![]() Lowlifes
Original:Lowlifes
Ano:2024•País:Canadá Direção:Tesh Guttikonda, Mitch Oliver Roteiro:Al Kaplan Produção:Charles Cooper, Allen Lewis, Jon Kaplan, Michael Shepard, Eric Carnagey, Brad Luff, Roger Lay Jr, James Mattagne Elenco:Amanda Fix, Brenna Llewellyn, Matthew MacCaull, Elyse Levesque, Josh Zaharia, Cassandra Sewtell, Richard Harmon, Kevin McNulty, Ben Sullivan, Alexander Calvert |
“These people aren’t drifters or street trash, okay? They’re a family, just like us!”
Lowlifes é uma produção canadense de 2024 que passou realmente despercebida para muita gente, por isso minha surpresa com a nota relativamente alta no IMDB (6,3 quando escrevo esse texto). Basicamente temos aqui uma típica família americana desfrutando de um fim de semana no campo, fazendo churrasco ao lado de um trailer, quando são incomodados por caipiras ameaçadores e acabam tendo que passar a noite em uma casa rural. Sim, o aceno ao Massacre da Serra Elétrica e Quadrilha de Sádicos é bem nítido aqui. Mas acredite, um dos plot twists logo aos 15 minutos mostra que nada aqui é o que parece.
A produção canadense acerta em ser sucinta, gastando apenas deliciosos 87 minutos para tratar de suas perspectivas. A primeira delas é a crítica social escancarada logo no título. Lowlife é um termo pejorativo para pessoas menos abastadas, marginalizadas pela sociedade e que acabam sendo inferiorizadas pelos highlifes. Em nossa própria realidade, facilmente nos recordamos de casos em que pessoas em situações de rua foram agredidas ou até mesmo queimadas enquanto dormiam. E se a ideia aqui é colocar esses dois segmentos em conflito, nada melhor que um cenário propositalmente montado para parodiar a clássica rixa entre o vilanesco redneck contra os mocinhos da cidade grande, já imortalizada nos clássicos citados anteriormente.
A reflexão sobre o valor mais alto ou mais baixo de uma vida se estende para outros domínios, dicotomizando esses dois segmentos de maneira bem-humorada, até caricata às vezes. O pai de família tradicional, assinante do AAA (seguradora americana chique), representante da moral e dos bons costumes, rejeita a condição psiquiátrica da esposa e abomina a sexualidade da filha, enquanto a escória caipira aceita a filha lésbica e a incentiva a ir para a faculdade comunitária. Esse debate rende alguns dos melhores diálogos do filme, como “I’d rather eat pussy than people!” (ok, essa me arrancou gargalhadas sinceras).
As atuações não são lá essas coisas, principalmente os horrorosos Josh Zakaria e Matthew MacCaull, que entregam um overacting realmente vergonhoso, mas o resto não compromete. Gostei muito da final girl interpretada por Brenna Llewellyn, ainda que algumas decisões no terço final tenham prejudicado seu desenvolvimento. Já a personagem interpretada por Amanda Fix me incomodou um pouco, pois toda sua narrativa apontava para um desenvolvimento promissor que é jogado fora no terceiro ato. O final tinha tudo para ser bobo e clichê, mas os últimos minutos fecham a narrativa de forma brilhante e coerente (se os últimos dois minutos tivessem sido cortados, seria ainda melhor).
Lowlifes foi uma divertida surpresa para mim, principalmente porque se utiliza de uma narrativa bem simples e enxuta para abordar questões interessantes (ainda que não exatamente originais) de forma deliciosamente ácida sem ser rasa. Uma das boas descobertas do ano passado, e com certeza vale a conferida.