![]() A Sétima Alma
Original:My Soul to Take
Ano:2010•País:EUA Direção:Wes Craven Roteiro:Wes Craven Produção:Wes Craven, Iya Labunka, Brent Paxton Elenco:Max Thieriot, John Magaro, Denzel Whitaker, Zena Grey, Nick Lashaway, Paulina Olszynski, Jeremy Chu Emily Meade, Raúl Esparza, Jessica Hecht |
Colocar em pauta a filmografia de Wes Craven pode elevar o ânimo dos debatedores. Que o cineasta é um dos mais reconhecidos diretores de horror contemporâneo, isso é indiscutível. Não exista hoje no mundo um fã do gênero que não tenha tropeçado em seus slashers, sejam os da franquia A Hora do Pesadelo ou do assassino Ghostface; e para os mais calejados, o pesadelo da comemoração de um aniversário ou uma viagem pelo deserto, com olhares de intrusos canibais, também deve ser enaltecido. Entre acertos, há desvios de rota, como na sua última fase como diretor, quando se perdeu em propostas como Amaldiçoados (Cursed, 2005) e este terror teen A Sétima Alma (My Soul to Take, 2010).
Assim como o pavoroso e renegado Quadrilha de Sádicos 2 (The Hills Have Eyes Part II, 1986), o filme tem direção e roteiro de Wes Craven, sem intervenção de Kevin Williamson ou parte de alguma adaptação. Isto é, o diretor esteve envolvido em todo processo criativo no desenvolvimento do filme. A diferença é que Quadrilha de Sádicos 2 foi prejudicado pela edição e cortes orçamentários, além da cabeça de Craven estar totalmente dedicada ao assassino dos pesadelos. No caso de A Sétima Alma, a diferença está na relação com o diretor, desta vez orgulhoso pelo trabalho desenvolvido, como disse em entrevista: “Quando você faz um filme como My Soul to Take e as pessoas acham que é uma porcaria, isso dói. Trabalhamos muito nisso e é um bom filme, mas você continua.”
Está bem distante de ser um bom filme, infelizmente. Nota-se a intenção do diretor de apresentar mais um slasher de mistério, propondo ao espectador descobrir a identidade de um assassino mascarado. Como já tinha feito no filme de lobisomem, Craven quis relacionar seu mistério teen ao sobrenatural, com o envolvimento de subgêneros como possessão e de temáticas como bullying e doenças mentais. Falhou em absolutamente tudo: um slasher de mortes que não empolgam, personagens sem o menor carisma e uma narrativa cheia de clichês e lugares-comuns.
Uma noite comum em família, com a esposa Sarah (Alexandra Wilson) grávida, Abel Plenkov (Raúl Esparza) ouve o noticiário infomando sobre um novo ataque do assassino em série conhecido como “o estripador de Riverton“. Sofrendo de transtorno dissociativo de identidade, ele tem flashes que mostram que ele mesmo possa ser o tal assassino, confirmado quando telefona para seu psiquiatra, Dr.Blake (Harris Yulin), antes de notar que acabara de assassinar sua esposa. Com a chegada do psiquiatra e a polícia, a tragédia se amplia com troca de tiros, morte do médico e de um policial, antes do assassino ser abatido e levado ainda vivo na ambulância, deixando para trás sua filha pequena Leah (Courtney Stow). No percurso ao hospital, o paramédico sugere que Plenkov possa ser uma vítima de sua doença por “abrigar múltiplas almas“, incluindo a do estripador. Com o despertar do assassino, o carro tomba e se incendeia, sem que seu corpo seja encontrado.
Dezesseis anos depois, sete crianças que nasceram no dia da tragédia são apelidadas de “os sete de Riverton“: o deficiente visual Jerome King (Denzel Whitaker), o agitador Alex Dunkelman (John Magaro), Jay Chan (Jeremy Chu), o problemático Adam “Bug” Hellerman (Max Thieriot), a extremamente religiosa Penelope Bryte (Zena Grey), a cobiçada Brittany Cunningham (Paulina Olszynski) e o encrenqueiro Brandon O’Neil (Nick Lashaway). Na comemoração do aniversário de todos, eles se reúnem numa clareira e fazem um ritual de Judas, matando simbolicamente um boneco representando o estripador – uma desculpa para a apresentação da máscara.
Com a chegada da polícia e dispersão dos jovens, logo Jay é assassinado pela figura mascarada, com o corpo atirado de uma ponte. Os demais convivem com suas situações escolares, apresentação de trabalho, e interesses particulares: Penelope gosta de Bug, que é fissurado em Brittany, e ouve conselhos ruins de Alex, corrompendo-o contra a líder da escola, a popular Fang (Emily Meade), que guarda um segredo sobre o passado, numa das surpresas bocejantes do roteiro. Brittany é atormentada pelo tarado sexual Brandon, na constante insistência de receber um sexo oral, e este exerce bullying contra Bug e Alex, que ainda precisa aturar Quint (Lou Sumrall), seu padrasto violento.
Todas essas relações não importam quando o assassino entrar em ação. Para tentar conduzir o espectador para uma expectativa, Bug também sofre de problemas de identidade dissociativa, muitas vezes dialogando consigo mesmo como se fossem os demais dos sete de Riverton depois de mortos. E ainda é obrigado a ouvir boatos sobre já ter matado alguém e ter feito acompanhamento psiquiátrico. São elementos que não servem para o terceiro ato, apenas afastam o público de uma identificação. Se não há empatia, não há preocupação com o seu destino.
A Sétima Alma é bem ruinzinho mesmo, e pode-se culpar todos os envolvidos, do elenco à direção. Mesmo que Wes Craven tenha gostado de fazê-lo, um ano depois ele rapidamente lançaria um sucesso para abafar seu erro: Pânico 4 (Scream 4, 2011), seu último filme como diretor, falecendo quatro anos depois. A tentativa de criar uma nova franquia não deu certo, e ele teve que se render à refilmagem de A Hora do Pesadelo, lançada no mesmo ano, e a volta ao slasher paródia. Assim, A Sétima Alma se une a outros percalços de um diretor que soube criar pesadelos e brincar com o subgênero, mas não devia ter se afastado disso.