por Michel Goulart da Silva
Stephen King é um dos autores mais importantes da literatura de horror. Criador de clássicos como Carrie, O Iluminado, Cemitério Maldito, It, Misery, entre outras, suas obras alcançaram grande sucesso e muitas ganharam adaptações para cinema e televisão. Uma dessas obras adaptadas foi o romance A Metade Sombria, publicado em 1989. O livro narra a história de um escritor que precisa literalmente enfrentar sua outra (e violenta) metade.
Thad Beaumont era um escritor de bons livros que vendiam pouco. Certa vez, como que por uma inspiração súbita, passou a escrever histórias policiais, criando um personagem extremamente sádico, Alexis Machine. Para publicar esses novos romances, que apresentavam temas obscenos e violentos, Beaumont assumiu o pseudônimo de George Stark.
Beaumont, depois de alguns anos e de publicar muitos livros de sucesso, decidiu literalmente enterrar seu pseudônimo. Poderia, talvez, voltar a se dedicar ao estilo de literatura que mais gostava, ainda que diminuíssem as vendas. Contudo, depois de anunciada a morte e do enterro simbólico de Stark, este ganha forma corpórea e passa a cometer violentos assassinatos. Essa criatura possui as mesmas características de Beaumont, inclusive suas digitais, o que não faz questão nenhuma de ocultar quando comete os assassinatos.
Beaumont, além de proteger a si e a sua família, também precisa enfrentar as acusações de ter cometido os assassinatos. O desenrolar da história mostra Stark perseguindo e assassinando todos aqueles que teriam contribuído para sua “morte”. Beaumont seria a última e mais importante de suas vítimas.
Essa narrativa sobre o duplo é um tema clássico da literatura de horror desde o período gótico, no final do século XVIII. Um dos mais importantes clássicos a tratar desse tema é o sombrio conto “William Wilson”, publicado por Edgar Allan Poe, em 1839. O tema veio a ser explorado na literatura, ao longo dos últimos séculos, por escritores como Robert Louis Stevenson, Fiodor Dostoievski e José Saramago, bem como em obras cinematográficas e televisivas.
O livro A Metade Sombria ganhou uma excelente adaptação para o cinema, em 1993. O filme, dirigido pelo cineasta George Romero, manteve o clima sombrio da obra original, em especial pela caracterização de Stark. O processo de decomposição de seu corpo, por meio do uso de maquiagem e efeitos, é mostrado de forma bastante competente.
A Metade Sombria é uma excelente obra, que reflete sobre questões que passam pelo ato de escrever e como isso pode tanto prender como nos libertar, em especial quando se torna um produto comercial. Possui uma narrativa bastante ágil e criativa, se mostrando como um dos melhores momentos da escrita de Stephen King.