![]() Until Dawn - Noite de Terror
Original:Until Dawn
Ano:2025•País:EUA Direção:David F. Sandberg Roteiro:Gary Dauberman, Blair Butler Produção:Gary Dauberman, Roy Lee, Lotta Losten, Mia Maniscalco, Asad Qizilbash, David F. Sandberg, Carter Swan Elenco:Ella Rubin, Michael Cimino, Odessa A'zion, Ji-young Yoo, Belmont Cameli, Maia Mitchell, Peter Stormare, Tibor Szauervein, Lotta Losten, Mariann Hermányi, Willem van der Vegt |
Os games de horror têm tentado emular a atmosfera dos slashers em seus jogos desde a época de ouro do subgênero, os anos 80. Apesar da dificuldade em propor uma jogabilidade que não seja apenas um estilo de RPG moroso, os desenvolvedores têm conseguido resgatar, com personalidade ainda que envolto em referências, o estilo e clima do cinema estimulado por Michael Myers, Jason Voorhees, Leatherface e tantos outros que empilham vítimas por aí. Dentre os famosos jogos que exploram a fórmula há os conhecidos Dead by Daylight, The Quarry, Friday the 13th: The Game, Camp Sunshine, Lights Camera Slaughter e Night of the Scissors, além do primeiro de muitas listas de “slasher horror games“, Until Dawn.
Desenvolvido pela Supermassive Games e com distribuição da Sony, o jogo inglês, lançado em 2015, colocava o público para comandar oito personagens com o objetivo de sobreviver até o amanhecer na Blackwood Mountain. Cada escolha traz uma consequência que pode ocasionar a morte de alguém, cabendo ao gamer coletar as pistas-totens e descobrir um caminho que seja minimamente trágico. Na trama, duas gêmeas, Hannah e Beth, caem de um penhasco e desaparecem durante uma festa no local, enquanto são perseguidas por um assassino interpretado por Larry Fessenden. Um ano depois, o irmão delas, Josh, organiza um encontro num lodge como uma forma de homenageá-las, levando consigo sete amigos: Chris Hartley, Ashley Brown, Emily Davis, Matt Taylor, Sam Giddings, Mike Munroe e Jessica Riley. Eles acabam se separando entre obrigações, e enfrentam perigos e ameaças em diversos cenários, incluindo um sanatório, com a presença do psiquiatra Dr. Alan Hill, interpretado pelo sempre imponente ator Peter Stormare.
Quem já teve a oportunidade de jogar Until Dawn imaginava sua estrutura como a de um filme pronto, bem contextualizado e com cenários aterrorizantes. O sucesso do jogo pediu a realização de um remake, lançado em 2024 para o PS5, e até um spinoff, Until Dawn: Rush of Blood, sob um formato de “jogo de tiro“, bem diferente da atmosfera slasher. Foi em 2024 que a Sony também anunciou a realização de um filme inspirado no jogo, descrito pelos realizadores como “uma carta de amor ao gênero“. Uma proposta de reinvenção de Until Dawn, com referências como a presença de Peter Stormare, mas em uma história completamente nova, tendo a direção de David F. Sandberg, de Annabelle 2: A Criação do Mal e Quando as Luzes se Apagam.
Until Dawn – Noite de Terror está chegando silenciosamente hoje aos cinemas. E é surpreendentemente bom. Quando se pensa em adaptações de jogos, há uma grande dificuldade dos realizadores de atender o fanservice, agradando quem é aficionado pelo game e quem está conhecendo-o pela Sétima Arte. Exemplos de versões desastrosas não faltam: Alone in the Dark, House of the Dead, Doom, Silent Hill, Assassin´s Creed, Tomb Raider, Warcraft, Prince of Persia, Bloodrayne, Postal e, por que não, a franquia Resident Evil – só para citar alguns. Contudo, há também raros exemplos bem sucedidos como o despretensioso Werewolves Within e o questionável Five Nights at Freddy’s. Until Dawn pode entrar na lista dos destaques, desde que você não seja um exigente fã do jogo, daqueles que vão sair do cinema blasfemando pela pouca relação com o produto original.
E tem mesmo pouca relação. No enredo, desenvolvido por Gary Dauberman e Blair Butler, um grupo de cinco amigos tenta refazer os caminhos da desaparecida um ano antes Melanie (Maia Mitchell). Sua irmã, Clover (Ella Rubin), leva com ela o ex ainda apaixonado Max (Michael Cimino), Nina (Odessa A’zion) e o novo namorado, Abe (Belmont Cameli), além da que se acha sensitiva Megan (Ji-young Yoo). Chegam a uma loja de conveniência, numa pausa para uma oração, enquanto Clover descobre pelo atendente (Peter Stormare) que a garota foi vista indo para Glore Valley.
Eles estão partem para lá numa estrada envolta em um temporal que se encerra no alcance a uma casa de visitantes, já deixando evidências de que podem estar num episódio da série Além da Imaginação. Assim que entram no local, quando Nina assina o livro de visitas, eles acionam uma ampulheta que os colocará num loop temporal, típico de um jogo: serão atacados de diversas formas, por ameaças variadas, e, sempre que são mortos, retornam para o mesmo ponto de partida, com alguma consciência e dores físicas do que experimentaram. Seja um mascarado resistente, uma bruxa decrépita, criaturas da floresta como os Wendigos ou até ações estúpidas, eles logo entendem a “regra do jogo“: precisam sobreviver à noite. Tentar não fazer nada ou se esconder no banheiro pode ocasionar outras formas de morte. E há um limite para as mortes, se quiserem evitar fazer parte do cenário.
É claro que pouco faz sentido. Se o infernauta se propor a ver o filme buscando lógica científica ou um enredo coerente, vai sair da sala de cinema com as mãos vazias. Os personagens são pouco desenvolvidos, mas carismáticos até em suas ideias estúpidas, e os ambientes se alteram a cada restart, surgindo uma casa de bruxa, um cemitério, um acesso a uma mina, uma floresta sobre um compartimento e o acesso ao sanatório, como se tudo fosse uma coisa só. Agora os que querem diversão descompromissada e gostaram do estilo splatter de O Macaco e têm boas recordações do criativo O Segredo da Cabana (The Cabin in the Woods, 2011) e viram o obscuro Prisioneiro da Morte (The Deaths of Ian Stone, 2007) irão para casa saciados por um horror sangrento e dinâmico.
Envolto em altas doses de jumpscares e monstros, não há tempo para o espectador respirar, ir ao banheiro ou cochilar pois as mortes e ameaças acontecem o tempo todo. Um personagem pode ser arrastado para fora, encontrar um boneco de palhaço assustador ou um ambiente de máscaras aterrorizantes, pode ser arrastado por uma criatura voraz, cair em uma armadilha de floresta, flutuar ou simplesmente explodir. Cada recomeço uma surpresa, ainda que os monstros anteriores estejam todos lá, farejando no escuro ou saltando de árvores. Uma sensação constante de insegurança, propondo um medo intenso aos personagens, é a principal diversão de Until Dawn!
Além de Dr. Alan Hill e alguns cenários dos jogos como as minas, o contexto que envolve a cidade é o mesmo do jogo. Há alguns easter eggs espalhados pelo filme como a identificação de personagens do jogo original entre os desaparecidos ou a sinalização no mapa de Blackwood Mountain, sem contar a presença do assassino mascarado, sem as madeixas compridas do game. Mas, o mais importante é o modo como o filme transmite uma ideia de que o infernauta está em um jogo mesmo, sem precisar forçar para isso, como fez Doom. De toda forma, o que realmente interessa é a proposta de diversão, e isso Until Dawn fez muito bem.
Assim, independente se você conhece ou não o jogo da Sony, vá aos cinemas acompanhar o infortúnio desse grupo de jovens, numa noite interminável e claustrofóbica! Pode ser que você queira jogar novamente!