| Banda:Candlemass
Ano:2019•País:Suécia Álbum:The Door to Doom Estilo:heavy/doom metal Selo:Napalm Records |
The Door to Doom é um álbum marcante na trajetória do Candlemass. Depois de 7 anos sem incluir um full length inédito na discografia, o quinteto sueco foi para o estúdio e gravou um grande disco de heavy metal, bem produzido, com execução impecável e composições criativas, usando e abusando da experiência adquirida nos quase 40 anos de uma carreira invejável. Mas mesmo sendo responsável por um dos melhores álbuns de heavy metal do ano, o Candlemass de 2019 não foi bem aceito por todos os fãs…
Quando os sites de notícias anunciaram a gravação de um novo álbum dos gigantes do doom e que esse trabalho seria marcado pela volta do vocalista Johann Längqvist depois de 33 anos, os fãs mais assíduos criaram a expectativa de um grande clássico contemporâneo, que celebraria o retorno da banda às raízes do estilo. E a euforia pelo “novo old school” ficou mais intensa quando a capa de The Door to Doom foi divulgada, com uma inegável referência à capa do clássico Epicus Doomicus Metallicus, primeiro disco do Candlemass. Porém, os elementos que remetem às raízes do doom param por aí. The Door to Doom é um excelente álbum de heavy metal, muito bom de ser escutado, mas passou longe de resgatar o doom melancólico e profundo que marcou a primeira fase da banda.
Os primeiros anos da trajetória do Candlemass impressionam pelo volume de materiais inéditos que eles gravaram, principalmente se levarmos em consideração a complexidade que envolve a composição do estilo doom metal. Depois do debut Epicus Doomicus Metallicus, lançado em 1986, eles mantiveram o ritmo de um disco inédito por ano, seguindo com Nightfall (1987), Ancient Dreams (1988) e Tales of Creation (1989), sendo os três últimos com Messiah Marcolin, considerado o melhor vocalista da banda por uma grande parcela dos fãs. Com essa sequência invejável, não demorou para que o Candlemass fosse reconhecido mundialmente como uma das bandas de doom mais icônicas de todos os tempos.
E como se não bastasse a avalanche de opiniões reverenciando o Candlemass como os grandes mestres do doom metal, a banda faz questão de fomentar essa posição usando o termo “doom” em 10 dos 40 itens que compõem a discografia, incluindo os discos de estúdio, ao vivo, EPs, coletâneas, singles e DVDs. Além do debut Epicus Doomicus Metallicus (1986) e do full length mais recente The Door to Doom (2019), completam a lista o álbum de estúdio Death Magic Doom (2009), os ao vivo Doomed for Live – Reunion 2002 e Epicus Doomicus Metallicus – Live at Roadburn 2011 – 2013, as coletâneas Diamonds of Doom (2003), Essential Doom (2004) e Behind the Wall of Doom (2016), o single Hammer of Doom (2009) e o DVD Documents of Doom (2002).
A primeira música de The Door to Doom é Splendor Demon Majesty, uma das composições mais completas do disco, que impressiona pela rica linha vocal, alternando notas graves e agudas de forma criativa. Logo na primeira música já podemos perceber que Längqvist retornou à banda em grande estilo e continua desempenhando muito bem a função de vocalista. Under The Ocean, segunda música do álbum, única faixa marcada com a advertência “conteúdo explícito” no Spotify, nos alerta para uma invasão iminente de milhares de mortos vivos vindos do fundo do mar, alternando dedilhados leves com uma levada infernal que mais parece uma marcha para o inferno. E completando a trinca das músicas iniciais, a épica Astorolus – The Great Octopus, que começa com um riff matador seguido de uma base lenta e sombria no melhor estilo Black Sabbath (entidade do heavy metal na qual o Candlemass se inspirou), incluindo a participação especialíssima do próprio Tony Iommi, que abençoou a banda com um solo de guitarra. O clipe de Astorolus – The Great Octopus pode ser assistido no canal oficial da Napalm Records no youtube
Outra música que merece destaque é a balada Bridge Of The Blind, uma canção intensa e amarga que nos leva a um lugar sombrio e tomado pela melancolia. A aura depressiva dessa música é de jogar qualquer um para o fundo do poço. Apesar de ser a faixa mais curta do disco e apresentar um formato de composição relativamente simples, Bridge Of The Blind é uma obra que consegue mostrar a que veio, apresentando uma melodia impecável e bem construída, com tempo de sobra para Lars Johansson fazer um solo de guitarra sensacional.
Cortando abruptamente a harmonia de Bridge Of The Blind, Death’s Whell começa com uma base interessante, apresentando uma boa progressão no primeiro minuto, seguida de uma levada no melhor estilo heavy/doom, que valoriza os graves a cada palhetada. Nessa música há uma passagem desconexa e incômoda que se repete algumas vezes nos quase 7 minutos da faixa, mas no geral é uma boa composição de se escutar. O destaque de Death’s Whell vai para um arranjo ardido e distorcido que surge na segunda metade da música, provavelmente concebido por um fuzz fritando na guitarra, criando um clima maligno e agonizante. Black Trinity, sexta música de The Door to Doom, é o ponto baixo do disco. O clima sombrio da introdução nos prepara para uma jornada apocalíptica entre nuvens sombrias, mas infelizmente não é o que acontece. O que a banda apresenta nessa faixa é uma composição sem identidade, alternando bases sem sal, e segue dessa forma até o final dos seus longos 6 minutos. Em alguns pontos, Black Trinity lembra a fase arroz com feijão do Deep Purple com Ian Gillian, porém em uma versão mais distorcida. O melhor a se fazer é pular para a próxima música.
De volta ao verdadeiro Candlemass, a penúltima faixa House Of Doom faz uma referência (ou reverência, como preferir) ao cinquentenário homônimo e primogênito do Black Sabbath, recriando a introdução clássica com sinos e trovões. Além dessa homenagem aos criadores do heavy metal, House Of Doom segue com uma sequência de acordes que lembra Children of the Grave, também do Black Sabbath, firmando ainda mais a influência do quarteto de Birmingham na obra do quinteto sueco. A música segue com essa base até o refrão (Welcome to the house of doom / A church of evil, a labyrinth of rooms / We are the children of the moon / We keep the dark alive in the house of doom), trecho que se destaca no disco. Se a intenção da banda foi criar um lema definitivo para o doom metal contemporâneo, esse refrão é um forte candidato ao título. E encerrando com chave de ouro, nos minutos finais os músicos apresentam uma sonoridade densa e apocalíptica com uma pegada cadenciada, acompanhada de sinos demoníacos, que sucumbe gradativamente até o silêncio absoluto em um fade out sem pressa de acabar. E com a responsabilidade de nos entreter mais 7 minutos depois da épica House Of Doom, a última música The Omega Circle apresenta uma versatilidade interessante alternando trechos suaves e pesados. Seus pontos altos são o solo com wah-wah e o final instrumental com um phaser impregnado na guitarra. No geral, The Omega Circle é uma boa faixa e encerra o disco com dignidade.
Em uma entrevista cedida ao site Metal Hammer de Portugal em agosto de 2019, o entrevistador perguntou a opinião do baixista Leif Edling (fundador, líder e principal compositor do Candlemass) sobre a avalanche de bandas de stoner/doom que surgiram nos últimos tempos. Ele respondeu que tem “ciúmes” da energia da nova geração e que se sente velho quando conversa com músicos contemporâneos, mas Leif Edling não tem motivos para se sentir assim. Em pleno 2019, do alto dos seus quase 40 anos de carreira liderando o glorioso Candlemass, ele compôs mais um grande disco digno de fazer parte da sua vasta discografia e esse feito é para poucos. Os fãs agradecem. A banda segue na turnê de divulgação de The Door To Doom e tem shows agendados até julho de 2020.
Esse álbum é simplesmente o melhor da carreira deles e ainda conta com o guitarrista do Brack sabbath eu daria 5 estrelas o disco é perfeito. E só pra complementar dia 27 agora eles vão lançar o novo Ep e o Testament o novo álbum dia 3 de abril faz uma resenha dos dois fica a dica!✌
Melhor da carreira deles? Sendo que isso indica ser melhor que o excelente Nightfall e o clássico absoluto Epicus…
Acho quase impossível, mas me deixou curioso, vou ouvir agora mesmo.
Que legal que o Boca do Inferno está fazendo review de música também. Tem muita coisa de horror em rock. Meu site querido é tão completo!
Ótima matéria!
Continuem com as resenhas/críticas sobre heavy metal!