![]() Ameaça no Ar
Original:Flight Risk
Ano:2025•País:EUA Direção:Mel Gibson Roteiro:Jared Rosenberg Produção:Bruce Davey, John Davis, John Fox, Mel Gibson Elenco:Michelle Dockery, Mark Wahlberg, Topher Grace, Leah Remini, Maaz Ali, Paul Ben-Victor, Eilise Patton, Savanah Joeckel |
Há algo muito errado no ar quando você percebe que o piloto de Ameaça no Ar (Flight Risk, 2025) é Mel Gibson. Quando surge o nome dos astro de Hollywood e que seguiu carreira como diretor de A Paixão de Cristo (2004), Apocalypto (2006) e Até o Último Homem (2016), você rapidamente recorre a fontes na internet para buscar um possível homônimo, talvez um Mel Gibson (II). E é ele mesmo. O ator que ficou marcado pelos personagens vingativos insanos e que estrelou produções de primeiro calibre, resolveu assumir o comando de um thriller convencional e amplamente irritante.
Não é de estranhar que este seja o primeiro filme que não estampe em letras garrafais seu nome no cartaz. E ainda tente vendê-lo pela presença de Mark Wahlberg como um assassino sem nome e a tagline “Nenhum lugar para pousar. Ninguém para confiar” – a original é ainda pior: “Vocês precisam de um piloto?” Na verdade, precisamos de um bom roteiro; este de Jared Rosenberg estava estranhamente desde 2020 na lista das “boas ideais ainda não filmadas” -, um enredo que traga doses grandiosas de suspense ou como um thriller claustrofóbico. Até mesmo o fantasioso Pesadelo nas Alturas (Horizon Line, 2020) conseguiu proporcionar momentos mais divertidos que os vistos aqui!
A agente Madolyn Harris (Michelle Dockery, que esteve em um thriller aéreo muito melhor em 2014, em Sem Escalas), acaba de prender em um hotelzinho no Alasca o contador Winston (Topher Grace, de Interestelar, 2014), disposto a testemunhar contra os criminosos da família Moretti. A polícia freta um avião de pequeno porte com destino à cidade de Anchorage, um ponto de acesso para Nova York. A bordo, além de Madolyn e Winston, está o piloto Daryl Booth (Wahlberg), um texano que mora no Alasca e aparenta simpatia e um estilo interiorano, com o estereótipo do sotaque e trejeitos.
Daryl informa que a região e a necessidade de reparos impossibilitam que a nave tenha GPS e rádio, mas está bastante acostumado com o trajeto na realização de outros voos. Mesmo sabendo que possui um “pacote” importante a bordo, Madolyn não pede identificação do piloto, assim como o próprio nem sequer se preocupou em procurar no avião algum crachá ou a licença que mostre uma foto grande do verdadeiro Daryl – sim, essas falhas passaram pelo roteiro e o olhar atento de Gibson. Não de Winston. Algemado em um banco atrás do piloto, ele tenta chamar a atenção de Madolyn até que finalmente seja revelado que o avião está sendo conduzido por um sádico assassino calvo.
Não faz diferença Wahlberg ter raspado a cabeça, e nem a tal “revelação“, pois ambos são mostrados no trailer. Aliás, a prévia já mostrava alguns confrontos no ar e as principais cenas de tensão do filme. Todas se resolvem facilmente, tanto que o vilão tem poucas falas na produção, passando boa parte dele inconsciente ou algemado fazendo ameaças. É provável que as ofensas de Daryl tenham motivado a distribuidora pelo título nacional porque não tem nada além de ameaças e a tentativa facilitada de Madolyn de tentar conduzir um avião que tem piloto automático e sempre alguém disposto a ajudar no rádio ou no telefone via satélite.
Rosenberg tenta fazer jus à tagline nacional, quando, em comunicação com seu chefe e colega de trabalho, Madolyn percebe que existe alguém dos Moretti infiltrado na agência. Também não faz grande diferença além de uma cena óbvia no ato final, a apresentação de um outro assassino da maneira mais estereotipada do cinema: alguém com expressão de ódio e com um saco na mão, sem paciência para esperar um momento melhor para agir.
Tentei ver Ameaça no Ar nos cinemas, mas desisti pelas sessões dubladas oferecidas e horários complicados. Esperei chegar ao streaming até descobrir que o Prime trocou a legenda em português pela espanhol no meio do filme, além do áudio atrasado. De toda forma, eram prenúncios de que Mel Gibson não teria muito a oferecer além de uma produção sem empolgação, sem personalidade. Ameaça no Ar traz um voo arriscado para quem espera mais um bom trabalho do diretor do sangrento A Paixão de Cristo. Nem mesmo a atuação insana de Wahlberg, bastante elogiada por aí, merece que você suba a bordo.