![]() Hoje é um Belo Dia para Matar
Original:Beneath the Trees Where Nobody Sees Ano:2025•País:EUA Páginas:160• Autor:Patrick Horvath•Editora: DarkSide Books |

Não há nada como a sensação de união e segurança que uma comunidade pequena oferece. Todos se conhecem, todos se ajudam, e o maior trabalho da força policial é ter que dar ocasionais multas de trânsito e ajudar senhorinhas a atravessarem a rua. Por outro lado, quando algo mais sério acontece, todos ficam sabendo e vira o acontecimento do ano. Uma separação, uma traição, um escândalo na mercearia que seja já é o suficiente para ganhar proporções épicas. Imagine então um assassinato?! Definitivamente cidades pequenas não são bons lugares para serial killers. Ou será que são? Patrick Horvath nos mostra que é perfeitamente possível ser a pessoa mais querida da cidade e uma assassina ao mesmo tempo no quadrinho Hoje é um Belo Dia para Matar, publicado pela DarkSide Books e Macabra.
Bosque do Riacho é uma pequena, pacata e amigável cidade, onde todos seus habitantes vivem em perfeita harmonia. A ursinha Sam – sim, todos os moradores são animais, e agem como uma sociedade organizada – é uma das moradoras mais queridas e confiáveis do lugar, mas ela esconde um terrível segredo: na verdade, Sam é uma serial killer. Nossa adorável assassina segue algumas regras para conseguir saciar sua sede de sangue sem nunca ser descoberta, que são deixar tudo sempre limpo e organizado e, a principal delas, nunca matar os locais. Para isso, Sam vai até a cidade grande, afinal, ninguém se importa com o que acontece num lugar tão caótico. Tudo vai muito bem, até que outro assassino aparece e coloca em risco os cidadãos de Bosque do Riacho, a reputação impecável de Sam e seu território. É sua missão descobrir quem está por trás dos brutais assassinatos dos locais antes que seu próprio segredo seja revelado e tudo que ela construiu cuidadosamente em todos esses anos desmorone.
Ao longo das páginas vemos a dinâmica dos habitantes, a rotina de Sam e como ninguém desconfia de seu “hobby” secreto. A ursinha é dona de uma loja de utilidades e sempre é extremamente prestativa, aquela pessoa que todos podem contar. Logo no começo é mostrado como ela é metódica em tudo que faz, e isso inclui seus assassinatos. Ela sempre carrega consigo sacos plásticos e materiais de limpeza, sempre cuidando para não deixar uma gota de sangue sequer passar.
Patrick Horvath recria toda a ambientação de cidade pequena em detalhes, e o fato de serem animais agindo civilizadamente, logo ao lado de uma floresta, faz com que o quadrinho ganhe um toque de humor ímpar. Por exemplo, há um açougue na cidade que vende bacon e outras carnes, e a porquinha passa em frente todos os dias. Alguns moradores têm animais domésticos, como cachorros, enquanto o xerife da cidade é justamente um cão. Os habitantes estão sempre vestidos, mas na floresta há ursos e outros animais vivendo de forma selvagem – ou seja, andam em quatro patas, não usam roupas, não falam e caçam para sobreviver. Isso faz com que o leitor faça reflexões interessantes. Sam mata para saciar uma incontrolável sede de sangue, para se sentir no controle, por que o urso que obedece aos seus instintos e caça para se alimentar é tido como selvagem e ela não? Ela precisa reprimir sua verdadeira natureza de predadora natural para fazer parte da sociedade. Inclusive, é interessante notar que há bodes, ratos, cachorros, porcos, coelhos e aves vivendo em Bosque do Riacho, mas a única que seria – e é – de fato uma predadora letal que poderia pôr qualquer um deles em risco ali é Sam. Ela pode ser a mais confiável da cidade, mas até que ponto? Quando uma morte acontece, quem seria o primeiro a ser investigado? É com essa consciência que Sam precisa ir atrás do desleixado assassino. Afinal, a cidade é pequena demais para dois predadores, e ninguém mexe com a sua área.
Conforme a desconfiança e a tensão crescem, a hipocrisia dos habitantes fica escancarada. Preconceitos e fofocas vêm à tona, mostrando que morar em um local pequeno onde todos se conhecem tem muitos pontos negativos. No menor passo em falso, em um piscar de olhos, sua reputação pode ser destruída para sempre.

Além de uma protagonista muito carismática, a arte – que, assim como o roteiro, também é assinada por Horvath – é outro grande ponto alto do quadrinho, contrastando diretamente com sua história. Por um lado, temos bichinhos fofos e adoráveis desenhados em tons pastéis, remetendo a desenhos infantis; por outro, temos cenas gráficas e viscerais dos assassinatos brutais que acontecem. É um banho de sangue muito cativante, o que torna tudo ainda mais macabro e, ao mesmo tempo, envolvente. Não é à toa ganhou o prêmio Harvey Awards 2025 na categoria de Quadrinho do Ano e foi indicado na categoria de Melhor Nova Série no Eisner Awards 2025.
Hoje é um Belo Dia para Matar é uma história que subverte expectativas, macabra e adorável ao mesmo tempo, que combina brutalidade e fofura muito bem. É quase um encontro dos universos do seriado Dexter e do desenho infantil O Pequeno Urso. Venha você também conhecer os segredos de Bosque do Riacho e seus adoráveis – letais, e nem tão inocentes – habitantes!





















