4.5
(2)

Marshmallow
Original:Marshmallow
Ano:2025•País:EUA
Direção:Daniel DelPurgatorio
Roteiro:Andy Greskoviak
Produção:Warner Davis, Todd M. Friedman
Elenco:Corbin Bernsen, Giorgia Whigham, Alysia Reiner, Pierson Fode, Miya Cech, Paul Soter, Kue Lawrence, Kai Cech, Amanda Clayton, Samantha Neyland Trumbo, Max Malas, Jordyn Raya James, Sutton Johnston, Geoffrey JamesMaxwell Whittington-Cooper

Não há lugar mais perigoso para crianças e adolescentes do que um acampamento. Talvez fale aqui o crítico, pai de uma menina, mas pensemos juntos, infernauta: lagos e rios para se afogarem, cobras e escorpiões à espreita, desfiladeiros, quedas, cortes, ossos quebrados e, como nos ensinaram os filmes de terror, assassinos em série mascarados. Ainda assim, mais do que para os brasileiros, enviar os filhos para os acampamentos de verão é parte intrínseca da cultura americana. Nesses locais, as crianças teriam a oportunidade única de desenvolver independência e maturidade. Se sobreviverem, é claro.

No longa-metragem Marshmallow, Morgan, um pré-adolescente introvertido de 11 anos, é enviado pelos pais para um acampamento de férias após a morte do avô. Segundo eles, uma “boa ideia” para Morgan superar o trauma e se fortalecer psicologicamente envolve: confrontá-lo com outros adolescentes valentões praticantes de bullying; reviver seu medo da água, decorrente de um quase afogamento na infância; e ainda enfrentar o terror provocado pelos próprios instrutores que, em volta de uma fogueira, revelam que o acampamento foi, no passado, residência de um médico assassino em série que desmembrava suas vítimas e costurava seus pedaços.

Morgan fica aterrorizado com a história de horror contada pelos instrutores. No entanto, o que parecia apenas medo infantil se revela intensamente real quando um homem, vestido como médico, invade as cabanas do acampamento, uma a uma. Desesperado, o garoto tenta alertar os adultos, que o ignoram, certos de que tudo não passa de ansiedade e paranoia.

Escrito por Andy Greskoviak (do terror Black Friday, de 2021), o roteiro ambicioso constrói uma expectativa baseada em clichês do gênero slasher para, então, surpreender até o espectador mais experiente com um plot twist absurdamente imprevisível. Essa reviravolta no enredo de fato eleva o valor de uma obra que, em termos de produção, deixa transparecer várias limitações técnicas relacionadas ao seu orçamento reduzido. Isso se nota pela fotografia pobre e com tons muito claros, nas atuações um tanto modestas e na ausência de um ritmo mais consistente. Contudo, os 20 minutos finais podem mudar completamente sua percepção do filme, transformando Marshmallow em uma experiência muito mais instigante.

Marshmallow é a estreia na direção de longa-metragens do cineasta Daniel DelPurgatorio, conhecido como um dos diretores do curta de animação Contos do Cargueiro Negro (adaptação para aquela HQ dentro da HQ Watchmen, do Alan Moore).

O resultado do seu trabalho é convencional e carente de uma assinatura própria. Visualmente enfadonha, a produção nem sequer tenta emular os clássicos slashers oitentistas; ainda que essa emulação não seja algo inovador, seria aceitável, considerando que o enredo aposta parcialmente nesse gênero. Outro ponto negativo são as tentativas falhas de construção de suspense e horror. A sensação de perigo e urgência parece sempre superficial, resultado, mais uma vez, de uma fotografia, trilha sonora e atuações nem sempre convincentes.

Sobre as atuações, é importante destacar a enorme responsabilidade atribuída a Kue Lawrence, que, aos 12 anos, assume seu primeiro papel como protagonista. Seu desempenho, embora não seja excepcional, é competente na pele do garoto introvertido que, durante o pesadelo vivido em Marshmallow, deixará a infância para se tornar algo mais.

Mas afinal, qual o plot twist de Marshmallow? Ignorem este parágrafo ou por sua conta e risco continuem, pois a seguir serão apresentados spoilers importantíssimos sobre a trama:

O enredo ganha força após o aparecimento do suposto vilão, um médico “carniceiro” que persegue os adolescentes. E quando os instrutores parecem ignorar os ataques, e até mesmo participar deles, o espectador mergulha em alguns minutos de completo desentendimento sobre o que realmente está acontecendo. No entanto, a revelação final é bem mais complexa e perturbadora: as crianças não são de fato crianças. Elas são duplicatas criadas para auxiliar pais no luto pela perda de seus filhos biológicos. O acampamento, por sua vez, é um ambiente onde essas “crianças” passam por uma espécie de atualização de programação para entrar na puberdade. Morgan, por exemplo, havia morrido afogado quando menor e foi substituído para que seus pais pudessem continuar a vida “normalmente“. Uma das maiores “trapaças” (no bom sentido) do filme é justamente não oferecer dicas claras sobre esse desfecho. Talvez o único indício seja a trilha sonora, com sintetizadores e tons que destoam nas cenas, e soam mais adequados a um sci fi, do que a um slasher.

Em resumo, Marshmallow é uma produção que, considerando e aceitando suas limitações, funciona razoavelmente bem, quase como um episódio estendido de Black Mirror. Arrisco-me a dizer que o filme mereceria uma refilmagem com orçamento maior e nas mãos de um diretor mais experiente. Seria, com certeza, um sucesso.

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