HUTT – Maldicto (2019)

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Banda:HUTT
Ano:2019•País:Brasil
Álbum:Maldicto
Estilo:Grindcore
Selo:Black Hole Productions

Quer saber a sensação de escutar o álbum Maldicto? Beba alguns litros do melhor energético, compre um ticket para a maior montanha russa do mundo, sente no banco da frente do primeiro carrinho e permaneça nos trilhos por 18 minutos na velocidade máxima. Depois de muitos loopings e shuttles com a cabeça explodindo de adrenalina, a sensação será a mesma de ouvir o novo full lenght do HUTT na íntegra. A euforia que o quarteto paulista transmite com a sonoridade presente em cada uma das 31 faixas de Maldicto é digna de tirar o fôlego até dos ouvidos mais “calejados” de blast, uma vez que a agressividade se mantém firme e forte do primeiro ao último minuto do disco.

A experiência de conhecer a obra Maldicto começa com o impacto causado pela capa do CD, que traz uma ilustração do artista John Ridgway, publicada originalmente na HQ John Constantine (Hellblazer – Origens Vol. 1: Pecados Originais). A arte escolhida para estampar o disco é uma síntese do som grotesco (no melhor sentido) do HUTT em uma imagem que exala sujeira, medo, violência e outros elementos presentes no submundo dos grandes centros urbanos. Imundície pura. Essa cena da série Hellblazer é um retrato vertiginoso e sólido da degradação humana e acerta como cartão de visitas do álbum, já que o tema é abordado em várias letras. Além do traço de John Ridgway na imagem da capa, o encarte do CD é recheado com outras ilustrações da HQ A Saga do Monstro do Pântano em um tom verde escuro sombrio que dá um efeito interessante no acabamento. Mais uma vez, a usina de putrefações sonoras Black Hole Productions acertou na apresentação visual de um lançamento. Esse é um item que merece destaque na estante dos colecionadores do estilo.

Assim como as HQs, as referências ao cinema de horror também estão presentes em Maldicto. A primeira faixa, Et Sub Me, tem um trecho do filme O Segredo da Múmia (Ivan Cardoso) como introdução e abre o disco com o lamento “Miseráveis! Miseráveis! Elas me ludibriaram! Iludiram a minha boa fé!” proferido pelo personagem Expedito Vitus, interpretado por Wilson Grey. Além de Et Sub Me, outras músicas apresentam trechos de filmes na introdução, como Quarta Corda Quinta Casa (filme A Mulher de Todos, do diretor Rogério Sganzerla), Rua da Amargura 666 (do curta Ivan, de Fernando Rick) e Witchfinder Genival (do filme Witchfinder General, de Michael Reeves). No caso desta última, o título é uma junção zoada do filme clássico de 1968 com o figurão Genival Lacerda.

A densa massa sonora apresentada pelo HUTT em Maldicto impressiona pela velocidade e variedade na criação. Mesmo sendo um disco com 31 faixas executadas em 18 minutos, o que pode parecer pouco tempo para muitas músicas, o álbum é bem trabalhado e traz composições autênticas e marcantes. As passagens de guitarra são criativas, a variação vocal faz as vezes na “assinatura” da banda e os blasts são incrivelmente precisos, rápidos e brutais. A junção desses elementos, aliada a uma boa produção, resultou em um dos melhores discos de grindcore lançados no ano passado.

Com tantas faixas disponíveis, fica difícil destacar algumas, mas quatro petardos chamam a atenção em Maldicto. Rua da Amargura 666, a mais extensa do disco, tem uma pegada hardcore demolidora digna de levantar os defuntos do cemitério mais próximo e atraí-los para o mosh. Infelizmente Fim é uma tijolada curta e grossa que começa fritando no blast e merece ser escutada no repeat até sangrar os ouvidos. Outra faixa destaque é Diabão, que apresenta um riff death/grind interessante com palhetada abafada e final abrupto. A última música do álbum, Et Sub Me II, é composta pelo riff mais poderoso do disco e fecha Maldicto com um fade-out que implora para que o disco seja ouvido novamente.

O último full lenght do HUTT é mais uma prova de que o grindcore brasileiro está muito bem representado lá fora. Maldicto é uma obra autêntica, poderosa, criativa, e surpreende a cada faixa tocada. O conteúdo desse disco não é recomendado para ouvidos sensíveis ou que não estão acostumados com blasts insanos, mas é indispensável para os viciados em putrefação sonora.

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Juliano Jacob

Editor do IG Livros Insanos, colunista da Goblin TV e criador do projeto death/doom H.O.R.R.O.R

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