![]() Tubarão 3
Original:Jaws 3-D
Ano:1983•País:EUA Direção:Joe Alves Roteiro:Richard Matheson, Carl Gottlieb, Guerdon Trueblood, Michael Kane Produção:Rupert Hitzig Elenco:Dennis Quaid, Bess Armstrong, Simon MacCorkindale, Louis Gossett Jr., John Putch, Lea Thompson, P.H. Moriarty, Lisa Maurer, Kaye Stevens, Rich Valliere, Alonzo Ward |
Há algo de muito perigoso nos mares de Hollywood quando se nota a necessidade de expor mais uma mandíbula gigantesca na mais improvável das continuações do absoluto Tubarão (Jaws, 1975). E o que mais assusta não é a intenção em desenvolver uma franquia com tubarões-brancos assassinos, nem o uso da tecnologia 3-D em pauta em outras terceiras partes (Sexta-Feira 13 – Parte 3 e Amityville 3), mas ver o nome do roteirista Richard Matheson envolvido nisso. O multi criativo redator tem o nome associado ao fantástico desde a década de 50, a partir do roteiro de obras como O Incrível Homem que Encolheu (1957), O Poço e o Pêndulo (1961), Mortos que Matam (1964), As Bodas de Satã (1968), A Casa da Noite Eterna (1973), episódios das clássicas séries Além da Imaginação (1959-1964) e Histórias Fantásticas (1973-1974) e tantas outras produções de respeito, sendo Tubarão 3 (Jaws 3-D, 1983) seu principal desvio de percurso.
Em entrevistas na época, quando Steven Spielberg fez uma ameaça de nunca mais trabalhar com a Universal se tivesse que se envolver nisso e Roy Scheider disse que nem Mefistófeles o faria participar dessa sequência, Matheson defendeu sua escrita, acusando alterações no esboço e a deficiência técnica do diretor Joe Alves, que atuou como designer de produção dos dois primeiros filmes, como responsáveis pelo insucesso do trabalho. O roteirista também afirmou que foi fortemente influenciado a acrescentar os filhos de Martin Brody no enredo para estabelecer uma conexão com os filmes anteriores, além do envolvimento de Carl Gottlieb, a partir de um argumento de Guerdon Trueblood, na escrita.
De toda forma, não é possível enxergar Matheson em qualquer linha de um filme puramente comercial, explorando o parque SeaWorld Orlando, e os efeitos em três dimensões em que atiram partes humanas e até cabeça de peixe na direção da tela. Até mesmo Dennis Quaid deixou sua justificativa para ter feito parte desse projeto: estava “cheirado de cocaína” em todas as suas cenas, não tendo atuado uma vez sequer sóbrio. Além dele, o longa destaca a participação de Louis Gossett Jr., Simon MacCorkindale e Lea Thompson, e os dois simpáticos golfinhos Cindy e Sandy indicados pela estreia no 4º Prêmio Framboesa de Ouro. Matheson e Joe Alves também receberam nomeações, mas perderam para A Mulher Só (The Lonely Lady, 1983), de Peter Sasdy, que concorreu a onze “prêmios“.
Anos depois dos acontecimentos de Tubarão 2, Mike Brody (Quaid) está longe da ilha Amity, atuando como engenheiro-chefe do SeaWorld, em vias de inauguração. A estrutura promete entretenimento aos visitantes com shows de golfinhos nas piscinas, acrobacias com esqui na água, espetáculos de música, passeios por túneis subaquáticos e a ameaça de dois tubarões, uma mãe de dez metros e seu filhote. Mike é auxiliado pela namorada bióloga Kay Morgan (a risonha Bess Armstrong), e tem no local o apoio de seu traumatizado irmão Sean (John Putch) e a paquera Kelly (Thompson).
Os esquiadores são seguidos por tubarões-brancos, e o gerente do parque, Calvin Bouchard (Gossett Jr.), acredita na eficiência do aventureiro Philip FitzRoyce (MacCorkindale) para impedir o acesso dos animais. Contudo, acontecem alguns desaparecimentos e corpos são encontrados, principalmente no dia da inauguração, quando Bouchard teve a “genial ideia” de capturar o tubarão para usá-lo nas apresentações – é uma versão alternativa do prefeito preocupado com o turismo. Como em Westworld e no vindouro Jurassic Park, logo o público entrará em desespero em um parque descontrolado, com a ameaça da mamãe tubarão, tendo um grupo ilhado nos túneis e necessitando de uma ação para impedir mais mortes.
Como o filme foi rodado em 3-D, específico para o cinema, ver Tubarão 3 na televisão é como abrir os olhos numa piscina cheia de cloro. Os efeitos especiais são horríveis, deixando as coisas jogadas na tela com um áurea prateada e artificial, destacando a cena do ataque do tubarão à central de comando: a criatura vem lentamente se aproximando, e o elenco, incluindo um Dennis Quaid cheirado, é visto em câmera lenta com expressão de desespero. Apesar de algumas sequências mais agitadas, quando o parque é obrigado a esvaziar pela aproximação do tubarão, pouca coisa acontece que valha a pena assistir, extraindo todo o suspense que foi essencial para o sucesso dos dois primeiros filmes. A própria música-tema de Tubarão é pouco e mal utilizada, dando ao longa o aspecto de um filme de tubarão ruim feito hoje em dia.
O fiasco de Tubarão 3 se confirmou nas bilheterias e na crítica da época. Há um ou outro que viu alguma diversão ali, mesmo que ainda avalie o longa como desnecessário e mal realizado. O longa é uma tragédia cinematográfica, mostrando-se como a pior parte 3 de uma franquia em todos os tempos, incluindo Superman III e até Natal Sangrento. Spielberg esteve certo em se afastar de qualquer envolvimento, assim como Scheider. Consigo imaginá-los gritando para Matheson sair da água para proteger sua filmografia de um filme tão ruim quanto Tubarão 3.