um tiro na cabeça e nem “espalhou seus miolos“, o que já caracteriza o filme como trash só pela base de sua narrativa. O cérebro dele teria sido reconstruído e está participando de experiências do “cientista louco“ Dr. Newbury (Richard Beymer), que acredita que possa estabelecer uma comunicação com pacientes em coma, com o apoio de psíquicos.
É o que acontece com Laura (Samantha Scully), uma jovem cega que, através de seus sonhos conectados ao de Ricky, consegue encontrá-lo no prólogo, correndo entre salas brancas – o modo como ela corre é até engraçado – para fugir do Papai Noel assassino. Mais um experimento é feito na véspera de Natal, com a garota acordando entre gritos de desespero, pouco antes de se despedir para encontrar o irmão, Chris (Eric DaRe, de Twin Peaks), com cabelos ao estilo Twisted Sisters, dar uma passada no psiquiatra (Leonard Mann) e rumar para Piru, pequena cidade rural com especialidade em cultivo de laranjas, onde reside sua avó (Elizabeth Hoffman).
Laura continua tendo pesadelos com Ricky em breves cochilos, notando até a morte de uma recepcionista. Ao ser incomodado por um funcionário bêbado, vestido de Papai Noel, o assassino desperta matando-o e quem cruzar seu caminho, principalmente por um gatilho envolvendo a cor vermelha. Imaginei até que ele fosse vestir as roupas de Natal, mas optaram por deixar essa caracterização de lado, um dos percalços da produção. Depois de matar um motorista que lhe deu carona, mesmo estando com roupas de hospital e o cérebro à mostra – “Você está bem, amigo?” – ele parte para a casa da avó de Laura, sabendo o caminho pela conexão com a jovem. É tratado bem pela senhora, disfarçando a exposição da cabeça com um chapéu, mas a mata, aguardando a chegada de Laura, Chris e sua namorada Jerri (Laura Harring, de Cidade dos Sonhos, 2001) para perpetuar seus intuitos sangrentos.
Ainda que os pesadelos incomodem em demasia – mas eram muito comuns no cinema de horror da época -, há muitos mais problemas em Natal Sangrento 3 do que se imagina. O ritmo lento, principalmente no segundo ato, pode deixar o infernauta com muito sono. Até o assassinato da vovó – todos do filme acontecem offscreen -, havia um certo dinamismo na narrativa, nos pesadelos de Laura, na caminhada slasher de Ricky até o local. Quando a garota chega à casa e não encontra a avó, os vinte minutos que se seguem são morosos, e não acontece absolutamente nada: Ricky despareceu, Connely e Dr. Newbury partem para Piru em conversas no veículo que não acrescentam coisa alguma, e Chris toma banho com Jerri e dá umas voltas pela região. Só isso. Onde estaria o assassino?
Aliás, há outras perguntas que podem saltar entre os pensamentos do infernauta: por que só Ricky está conectado com Laura e ela, que é a psíquica, não está? Por que a garota tem uma visão da avó dizendo para usar seus poderes psíquicos para enfrentar o assassino e ela não o faz? O que isso acrescenta ao enredo além dos pesadelos? Por que caracterizaram Laura como cega, se isso não serve à produção, além de uma mínima preocupação do espectador, uma vez que é impossível ter qualquer empatia por ela? De acordo com o cientista, Ricky “enxergava” através de Laura, mesmo a jovem sendo cega. Então como ele chegou à casa da avó da garota, se a menina não dirige e não vê o caminho até lá?
Se você imaginava que o assassino ter chegado antes à casa da avó teria alguma relação com Chapeuzinho Vermelho, pode esquecer. A ideia nem é desenvolvida no enredo, assim como os poderes da garota psíquica, e o trauma de Ricky com a cor vermelha. E, pode-se também criticar as atuações: se não temos nenhum exagero na expressividade artificial de Eric Freeman, por outro lado temos um Bill Moseley, figurinha experiente do gênero, andando como um robô – e deve ser pois leva um tiro de doze no peito e ainda se levanta para atacar Chris -, e uma Samantha Scully extremamente estereotipada, não convencendo como uma jovem cega.
Com um roteiro feito em apenas uma semana, após o oficial ser descartado pelo diretor – e que passaria a ser o argumento do quarto filme – Natal Sangrento 3 é considerado por muitos como pior até que o anterior, já que não permitiu uma risadas. É ruim e chato ao extremo, sem violência, sem razão de existir, com uma estranha condução de Monte Hellman, com a experiência de ter feito o trash A Besta da Caverna Assombrada (Beast from Haunted Cave, 1959) e o não-creditado Sombras do Terror (The Terror, 1963), com Boris Karloff e Jack Nicholson, co-dirigindo com Roger Corman, Francis Ford Coppola e Jack Hill, sendo exibido na TV na casa da avó. Não funciona como continuação e nem como slasher, enfim, é igual aquele par de meias que você irá receber de alguém no Amigo Secreto. Com tantas falhas, o subtítulo “Better Watch Out!” (Melhor tomar cuidado) deveria ter sido substituído por “better do not watch” (melhor não assistir).