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Quando a Morte Sussurra
Original:Tee yod / Death Whisperer
Ano:2023•País:Tailândia
Direção:Taweewat Wantha
Roteiro:Thammanan Chulaboriruk, Sorarat Jirabovornwisut
Produção:Narit Yuvaboon
Elenco:Nadech Kugimiya, Jelilcha Kapaun, Rattawadee Wongthong, Kajbhunditt Jaidee, Peerakrit Phacharaboonyakiat, Nutthatcha Padovan, Arisara Wongchalee, Ongart Cheamcharoenpornkul

A Tailândia tem se mostrado um terreno fértil para assombrações. Dos anos 2000 para cá, há um cinema perturbador de imagens aterrorizantes se destacando entre produções advindas de outras regiões, principalmente dentre as mais comerciais. Seja uma entidade que desponta ousada em fotografias ou em aparições nos espelhos, flutuando pelas estradas ou vertendo sangue pelos olhos, nariz e pela boca, o cinema tailandês sabe causar desconforto. Uma pedida assombrosa que vale a pena dispor do tempo do infernauta se encontra na Netflix e atende pelo nome Quando a Morte Sussurra (Tee yod, 2023), de Taweewat Wantha.

Inspirado no absoluto A Morte do Demônio (The Evil Dead, 1982) e numa lenda urbana viralizada em 2015 – e depois transformado em um romance em 2017 -, o longa se construiu a partir do medo e da insegurança. O site e fórum Pantip.com postou o causo como uma publicação comum, de autoria de Krittanon, tendo mais de 130 mil encaminhamentos a respeito da tal “Tee Yod“, uma entidade que se apresenta na forma de uma mulher que se veste de preto. O termo, que teria origem na língua Mon, embora estudiosos digam que não tem significado, trouxe pesadelos ao autor na infância, impulsionando a divulgação como compreensão de sua experiência. Com o sucesso da obra “Tee Yod … Waew Siang Kruan Klung“, uma variação da lenda encontraria um evidente caminho cinematográfico.

Quando a Morte Sussurra foi lançado oficialmente em 24 de outubro de 2023 na Tailândia, tornando-se a produção de maior sucesso nos cinemas no ano passado. Logo chegaria a Cingapura, Malásia, Filipinas e Bangkok, arrastando multidões às telas grandes, com boas críticas e sugestões de uma inevitável continuação. Antes de chegar a Netflix, em abril deste ano, algumas imagens já rondavam as redes sociais como a dos fantasmas flutuando na estrada e perguntas como “O que você faria se visse isso durante uma viagem?“. Bastava apenas associar ao filme e assistir para saber se realmente a Tailândia teria acertado novamente na realização de uma produção incômoda.

É claro que o filme tem muito da trajetória tailandesa e de seu tipo de expressão do horror, com alguns momentos que podem figurar entre os destaque de seu Cinema, mas também há percalços evidentes ali, como algumas atuações questionáveis, o uso de uma trilha sonora exagerada e até personagens que não acrescentam muito ao enredo, co-escrito por Thammanan Chulaboriruk e Sorarat Jirabovornwisut. Ainda que construa uma boa atmosfera de aparições constantes, a fotografia é muito clara, até mesmo na cenas noturnas. E o excesso de tomadas fechadas revelam algumas maquiagens não tão bem confeccionadas, sendo que o sugerido e pequenas pontas das assombrações trariam resultados mais satisfatórios. Mas é um bom filme.

Ambientado em 1972, o longa começa com a morte horrenda da jovem Nart (Michelle Samiha Lamloet Haque), que, entre gritos de dor, verte sangue por várias partes do corpo, além de ter a barriga e o rosto inchados. Na mesma província de Kanchanaburi, há uma grande família de seis irmãos que irão se envolver com a mesma maldição. Yad (Denise Jelilcha Kapaun) é a que se destaca pelo cuidado com as duas mais novas, Yam (Rattanawadee Wongtong) e a pequena Yee (Nutthatcha Padovan), fã de algodão-doce; por parte dos irmãos, há o recém-chegado do serviço militar, Yak (Nadech Kugimiya), e os mais novos Yos (Kajbundit Jaidee) e Yod (Peerakit Patcharabunyakiat) – sim, prepare-se para se ver preso a esse jogo de três letras na identificação de cada um dos irmãos.

Na escola, Yad e Yam encontram desenhos estranhos embaixo da carteira de Nart sobre algo que a estava perseguindo. Na volta, elas testemunham uma mulher vestida de preto próximo a uma árvore, já com aspectos de assombração; e depois, durante um passeio no parque, outras aparições perturbam as jovens, como a de uma idosa rindo, com a boca cheia de sangue, enquanto estavam na roda gigante. Yam, que resistiu à malária quando criança e nunca mais teve doença alguma, começa a adoecer e apresentar comportamento estranho, como o de sair de casa de madrugada. Quando tentam segui-la, um canto sussurrante, o tal “tee yod“, os deixa sonolentos, como um encantamento maldito.

As atitudes incomuns de Yam passam a ser constantes até culminar em um estado de possessão, quando uma senhora local, Chauy (Jampa Saenprom), invade a casa e arranca um dente da garota para a realização de um ritual. Yak e o sargento Paphan (Ongart Cheamcharoenpornkul) identificam a bruxa e, ao visitá-la, entendem suas intenções de encontrar um hospedeiro para uma entidade que habita seu corpo. Como Nart tinha problemas de saúde, não conseguiu resistir ao espírito, algo que pode mudar com a resistente Yam. Para ajudar a garota, mais um personagem se apresenta, o xamá Sr. Puth (Porjade Kaenpetch), com ideias diferenciadas para conter o Mal.

E são essas ideias somadas às aparições e sequências sangrentas que trazem os principais méritos de Quando a Morte Sussurra. Diferente de outras produções, não há o tradicional exorcismo – compreensível pela religião budista -, nem cenas de cabeças girando e outros lugares comuns do subgênero. A transformação de Yam é gradual, e envolve movimentos do pescoço, algumas alterações na voz e a capacidade de enganar a mãe e trazer consigo visões aterrorizantes para a família. E são estas que despertam os arrepios da proposta, seja na perseguição de um fantasma com a cabeça pendurada numa plantação, no braço que passa pela lateral de uma porta, rasgando a pele e os músculos, e em toda a sequência na estrada, quando a religião abraça a ciência: “Melhor do que água benta, ela precisa de soro intravenoso“, diz o xamá.

Enquanto Yos e Yod pouco servem à produção, o carisma de Yad e as atitudes de Ash de Yak – às vezes até com exagero em mostrar o físico – contribuem para tornar a produção mais divertida. Em dado momento, ao cortar um bambuzal, eles encontram entranhas pulsantes como forma de Puth comprovar a possessão e relacioná-la à natureza, conceitos muitas vezes deixados de lado em filmes do subgênero bruxaria. A caracterização da bruxa, sua ambientação tradicional no alto de um vale, no interior de uma cabana, assim como seu ritual, urinando sobre um “baat” (tigela com itens sagrados), são outras boas ideias de Taweewat Wantha.

Com mortes sangrentas e bizarrices divertidas, Quando a Morte Sussurra é um curioso acréscimo ao cinema tailandês. A continuação será lançada agora em dezembro nos cinemas, pela A2 Filmes. Algumas imagens aterrorizantes já estão despontando nas redes sociais, pavimentando o horror que provavelmente será visto nas telas grandes.

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