![]() Joe Hill Dark Collection vol. 2
Original:Joe Hill: The Graphic Novel Collection Ano:2024•País:EUA Páginas:272• Autor:Joe Hill, Jason Ciaramella•Editora: DarkSide Books |
Dizem que a mente humana é uma ferramenta extremamente poderosa. Se o pensamento for forte o suficiente, feito com grande vontade, pode se tornar realidade. Tudo que imaginamos e sonhamos tem o potencial de existir, e isso não é algo tão absurdo assim. Afinal, não é exatamente desse modo que surgem os livros, filmes e manifestações artísticas em geral? Tudo começa a partir de uma ideia, de um sonho, de um desejo. Fantasias podem ser reais, e Joe Hill se baseou nesse conceito em seu livro NOS4A2 (Nosferatu).
Nele, conhecemos a Terra do Natal, lugar idealizado por Charlie Manx, onde crianças com vidas sofridas são levadas por ele em seu Rolls-Royce e podem viver eternamente felizes. Tudo é possível nesse lugar, onde a linha entre criatividade e insanidade é extremamente tênue e acaba sendo ultrapassada. Dado o contexto, vamos falar agora sobre a coletânea Joe Hill Dark Collection vol. 2, publicada pela Darkside Books, cuja primeira – e principal – história é justamente Terra do Natal, que é uma prequel/spin-off de NOS4A2.
Começamos com Charlie Manx dirigindo seu amado Rolls-Royce, levando uma nova criança para a Terra do Natal. Durante a viagem, Charlie nos conta sobre seu sombrio passado, como foi sua vida desde a infância até a idade adulta e como surgiu o lugar cheio de alegrias e diversões para onde estão indo. Um lugar tão incrível que parece um sonho. E era, até não ser mais.
Logo depois, acompanhamos dois policiais levando três detentos para a prisão, até que uma briga começa e o furgão capota. Os detentos rendem os policiais e um deles faz uma ligação, pedindo ajuda para que pudessem ser resgatados e desaparecer do mapa. Ninguém mais, ninguém menos do que Charlie Manx aparece para ajuda-los. No carro, o destino final é….sim, a Terra do Natal. Não demora para que percebam que aquele lugar tem alguma coisa muito errada, especialmente com as crianças. Mortalmente errada.
Na Terra do Natal, tudo é possível. Inclusive crianças famintas por diversão (literalmente). Caçar os novos visitantes é sua brincadeira favorita, e suas vidas são o prêmio.
Charlie Manx é um vilão terrível e sarcástico de aparência macabra, e podemos descrever o quadrinho do mesmo modo. Enquanto a maioria dos personagens é irrelevante e não causam grandes emoções, Charlie tem um carisma ímpar e cômico, mesmo enquanto uma carnificina acontece. Comentários ácidos e sede de sangue encontram equilíbrio na bem construída narrativa, fazendo da história uma leitura assustadoramente divertida.
A arte, que fica a cargo de Charles Paul Wilson III, é cheia de detalhes. Do labirinto de neve com manchas de sangue e inúmeras coisas acontecendo ao mesmo tempo – como se fosse um cenário de Onde Está Wally – à aparência das crianças cheias de dentes pontudos manchados de sangue. Cores escuras e fortes enfatizam a brutalidade presente e atmosfera sombria, elemento que lembra um pouco o quadrinho 30 Dias de Noite (curiosidade: os vampiros de 30 Dias de Noite foram baseados na aparência de Conde Orlok, de Nosferatu, assim como Charlie Manx na obra de Hill), mas também há o colorido que remete à alegria dos parques de diversões, o que deixa tudo deliciosamente irônico devido aos acontecimentos que ocorrem ali.
Terra do Natal é uma história de horror com considerável gore e sadismo, mas também possui um ar zombeteiro e descontraído, onde Joe Hill brinca com os limites do real e imaginário. Complementa algumas informações da obra NOS4A2 (inclusive, toda essa parte da história de Manx e a origem da Terra do Natal estaria presente no livro, mas Joe Hill preferiu cortá-la devido ao material já muito extenso), mas também é perfeitamente possível ler e desfrutar da trama sem ter lido o livro, já que conta o que aconteceu antes dos eventos do livro. Seja qual for sua ordem de preferência, um é complementar ao outro, apesar de poderem ser lidos de forma independente, e enriquece muito o universo criado por Joe Hill.
Na coletânea ainda temos a história Digital, com roteiro de Jason Ciaramella, que já trabalhou com Hill anteriormente, e arte de Vic Malhotra, que conta a história da soldada Mallory Grennan. Mallory tem um caráter questionável e fez coisas condenáveis durante o tempo que serviu na guerra. Agora, o passado volta para assombrá-la. É uma história pesada, dividida em três capítulos curtos, porém cheios de tensão e momentos sufocantes. Sem elementos fantásticos aqui, apenas o puro horror de ser perseguida por pecados passados, com muita violência e ação presentes. A arte usa cores sóbrias, com vários tons de marrom e cinza.
Kodiak fecha o volume, com roteiro de Joe Hill e Jason Ciaramella. É uma história curtinha sobre um plebeu que beija uma moça da nobreza e é preso por isso, precisando lutar com um urso para conseguir sobreviver e fugir. Rápido e direto, em poucas páginas temos alguns momentos de uma batalha feroz.
Apesar das duas outras histórias serem boas, a verdadeira estrela de Joe Hill Dark Collection vol. 2 é, sem dúvidas, Terra do Natal. Joe Hill já é um grande nome da literatura de terror, e provou diversas vezes que não precisa se apoiar no sucesso do pai, Stephen King – tanto que levou anos para revelar que é filho de King -, para escrever grandes histórias e alcançar seus merecidos méritos por conta própria. Temos um horror com toques cômicos muito bem utilizados pelo autor aqui, mostrando mais uma vez toda sua habilidade em escrever histórias aterrorizantes, perturbadoras e, ainda assim, divertidas. Extremamente recomendado para quem gostou de NOS4A2 e para aqueles que simplesmente gostam de uma boa história cheia de sangue, humor sádico e bizarrices.