![]() O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno
Original:The Return of the Texas Chainsaw Massacre
Ano:1994•País:EUA Direção:Kim Henkel Roteiro:Kim Henkel Produção:Kim Henkel Elenco:Renée Zellweger, Matthew McConaughey, Robert Jacks, Tonie Perensky, Joe Stevens, Lisa Marie Newmyer, John Harrison, Tyler Shea Cone, James Gale, Chris Kilgore, Vince Brock, Susan Loughran, David Laurence, Grayson Victor Schirmacher, Jeanette Wiggins, Debra McMichael, John Dugan, Paul A. Partain, Marilyn Burns, Ryan Wickerham, Derrick Sanders |
Nem tudo o que acontece no Texas é digno de nota. A concepção de um dos filmes mais importantes de horror de todos os tempos, O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), inspiraria outros exemplares de um cinema de violência gráfica pela ação de canibais enlouquecidos. Pode-se dizer que Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes, 1977) e parte do ciclo italiano de canibalismo tiveram uma relação de admiração com o longa de Tobe Hooper, que, se não é um primor tecnicamente, é um retrato de um gênero que buscava referência na geração hippie, herdava a desconstrução familiar pela contracultura e transbordava ousadia. O primeiro massacre no deserto, o horror expressivo de Marilyn Burns, foi, sem dúvida, um divisor do cinema extremo, justificando sua posição entre as principais obras transgressoras da Sétima Arte. Contudo, dele vieram suas continuações e derivados.
Doze anos depois, o cineasta voltou às origens para a realização do descaracterizado O Massacre da Serra Elétrica 2 (The Texas Chainsaw Massacre 2, 1986), trazendo novos membros da família, agora residente nas cavernas de um parque. Um Leatherface (Bill Johnson) empático e o tom desnecessariamente sarcástico não chegaram aos pés do trabalho original, embora exista uma parcela de fãs que o cultuam. Um pouco melhor se saiu o terceiro filme, O Massacre da Serra Elétrica 3 (Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III, 1990), de Jeff Burr, com roteiro de Kim Henkel e David J. Schow. Basicamente uma recriação do primeiro, com jovens sendo perseguidos acidentalmente pela família até trombarem com os doidos do deserto, Leatherface, agora com uma serra cromada, na boa interpretação de RA Mihailoff. Pelas sequências de violência, a atmosfera de um pesadelo noturno e pelas presenças de Viggo Mortensen e Ken Foree, pode-se considerar este terceiro uma sequência razoável e até aceitável, dentro de suas limitações.
Quando o silêncio parecia tomar as estradas quentes do deserto, Henkel e o produtor Robert Kuhn acharam que valeria a pena fazer mais um. A proposta seria mais uma vez retornar às origens, como uma homenagem ao longa original, em uma sequência direta, basicamente ignorando os dois filmes anteriores. E é incrível o quanto O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno (The Return of the Texas Chainsaw Massacre, 1994) conseguiu se tornar algo tão indigesto – não é um elogio -, descaracterizado e sem rumo. Passa a impressão que os realizadores não sabiam o que fazer é pediram apenas para os personagens gritarem, correrem de um lado para outro, e deixassem evidências de uma insanidade sem freios. O produtor disse em entrevista: “Eu queria voltar ao original, e [Kim] também. Nós concordamos com isso imediatamente. E a primeira coisa importante foi escrever o roteiro. Eu levantei o dinheiro para escrevê-lo e para começarmos a tentar montar essa coisa.” Só concordo quando ele se refere ao longa como “essa coisa” (this thing).
De acordo com as curiosidades que permeiam a obra, Henkel assumiu que tentou transformar seus personagens em caricaturas dos jovens da época. Nem isso conseguiu, embora suas concepções tenham sido artificialmente exageradas. Além de contar com construções que mais irritam do que trazem empatia, há todo um contexto de referência aos Illuminati quando, em meio à insanidade da família canibal – que agora come pizza -, surge um tal senhor Rothman (James Gale) tentando alcançar a transcendência pela exploração do medo da dor e da morte, uma espécie de financiador da família, numa descaracterização da original que era mais assustadora por não ter razões para a violência cometida que não seja a alimentação própria e o sustento.
Os tais jovens caricatos são os formandos Barry (Tyler Shea Cone), Heather (a limitada Lisa Marie Newmyer), Jenny (Renée Zellweger) e Sean (John Harrison). Depois que descobre a traição do namorado Barry, que justifica sua necessidade masculina de fazer sexo para não ter câncer de próstata, a falante Heather resolve fugir do local, mas levando com ela os demais. Ao fazer um “wrong turn” na estrada, o veículo em que estão colide com outro, fazendo o motorista desmaiar. Com o carro impossibilitado de sair dali, eles partem a pé em busca de ajuda e encontram o trailer da agente de seguros Darla (Tonie Perensky), que telefona para o reboque, conduzido pelo insano Vilmer (Matthew McConaughey em ótima performance).
Enquanto tentam retornar ao local de acidente, Vilmer chega primeiro, assassina o rapaz desmaiado e atropela Sean. Jenny se afasta de Heather e Barry na escuridão, e estes chegam a uma casa isolada sem saber que os ocupantes são o perverso Leatherface (Robert Jacks), W.E (Joe Stevens), além de Darla e Vilmer. Heather é colocada no gancho, e Barry leva marretadas em repetições de situações do original. A diferença é, sabe-se lá como, Heather vai conseguir se soltar e vai se arrastar pela estrada sem que ninguém perceba até ser recapturada. E Jenny será perseguida por Leatherface pela casa, telhado, floresta…em vários ambientes, nas únicas boas cenas do filme.
Aliás, há um subtexto não aproveitado do roteiro de Henkel em que Jenny revelaria abusos sofridos na infância, o que justificaria sua dificuldade de se relacionar com homens e o modo como lida com a violência da família. A personagem terá diversas chances de fugir, também justificadas pela tal pressão psicológica do alcance transcendental, outro subtexto mal utilizado e sem profundidade. E Vilmer mostrará toda a sua insanidade nos atos violentos contra Darla, Jenny e W.E., numa interpretação de McConaughey que chegou a impressionar o elenco e equipe técnica. Renée Zellweger também atua bem, transformando sua personagem retraída em uma capaz de mandar Leatherface se sentar e colocar todos os vilões no chão. A atriz revelou em entrevista que não se arrepende do seu início de carreira, mas achou o filme bem perigoso por todo desgaste físico e psicológico.
Leatherface também foi criticado na época pela forma como agia histericamente, pintava as unhas e passava batom. Betsy Sherman, do The Boston Globe, chegou a chamá-lo de “drag queen de viúva negra“, enquanto Robert Wilonsky, da Houston Press, disse que o longa transforma Leatherface “em um garoto travesti“. Sua caracterização não me incomodou pelo fato de Leatherface parecer resgatar traços de suas vítimas, como se as peles que coloca sobre o rosto pudessem revelar um transtorno de dissociação de identidade, algo até interessante de se imaginar. Contudo, o que me incomodou foram seus excessos de gritos, assim como de outros personagens numa histeria descontrolada e barulhenta.
Com todas essas deformidades do enredo, O Massacre da Serra Elétrica 4 poderia ser algo aceitável, se explorasse bem as cenas de violência. Como um filme da série vem com a intenção de “voltar às origens” e não traz nem sequer uma cena gráfica ou qualquer gota de sangue? Até mesmo a marretada, um episódio seco e angustiante do longa original, é atenuado, sem o mesmo impacto visual. Pelas ações brandas de insinuação discreta de morte e perseguição, o quarto filme poderia ser exibido até com uma censura mais leve, voltada para um público sem muita exigência no gênero.
No entanto, até esses não irá gostar de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno. Mesmo com as pontinhas não creditadas de Marilyn Burns, Paul A. Partein, que fez o irmão de Sally, o cadeirante Franklin Hardesty, e John Dugan (o vovô do original) ajudam a tornar a experiência melhor. É uma produção bem ruim, com diversas falhas técnicas, problemas no roteiro e personagens descaracterizados. Talvez o longa possa ter uma briga de igual para igual com o também péssimo O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface (Texas Chainsaw Massacre, 2022), aquela bomba dirigida por David Blue Garcia e que teve a cara de pau de resgatar Sally Hardesty, na interpretação terrível de Olwen Fouéré. Prefiro o que o letreiro anunciou no começo de O Massacre da Serra Elétrica 3, quando disse que a garota morreu em um hospital psiquiátrico em 1977, um final muito mais digno.
esse é uma das coisas mais insanas que ja vi, e boa parte da insanidade ta na atuação do Matthew McConaughey. Lembro que quando assisti me veio a sensação de nunca ter visto na da parecido. Enfim, segue insano, mas diferente dos anteriores, sem cabimento.
Estava pensando em revê-lo esses dias porque lembrava muito pouco, mas desisti hehehe