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A Própria Carne
Original:A Própria Carne
Ano:2025•País:Brasil
Direção:Ian Sbf
Roteiro:Ian Sbf, Alexandre Ottoni, Deive Pazos
Produção:Carolina Alves, Alexandre Ottoni, Deive Pazos, Ian Sbf
Elenco:Pierre Baitelli, Camillo Borges, Jorge Guerreiro, Eber Inacio, Jade Mascarenhas, Daniel Moragas, Luiz Carlos Persy, George Sauma, Frederico Vasques

Considerado um dos conflitos mais letais da América Latina, a Guerra do Paraguai, ocorrida entre 1864 e 1870, vitimou cerca de 50 mil brasileiros, mais da metade da população masculina do Paraguai, além de um grande número de argentinos e uruguaios. É uma das representações mais sangrentas da História do Brasil, um horror que dialoga de maneira orgânica com o longa A Própria Carne, de Ian Sbf, que está chegando hoje aos cinemas brasileiros e é a melhor produção fantástica nacional de 2025.

Quando o gênero é envolto em um contexto real, já é motivo de aplausos. Já se sabe que não se trata de uma produção engessada em subgêneros e que haverá uma imersão do infernauta a uma época, conhecida apenas em livros de História e em filmes de ficção dramática, guerra e documentários. Também se deve levar em consideração – e tive a oportunidade de perguntar ao próprio diretor – a identidade brasileira do cinema nacional. O cinema de horror tem uma estrutura pré-estabelecida pela enxurrada de produções hollywoodianas e de países que também seguem um formato já visto á exaustão, mas cineastas como José Mojica Marins e mais recentemente Rodrigo Aragão procuraram se esquivar de sustos fáceis e dos lugares-comuns. Horror é um terreno novo para Ian, assim como os realizadores do Jovem Nerd, e a intenção foi realmente buscar algo próprio, nacional, e com personalidade.

O diretor chegou a mencionar a atmosfera de A Bruxa como inspiração para a paleta acinzentada e a sensação constante de insegurança. Realmente, a jornada dos três soldados desertores, Gustavo (Jorge Guerreiro), Gabriel (Pierre Baitelli) e Anselmo (George Sauma), pelo sul do país, é envolta em sangue, morte e pessimismo. Com Gustavo ferido, eles batem à porta de uma residência rural, perdida na mata densa, em busca de abrigo, sendo recebidos por um velho fazendeiro (o excepcional Luiz Carlos Persy) e uma moça (Jade Mascarenhas). Escondendo que são soldados, eles se sentem intimidados a todo momento pelo proprietário, que utiliza uma arma como bengala e impõe um interrogatório sobre quem são e o que realmente estão fazendo ali, sugerindo que a perna de Gustavo seja cortada para evitar infecção e trancando-os durante a noite.

Para os três soldados, oriundos dos horrores da guerra, acostumados a corpos destroçados em valas, a permanência ali não parece tão segura. Inimigos parecem espreitar na mata, é possível ouvir sons de tiros e explosões sem que eles saibam a origem, e o fazendeiro se mostra inteligente e ameaçador. Uma sensação aterrorizante de claustrofobia se mistura com as incertezas e o medo, antes do horror psicológico chegar à carne e os mistérios que envolvem o enredo de Deive Pazos, Alexandre Ottoni e Sbf finalmente se tornarem visíveis com o fim da névoa densa que circunda a morada.

Sem se aprofundar no passado dos personagens, com apenas alguns flashes do pesadelo vivenciado por Gustavo, fugido de um senhor de escravos, A Própria Carne propõe um inferno visceral, de tortura e violência, com algumas doses de grafismo e horror cósmico. Com poucos diálogos e uma fotografia belíssima de Vinicius Brum, Ian Sbf coloca o espectador como um visitante da fazenda, alguém que resistiu aos terrores da guerra para descobrir que “está morto desde o momento em que abandonou o campo de batalha“.

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