Criaturas 2
Original:Critters 2: The Main Course
Ano:1988•País:EUA Direção:Mick Garris Roteiro:David Twohy, Mick Garris Produção:Barry Opper Elenco:Scott Grimes, Terrence Mann, Liane Alexandra Curtis, Don Keith Opper, Barry Corbin, Tom Hodges, Sam Anderson, Lindsay Parker, Herta Ware, Lin Shaye |
por Marcelo Marchi (@marcelomarchi77)
Em alguns casos, eu costumo ser voto vencido quando se trata de um assunto polêmico: sequências cinematográficas que são melhores do que os filmes que as originaram. Incluo-me na pequena parcela da população mundial que prefere o segundo Máquina Mortífera (Lethal Weapon 2, 1989) ao primeiro e que gosta mais de Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, 1984) do que de Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981). Um dos motivos principais para isso é que sinto que nessas sequências os atores já se encontravam ainda mais à vontade nos personagens que interpretavam, vestindo-os quase como uma segunda pele.
No caso de Criaturas 2 (Critters 2: The Main Course, 1988) isso certamente é verdade: temos Scott Grimes retornando como um Brad Brown mais maduro (mas sem perder sua agradável ingenuidade), Terrence Mann surpreendendo como um Ug cheio de nuances e Don Keith Opper como Charlie – o verdadeiro herói dos dois primeiros filmes – continuando brilhantemente seu arco de personagem pateticamente adorável. E temos também Lin Shaye, figurinha carimbada nos filmes da New Line dessa época, revivendo Sally, não mais a telefonista da delegacia, e sim uma intrépida (pero no mucho) jornalista.
Porém, o que faz a maior diferença em Criaturas 2 se comparado ao primeiro filme é o roteiro, agora nas mãos de David Twohy e Mick Garris, e a direção, também a cargo de Garris, estreando aqui no comando de longas-metragens para depois tornar-se um cineasta importante no gênero terror, principalmente adaptando obras de Stephen King. Twohy e Garris conseguem encontrar o tom perfeito para a saga dos pequenos e mortais invasores alienígenas peludos, aproveitando toda e qualquer oportunidade narrativa de deixar tudo mais divertido, criativo e insano do que no filme anterior. A atenção aos detalhes é louvável, como na cena da transformação do caçador de recompensas Lee (Gregory Patrick) em uma modelo da Playboy (Roxanne Kernohan), com direito ao grampo que prende as páginas da revista aparecendo no meio da sua barriga.
Em Criaturas 2, após os traumáticos incidentes do primeiro filme, Brad (Grimes) retorna à cidadezinha de Grover’s Bend para passar a Páscoa com sua avó (Herta Ware). Em meio ao clima festivo, alguns ovos das criaturas que haviam atacado o local dois anos antes são equivocadamente usados na comemoração. Quando eclodem, libertando filhotes que em pouco tempo tornam-se maiores e ainda mais vorazes, toda a população precisa se unir a fim de tentar sobreviver. Vemos também o hesitante retorno do xerife Harv (Barry Corbin, substituindo M. Emmet Walsh) e dos caçadores de recompensa espaciais, agora tendo Charlie como parte da equipe.
Contando com um milhão de dólares a mais no orçamento, Criaturas 2 expande a ambientação do primeiro filme, concentrada na fazenda Brown, para toda Grover’s Bend, permitindo-nos conhecer melhor a cidade e seus habitantes e gerando aquela sensação calorosa, e ao mesmo tempo tensa, típica dos bons filmes sobre personagens cercados em alguma localidade interiorana. De uma maneira que nem sempre acontece no cinema, Criaturas 2 felizmente se mostra, em todos os sentidos, uma evolução muito bem-vinda do seu antecessor.
Sobre o autor do texto:
Roteirista das séries Boca a Boca (Netflix), Marias (Sony) e Sociedade da Virtude (Max) e do programa Queimando a Língua (Jovem Nerd). É professor da Pós-Graduação em Roteiro Audiovisual do SENAC, além de ministrar os próprios cursos de roteiro para cinema e tv. Estuda o cinema de terror há quase duas décadas e ministrou no MIS em São Paulo os cursos “Desvendando um Subgênero: Slasher Movie” e “25 Anos de A Bruxa de Blair e o Terror Found Footage“