![]() La Tour / Lockdown Tower
Original:La Tour / Lockdown Tower
Ano:2022•País:França Direção:Guillaume Nicloux Roteiro:Guillaume Nicloux Produção:Bruno Nahon, Sylvie Pialat Elenco:Angèle Mac, Hatik, Ahmed Abdel Laoui, Kylian Larmonie, Merveille Nsombi, Nicolas Pignon, Igor Kovalsky, Marie Rémond, Judith Williquet, Modeste Nzapassara, Coline Beal, Kevin Bago, Bruni Makaya |
O terror francês pós-apocalíptico La Tour aka Lockdown Tower pode ser definido apenas como um experimento social. Tais quais os reality shows diversos ou análises profundas sobre a relação de convívio de pessoas em um ambiente claustrofóbico, o longa de Guillaume Nicloux parte para propor situações de conflitos, deixando de lado calafrios e respostas, além de qualquer entretenimento. É claro que a principal relação a se estabelecer acaba sendo com o espetacular O Nevoeiro, inspirado em um conto de Stephen King, e que continha muito contexto e razões para despertar algumas reflexões. Mas tem gente elogiando por aí, vendo excessiva profundidade numa trama mais rasa que qualquer líquido derramado sobre um pires.
Um condomínio se vê diante de uma ameaça inexplicável: ele rodeado por uma escuridão absoluta, não permitindo que qualquer coisa seja vista ao longe. Quem tenta atravessá-la é consumido de imediato, como se fosse um organismo vivo e voraz, espreitando os moradores. Toda a situação de espanto e as tentativas de fuga e experimentos são descartados pela passagem do tempo. Logo, as pessoas já estão acostumadas à gaiola, e começam a estabelecer alianças tribais: os brancos contra os afrodescendentes, os de origem africana ou americanos, são as distinções mais evidentes, e há até os que se denominam “The Babyeaters“, no cultivo de filhotes de animais de estimação para servir de alimento com a iminente escassez.
O que é curioso – e não há explicação alguma – é porque ainda existe água corrente e eletricidade. Se o organismo se alimenta de tudo o que está além do condomínio por que ela não destruiu as fiações e encanamentos? Não seria uma pista de como escapar dali, se é que existe vida além do prédio? Não importa. O que interessa é que logo a trégua entre as gangues terá fim, principalmente depois que alguns brancos atacam os árabes, amordaçando-os, e a colisão terá consequências. Assim, com a evidência dos poucos recursos, e sem personagens para se criar empatia, resta ao espectador administrar uma boa dose de paciência, se possível com duas pedras de gelo.
A mensagem sobre conflitos raciais na França e em qualquer parte do mundo é clara, assim como a evidente alegoria à pandemia do covid-19. A notável divisão de classes, o poderio de grupos armados, as alianças e troca de favores, pessoas se alimentando de outras, violência por qualquer razão são simbolicamente apresentados nesse alongado episódio de Além da Imaginação. Há muitas obras interessantes por aí e que apresentam a mesma mensagem, mas com um pouco mais de aprofundamento. O próprio O Nevoeiro já trazia discussões sobre fanatismo religioso de maneira mais sólida do que essa torre francesa. Ademais, dentro do tema racial há a série Lovecraft Country, os longas Corra e Nós, de Jordan Peele, entre tantas outras produções significativas em um contexto atual. É um conteúdo sempre necessário e importante, com reflexões e debates, mas que também deve ser analisado pelo seu tratamento.