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A Monja e o Demônio
Original:Le monache di Sant'Arcangelo
Ano:1973•País:Itália, França
Direção:Domenico Paolella
Roteiro:Domenico Paolella, Tonino Cervi, Stendhal
Produção:Tonino Cervi
Elenco:Anne Heywood, Luc Merenda, Ornella Muti, Martine Brochard, Muriel Catalá, Claudia Gravy, Maria Cumani Quasimodo, Pier Paolo Capponi, Claudio Gora, Duilio Del Prete, Luigi Antonio Guerra, Gianluigi Chirizzi

O Diabo habitava os conventos na década de setenta, ainda com resquícios da contracultura. As intenções provocativas de cineastas da época vinham com uma força transgressora contra as bases sólidas da sociedade, família e religião. E não bastava apresentar freiras possuídas, envoltas em perdição, mas também colocá-las como devassas e corruptas. Dentre os filmes nunsploitation da época, A Monja e o Demônio (Le monache di Sant’Arcangelo, 1973) não está entre os destaque pela vilania de seu conteúdo, mas é, sem dúvida, um dos que possuem o contexto mais agressivo e crítico.

Ele se passa em 1577, no convento de Sant Arcangelo, perto de Nápoles, então sob domínio espanhol. A atual Madre Superiora está em seus últimos suspiros, e os nobres aguardam a nomeação da sucessora para saber a quem destinar os fundos de doação, uma vez que será ela quem escolherá o beneficiado. No meio desses conflitos está a Irmã Giulia (Anne Heywood), que está fazendo o que for possível para ocupar a função. Sua amante, Irmã Chiara (Martine Brochard), acredita que ela será a escolhida, confirmando seu desejo com um beijo que serviria para um dos cartazes do filme de Domenico Paolella. Correndo por fora, estão a Irmã Carmela (Claudia Gravy), que, mesmo com seus intentos, ocupa seu tempo não apenas em orações, mas com encontros ardilosos com um invasor amante oferecendo a oportunidade de receber as doações, e a mais velha do convento, Irmã Lavínia (Maria Cumani Quasimodo).

Quando Giulia descobre que Carmela e Lavínia estão no páreo, resolve agir para que não tenham chances, seja tentando desmoralizar a primeira ou envenenando a segunda. Mesmo com essas ações que poderão eliminar as oponentes, Giulia também terá que enfrentar o contragosto do conselheiro do arcebispo, Alfonso Carafo (Luc Merenda), que começa a perceber que o local abriga perdições e está disposto a provocar uma tribunal de Inquisição. Também vale conhecer a aventura amorosa da sobrinha de Giulia, a noviça Isabella (Ornella Muti), encarregada de levar um recado ao Don Carlos (Pier Paolo Capponi) no Castelo de Baiano, tendo que fugir de um estupro e preservar a vida de seu amante com a possibilidade de entregar a própria tia.

Mesmo com cenas de nudez e sexo entre freiras e amantes, A Monja e o Demônio (1973) traz mais impacto pelo exposição do contexto sombrio da época, como sequências de tortura aos moldes da Inquisição Espanhola, e conspiração. O título pode remeter a mais um filme de influência demoníaca, forçadamente por ter sido lançado no mesmo ano de O Exorcista (The Exorcist, 1973), mas não há elementos sobrenaturais, tanto que a obra é reconhecida como um belíssimo exemplar de drama histórico, embasado na hipocrisia das autoridades religiosas, com o protagonismo excelente de Anne Heywood, que também atuou como freira em A Monja de Monza (La monaca di Monza, 1969), drama biográfico sobre a polêmica Marianna De Leyva.

Além das boas atuações e do retrato fiel da época, com detalhes para as cerimônias religiosas e como funcionava o tribunal sem os exageros da Sétima Arte, A Monja e o Demônio também espelha a forma como as mulheres eram tratadas no período em seu discurso no ato final, quando ela assume seus erros, mas também julga a Igreja pela manipulação dos homens na busca pelo poder: “Qual a diferença entre mim e vocês?“. Pode ser que a força de sua narrativa, no roteiro de Giampiero Bona e Eriprando Visconti, baseado na obra de Mario Mazzucchelli, seja uma representação do que aconteceria nos séculos seguintes, permitindo boas reflexões.

Aos fãs do cinema exploitation, o longa de Visconti pode satisfazer pela perversão do convento de Sant Arcangelo e os episódios de violência. Contudo, vale muito mais acompanhar o que a obra tem a dizer, despertando debates e indignação.

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